São Paulo, Segunda-feira, 29 de Novembro de 1999


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TEATRO
Atriz vai contracenar com Cláudio Marzo em "Quando o Mundo Era Verde", que estréia em março
Mika Lins monta peça de Sam Shepard

VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha


As frases curtas, elípticas e cruelmente poéticas de Sam Shepard, um dos principais nomes do drama americano nos anos que correm, já têm data marcada para reverberar, mais uma vez, em palcos brasileiros.
"Quando o Mundo Era Verde" -"Fábula de um Cozinheiro", a peça escrita a quatro mãos com Joseph Chaikin- deve estrear no Brasil em março de 2000.
A atriz e produtora Mika Lins, 33, vai contracenar com Cláudio Marzo nos papéis do velho cozinheiro e da jovem jornalista da história.
A direção é de William Pereira ("O Livro do Desassossego"). Quem assina a tradução é Marcos Renaux ("Medeamaterial", "Mary Stuart").
Em sua peça, encenada pela primeira vez em 96, Shepard promove um encontro inusitado e, ao cabo, coerente.Trata-se de uma relação tensa e terna entre uma entrevistadora e um homem de idade condenado à pena de morte.
Ambos vivem em função de suas buscas. Ou perdas. Ela, na vã tentativa de encontrar o pai. Ele, prostrado porque errou o único alvo que perseguia em vida: em vez de matar o primo, envenenou um terceiro sujeito que nada tinha a ver com a vingança que um dia jurou ao pai.
Em oito breves encontros, os personagens não compartilham somente frustrações, mas também reminiscências da infância, que os aproximam pelo fio da memória -apesar do vão de gerações que os separam.
"O texto te ilude, não deixa você saber qual é a relação dos dois. Às vezes parece uma relação de pai e filha, depois insinua um sentimento amoroso, mas aí vem a suspeita de um contra o outro; enfim, a ambiguidade está presente o tempo todo", descreve Mika.
Quando se deparou com o texto, em 93, ela se deixou levar pela economia nos diálogos e pelo humor que, em certas passagens, destoa da introspecção.
Como no quarto encontro dos dois personagens, quando a garota revela ser vegetariana e seu entrevistado lembra que Hitler também o era.
Para Marcos Renaux, 45, não é fácil situar "Quando o Mundo Era Verde" no interior da obra de Shepard, marcada por dramas familiares e histórias em tintas surreais e absurdas.
"Ele está cumprindo a trajetória inversa dos grandes dramaturgos", avalia. "Não é mais o "porra-louca" do início, mas o autor que transita para o naturalismo com maturidade, mantendo um forte impacto dramático."
Renaux fez sua primeira tradução de Shepard para o teatro em 88. "Louco de Amor" teve montagem dirigida por Hector Babenco e estrelada por Xuxa Lopes.
Em 94, Renaux lançou "Quatro Peças de Sam Shepard" (ed. Paz e Terra), livro que reúne traduções feitas em parceria com o diretor de redação da Folha, Otavio Frias Filho ("La Turista" e "Angel City") e com a articulista Marilene Felinto ("Mente Mentira" e "Oeste Verdadeiro").
A montagem mais recente de uma peça de Shepard em São Paulo foi "Oeste" (96), dirigida por Marco Ricca e também traduzida por Renaux.


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