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Pierre Verger é "guia" do picadeiro
DA REPORTAGEM LOCAL
A montagem de um circo lembra a construção de um barco,
com seus mastros, cordas e velas e
marinheiros -no caso, a lona e o
trabalho braçal dos artistas.
Pelo menos era assim no início
do século 20. O livro "Circo Nerino" está aí para mostrar, com
uma seleção de importantes fotografias desses "estaleiros" de alegria. São retratos de grife, os dessa
arquitetura (da construção e desconstrução) do picadeiro Nerino.
Boa parte das imagens reunidas
no livro são de um dos nomes
centrais da fotografia brasileira, o
francês Pierre Verger (1902-1996).
Antropólogo, jornalista, babalaô (autoridade do candomblé) e
exímio fotógrafo, ele já havia visitado 60 países de todos os continentes quando chegou à Bahia,
em 1946, atraído pelo romance
"Jubiabá", de Jorge Amado.
No ano seguinte, Verger já conheceria artistas do Nerino, durante viagem ao Recife.
O fotógrafo ficou surpreso ao
deparar com uma companha circense familiar brasileira na qual
uma das fundadoras, a mãe de
Roger Avanzi, a ginasta e contorcionista Armandine Ribolá, era
de ascendência francesa (o pai de
Picolino 2º, Nerino, era filho de
italianos). "Ele era muito simpático, conversador e sempre trazia as
fotos para a gente ver no dia seguinte", relembra Roger Avanzi.
Em algumas das fotos em preto-e-branco, nota-se a atividade artesanal dos próprios artistas circenses, costurando a empanada (a
cobertura do circo, como um
glossário ao final do livro explica)
e preparando o processo de impermeabilização, também de responsabilidade deles. Por isso, pelo
braçal da tarefa, eram feitos com
tanto orgulho cartazes como "Lona impermeável. Espetáculo mesmo que chova".
Além das imagens de Verger,
espécie de "entreatos" dos 12 capítulos do livro, "Circo Nerino"
tem fotos do carioca Luiz Alfredo
(1934), que acompanhou várias
turnês do Nerino, e pinturas do
artista plástico Bajado (1912-1996), de Olinda (PE), considerado um dos artistas "naïf" mais importantes do Nordeste (teve obras
exposta neste ano na mostra internacional "Carnaval", no
CCBB-RJ, organizada pelo curador da Bienal de SP, Alfons Hug).
Dono de um acervo muito extenso de imagens sobre o Nerino,
Roger Avanzi lamenta que nem
ele nem a pesquisadora Verônica
Tamaoki conseguiram localizar
todos os créditos das imagens
nem todos os "retratados". Mas o
circo não pode parar.
(VS)
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