São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Imagens perpetuam o mito de Lampião

Exposição "Cangaceiros", no MIS-SP, reúne 86 fotografias que atestam a história do rei do cangaço

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Misto de bandido sanguinário e anti-herói nacional, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938), é personagem dos mais instigantes que a história do Brasil produziu. Em "Cangaceiros", que começa hoje no MIS-SP, a saga do rei do cangaço e seu bando surge em 86 fotografias que atestam a existência de uma história que, sem elas, teria se tornado mera fábula de literatura de cordel.
A mostra será aberta com um debate, às 19h30, com Expedita Ferreira Nunes, filha de Lampião e Maria Bonita. Até domingo, serão exibidos seis filmes sobre o tema. Estarão à mostra ainda objetos como 20 punhais e duas pistolas de Lampião, além de jóias e uma roupa de Maria Bonita. Das 86 imagens, 57 foram produzidas pelo mascate libanês Benjamin Abrahão, mítico personagem que chegou ao Brasil em 1915 e logo se tornou secretário de padre Cícero, em Juazeiro (CE).
Em 1926, um convite tira o bando de Lampião da ilegalidade por um tempo. Com o governo querendo exterminar a Coluna Prestes (movimento político-militar de esquerda liderado por Luís Carlos Prestes), Virgolino é chamado a integrar os Batalhões Patrióticos. De bandido, vira herói nacional.
Nessa época, Lampião vai a Juazeiro. É recebido com honrarias por padre Cícero e conhece Abrahão. A amizade leva Lampião, dez anos depois, a autorizar o mascate a fazer uma reportagem escrita, fotografada e filmada sobre o bando. Esses registros chegam ao MIS ao mesmo tempo em que estão em exibição em Paris.
Nos dois eventos, será lançado o livro "Cangaceiros", da historiadora francesa Élise Jasmin. Quase a totalidade das fotografias mostra os cangaceiros posando para a câmera. Não há imagens de ação. Abrahão vendia com sucesso essas imagens exclusivas a jornais e revistas.
Em 1937, com o Estado Novo, recrudesce o cerco ao bando de Lampião. As fotografias de Abrahão publicadas na imprensa soavam como um desafio. Surgem as volantes, milícias armadas para combater o cangaço. Várias fotos mostram essas milícias posando exatamente igual ao bando de Lampião. Antes do confronto armado, a guerra aconteceu na representação fotográfica.
A mostra termina com imagens de cangaceiros decapitados, exibidos como troféus. Uma delas, de autor desconhecido, mostra Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros com cabeças expostas numa macabra prateleira. Imagem que atesta a morte do homem e perpetua definitivamente o mito.


CANGACEIROS
Quando:
hoje (abertura), às 19h30; de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 4/3
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel.: 0/xx/11/3062-9197
Quanto: R$ 3


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