São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2004

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Pierre Verger é "guia" do picadeiro

DA REPORTAGEM LOCAL

A montagem de um circo lembra a construção de um barco, com seus mastros, cordas e velas e marinheiros -no caso, a lona e o trabalho braçal dos artistas.
Pelo menos era assim no início do século 20. O livro "Circo Nerino" está aí para mostrar, com uma seleção de importantes fotografias desses "estaleiros" de alegria. São retratos de grife, os dessa arquitetura (da construção e desconstrução) do picadeiro Nerino.
Boa parte das imagens reunidas no livro são de um dos nomes centrais da fotografia brasileira, o francês Pierre Verger (1902-1996).
Antropólogo, jornalista, babalaô (autoridade do candomblé) e exímio fotógrafo, ele já havia visitado 60 países de todos os continentes quando chegou à Bahia, em 1946, atraído pelo romance "Jubiabá", de Jorge Amado.
No ano seguinte, Verger já conheceria artistas do Nerino, durante viagem ao Recife.
O fotógrafo ficou surpreso ao deparar com uma companha circense familiar brasileira na qual uma das fundadoras, a mãe de Roger Avanzi, a ginasta e contorcionista Armandine Ribolá, era de ascendência francesa (o pai de Picolino 2º, Nerino, era filho de italianos). "Ele era muito simpático, conversador e sempre trazia as fotos para a gente ver no dia seguinte", relembra Roger Avanzi.
Em algumas das fotos em preto-e-branco, nota-se a atividade artesanal dos próprios artistas circenses, costurando a empanada (a cobertura do circo, como um glossário ao final do livro explica) e preparando o processo de impermeabilização, também de responsabilidade deles. Por isso, pelo braçal da tarefa, eram feitos com tanto orgulho cartazes como "Lona impermeável. Espetáculo mesmo que chova".
Além das imagens de Verger, espécie de "entreatos" dos 12 capítulos do livro, "Circo Nerino" tem fotos do carioca Luiz Alfredo (1934), que acompanhou várias turnês do Nerino, e pinturas do artista plástico Bajado (1912-1996), de Olinda (PE), considerado um dos artistas "naïf" mais importantes do Nordeste (teve obras exposta neste ano na mostra internacional "Carnaval", no CCBB-RJ, organizada pelo curador da Bienal de SP, Alfons Hug).
Dono de um acervo muito extenso de imagens sobre o Nerino, Roger Avanzi lamenta que nem ele nem a pesquisadora Verônica Tamaoki conseguiram localizar todos os créditos das imagens nem todos os "retratados". Mas o circo não pode parar. (VS)

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