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TEATRO
Atriz vai contracenar com Cláudio Marzo em "Quando o Mundo Era Verde", que estréia em março
Mika Lins monta peça de Sam Shepard
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
As frases curtas, elípticas e
cruelmente poéticas de Sam Shepard, um dos principais nomes
do drama americano nos anos
que correm, já têm data marcada
para reverberar, mais uma vez,
em palcos brasileiros.
"Quando o Mundo Era Verde"
-"Fábula de um Cozinheiro", a
peça escrita a quatro mãos com
Joseph Chaikin- deve estrear no
Brasil em março de 2000.
A atriz e produtora Mika Lins,
33, vai contracenar com Cláudio
Marzo nos papéis do velho cozinheiro e da jovem jornalista da
história.
A direção é de William Pereira
("O Livro do Desassossego").
Quem assina a tradução é Marcos
Renaux ("Medeamaterial",
"Mary Stuart").
Em sua peça, encenada pela primeira vez em 96, Shepard promove um encontro inusitado e, ao cabo, coerente.Trata-se de uma relação tensa e terna entre uma entrevistadora e um homem de idade condenado à pena de morte.
Ambos vivem em função de
suas buscas. Ou perdas. Ela, na vã
tentativa de encontrar o pai. Ele,
prostrado porque errou o único
alvo que perseguia em vida: em
vez de matar o primo, envenenou
um terceiro sujeito que nada tinha a ver com a vingança que um
dia jurou ao pai.
Em oito breves encontros, os
personagens não compartilham
somente frustrações, mas também reminiscências da infância,
que os aproximam pelo fio da memória -apesar do vão de gerações que os separam.
"O texto te ilude, não deixa você
saber qual é a relação dos dois. Às
vezes parece uma relação de pai e
filha, depois insinua um sentimento amoroso, mas aí vem a
suspeita de um contra o outro; enfim, a ambiguidade está presente
o tempo todo", descreve Mika.
Quando se deparou com o texto, em 93, ela se deixou levar pela
economia nos diálogos e pelo humor que, em certas passagens,
destoa da introspecção.
Como no quarto encontro dos
dois personagens, quando a garota revela ser vegetariana e seu entrevistado lembra que Hitler também o era.
Para Marcos Renaux, 45, não é
fácil situar "Quando o Mundo Era
Verde" no interior da obra de
Shepard, marcada por dramas familiares e histórias em tintas surreais e absurdas.
"Ele está cumprindo a trajetória
inversa dos grandes dramaturgos", avalia. "Não é mais o "porra-louca" do início, mas o autor que
transita para o naturalismo com
maturidade, mantendo um forte
impacto dramático."
Renaux fez sua primeira tradução de Shepard para o teatro em
88. "Louco de Amor" teve montagem dirigida por Hector Babenco
e estrelada por Xuxa Lopes.
Em 94, Renaux lançou "Quatro
Peças de Sam Shepard" (ed. Paz e
Terra), livro que reúne traduções
feitas em parceria com o diretor
de redação da Folha, Otavio Frias
Filho ("La Turista" e "Angel
City") e com a articulista Marilene
Felinto ("Mente Mentira" e "Oeste Verdadeiro").
A montagem mais recente de
uma peça de Shepard em São
Paulo foi "Oeste" (96), dirigida
por Marco Ricca e também traduzida por Renaux.
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