São Paulo, Quarta-feira, 29 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVRO
Sucessos da editora nos anos 80, "Cantadas Literárias" e coleção "Primeiros Passos" estão de volta
Brasiliense ressurge com "Cantadas"

CYNARA MENEZES
especial para a Folha

O ano começa com uma boa notícia para quem gosta de ler: a coleção "Cantadas Literárias", que revelou autores e fez cabeças nos anos 80, está de volta. A Brasiliense, editora que parecia ter desaparecido, também.
Junto a "Cantadas", também ganha continuidade outro sucesso da Brasiliense, que fazia parte do kit de sobrevivência de todo pré-universitário naquela década -os livrinhos da coleção "Primeiros Passos".
A retomada é tímida, por enquanto. Está sendo lançado "Perscrutando o Papaia", livro de poesia de Rita Moreira, pela "Cantadas", e "O Que É Graffiti", de Celso Gitahy -tema bem mais próximo aos anos 80-, pela "Primeiros Passos".
Logo virão novos lançamentos em ambas as coleções (veja quadro ao lado) e o que é melhor, os relançamentos de títulos esgotados que ainda se encontram sob os direitos da editora, que passou por maus bocados desde a morte de seu fundador, Caio Prado Júnior, em 90, seguida da de seu filho, Caio Graco Prado, em 92.
A partir de 82 e até 85, a Brasiliense, com os cerca de 50 títulos lançados pela "Cantadas", foi responsável pelo aparecimento nas livrarias de uma impensável geração de escritores: os poetas Ana Cristina César, Chacal e Paulo Leminski; os romancistas Caio Fernando Abreu e Raduan Nassar, entre outros.
"A "Cantadas" era maravilhosa. Possibilitou que uma nova literatura, ignorada pelos editores e inspirada no movimento beat, tivesse um espaço", diz o escritor Marcelo Rubens Paiva. Paiva publicou ali, em 82, seu primeiro grande sucesso: "Feliz Ano Velho", um best seller que alcançou nessas edições, segundo ele próprio calcula, a marca dos 500 mil exemplares vendidos.
Seu segundo livro, "Blecaute", da mesma coleção, também teve êxito, com invejáveis 200 mil livros vendidos. "Na "Cantadas", havia um preocupação de que o livro fosse acessível. Era mais barato e menor, cabia em qualquer mochila", diz Paiva.
A atual presidente da editora, Danda Prado, 70, irmã de Caio Graco, reconhece que há, agora, um mercado bem diferente: mais editoras, mais títulos lançados, muito mais competição.
Perdeu também os direitos de grande parte dos que habitaram a "Cantadas": Paiva está na Mandarim, Raduan Nassar e Caio Fernando Abreu estão na Companhia das Letras, e os direitos de Ana Cristina Cesar estão com a família.
Mas tem John Fante -""Sonhos de Bunker Hill", "Pergunte ao Pó"- e Jack Kerouac -""On the Road"-, atualmente esgotados, que sairão na reedição da coleção. E a obra completa de Paulo Leminski será reeditada.
"Autores novos também serão lançados", garantiu Danda Prado. "Mas que não mandem em português ruim, não gosto", diz a editora, contando ter recebido originais "em linguagem chula como se isso fosse o que fez da coleção um sucesso".
Desde a morte de Caio Graco, a Brasiliense enfrenta problemas financeiros. Os funcionários foram reduzidos de 140 para menos de 40 nos últimos sete anos.
"Fomos mandando embora em marcha lenta", conta Danda. Venderam-se as livrarias, a sede mudou-se para um bairro mais barato e a editora, fundada em 1943 pelo economista e historiador de esquerda Caio Prado Júnior, persiste.
As dívidas com empresas e com o governo foram parceladas, e Danda Prado planeja uma administração diferente da do pai: "A editora vai se recuperar, mas com uma visão mais capitalista".



Livro: Perscrutando o Papaia
Autora: Rita Moreira
Editora: Brasiliense
Quanto: R$ 18,40 (159 págs.)

Livro: O Que É Graffiti
Autor: Celso Gitahy
Editora: Brasiliense
Quanto: R$ 7,50 (84 págs.)


Texto Anterior: Televisão: TVs fazem retrospectivas do século e especulam sobre o futuro
Próximo Texto: Disco - Crítica: Prince ainda está sufocado em seu ego
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.