|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVRO
Sucessos da editora nos anos 80, "Cantadas Literárias" e coleção "Primeiros Passos" estão de volta
Brasiliense ressurge com "Cantadas"
CYNARA MENEZES
especial para a Folha
O ano começa com uma boa notícia para quem gosta de ler: a coleção "Cantadas Literárias", que
revelou autores e fez cabeças nos
anos 80, está de volta. A Brasiliense, editora que parecia ter desaparecido, também.
Junto a "Cantadas", também
ganha continuidade outro sucesso da Brasiliense, que fazia parte
do kit de sobrevivência de todo
pré-universitário naquela década
-os livrinhos da coleção "Primeiros Passos".
A retomada é tímida, por enquanto. Está sendo lançado
"Perscrutando o Papaia", livro de
poesia de Rita Moreira, pela
"Cantadas", e "O Que É Graffiti",
de Celso Gitahy -tema bem mais
próximo aos anos 80-, pela "Primeiros Passos".
Logo virão novos lançamentos
em ambas as coleções (veja quadro ao lado) e o que é melhor, os
relançamentos de títulos esgotados que ainda se encontram sob
os direitos da editora, que passou
por maus bocados desde a morte
de seu fundador, Caio Prado Júnior, em 90, seguida da de seu filho, Caio Graco Prado, em 92.
A partir de 82 e até 85, a Brasiliense, com os cerca de 50 títulos
lançados pela "Cantadas", foi responsável pelo aparecimento nas
livrarias de uma impensável geração de escritores: os poetas Ana
Cristina César, Chacal e Paulo Leminski; os romancistas Caio Fernando Abreu e Raduan Nassar,
entre outros.
"A "Cantadas" era maravilhosa.
Possibilitou que uma nova literatura, ignorada pelos editores e
inspirada no movimento beat, tivesse um espaço", diz o escritor
Marcelo Rubens Paiva. Paiva publicou ali, em 82, seu primeiro
grande sucesso: "Feliz Ano Velho", um best seller que alcançou
nessas edições, segundo ele próprio calcula, a marca dos 500 mil
exemplares vendidos.
Seu segundo livro, "Blecaute",
da mesma coleção, também teve
êxito, com invejáveis 200 mil livros vendidos. "Na "Cantadas",
havia um preocupação de que o
livro fosse acessível. Era mais barato e menor, cabia em qualquer
mochila", diz Paiva.
A atual presidente da editora,
Danda Prado, 70, irmã de Caio
Graco, reconhece que há, agora,
um mercado bem diferente: mais
editoras, mais títulos lançados,
muito mais competição.
Perdeu também os direitos de
grande parte dos que habitaram a
"Cantadas": Paiva está na Mandarim, Raduan Nassar e Caio Fernando Abreu estão na Companhia das Letras, e os direitos de
Ana Cristina Cesar estão com a família.
Mas tem John Fante -""Sonhos
de Bunker Hill", "Pergunte ao
Pó"- e Jack Kerouac -""On the
Road"-, atualmente esgotados,
que sairão na reedição da coleção.
E a obra completa de Paulo Leminski será reeditada.
"Autores novos também serão
lançados", garantiu Danda Prado.
"Mas que não mandem em português ruim, não gosto", diz a editora, contando ter recebido originais "em linguagem chula como
se isso fosse o que fez da coleção
um sucesso".
Desde a morte de Caio Graco, a
Brasiliense enfrenta problemas financeiros. Os funcionários foram
reduzidos de 140 para menos de
40 nos últimos sete anos.
"Fomos mandando embora em
marcha lenta", conta Danda.
Venderam-se as livrarias, a sede
mudou-se para um bairro mais
barato e a editora, fundada em
1943 pelo economista e historiador de esquerda Caio Prado Júnior, persiste.
As dívidas com empresas e com
o governo foram parceladas, e
Danda Prado planeja uma administração diferente da do pai: "A
editora vai se recuperar, mas com
uma visão mais capitalista".
Livro: Perscrutando o Papaia
Autora: Rita Moreira
Editora: Brasiliense
Quanto: R$ 18,40 (159 págs.)
Livro: O Que É Graffiti
Autor: Celso Gitahy
Editora: Brasiliense
Quanto: R$ 7,50 (84 págs.)
Texto Anterior: Televisão: TVs fazem retrospectivas do século e especulam sobre o futuro Próximo Texto: Disco - Crítica: Prince ainda está sufocado em seu ego Índice
|