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São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

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FILMES DE HOJE

LITERATURA

Documentário vê resistência de Brodsky

MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA

Há um diálogo significativo no documentário "Joseph Brodsky: Um Espaço Enlouquecedor", que o Film & Arts apresenta na série "Grandes Escritores". Ocorre quando Brodsky (1940-1996), poeta soviético exilado nos Estados Unidos e ganhador do Nobel de 1987, conversa com o amigo Derek Walcott.
A cena foi gravada três anos antes de Walcott, escritor caribenho igualmente expatriado, ter levado o seu Nobel, em 1992. Ele afirma que a poesia do russo surge entre as ruínas da responsabilidade política e as da responsabilidade estética. Em sua pronúncia entrecortada, Brodsky adverte que "as ruínas são a forma arquitetônica mais persistente".
O poeta sabia do que estava falando. Criança, presenciou sua cidade natal de Leningrado (hoje, novamente São Petersburgo) ser arrasada pelo bombardeio alemão. Um milhão de pessoas morreu, vítima dos ataques e da fome que se seguiu ao cerco nazista.
O documentário abre com imagens do enterro da ucraniana Ana Akhmatova (1889-1966), mentora de Brodsky. Uma das mais influentes poetas soviéticas, ela viu sua vida pessoal ser parcialmente arruinada com o endurecimento do regime político. O próprio Brodsky foi preso três vezes, duas em manicômios, antes de radicar-se nos Estados Unidos.
As ruínas surgem na obra de Brodsky, portanto, não como local de decadência, mas como símbolo do espaço que resiste, sobrevivendo obstinadamente às investidas mundanas, aos desmandos políticos e ao deslocamento geográfico.
O poeta também inverte os sinais de seu suposto "desarraigamento" (displacement). Para ele, trata-se de uma circunstância vantajosa, pois o obriga a ver as coisas pelo lado externo. "Você se torna um observador", afirma, "a condição artística ideal".
Produzido pelo New York Centre for Visual History em associação com o Channel 4 londrino, o documentário conta ainda com outro trunfo: a impecável narração de Jason Robards (1922-2000), que no filme "Julia" (1977) interpretou o escritor Dashiell Hammett.


GRANDES ESCRITORES. Quando: Hoje, às 15h e 21h, no Film & Arts.

Mundo desencantado

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Para um adolescente do começo dos anos 50, segundo o diretor Peter Bogdanovich, o mundo se restringia a três coisas: garotas, esporte e cinema.
Assim é de imaginar o que acontece quando se sabe que, numa pequena cidade do Texas, o cinema vai fechar e acontecerá "A Última Sessão de Cinema" (HBO, 11h30).
Bogdanovich descreve o evento quase como quem descreve o fim do mundo. E de certa forma era mesmo o fim de um mundo.
A última guerra "limpa" já tinha acabado, o mundo do cinema estava acabando também. Esse mundo que tinha o cinema por centro.
Não por acaso, o filme foi feito em preto-e-branco (em 1971 isso já era raro), num preto-e-branco crispado, amargo como essa obra-prima desencantada.

FILMES

Três Pestinhas do Barulho
Record, 12h.

(Bored Silly). EUA, 2000, 81 min. Direção: Robert Shallcross. Com: Evan Gabriel, Maury Cooper. Já que nas férias de verão não vão viajar, três garotos resolvem construir um forte e envolvem o bairro inteiro em confusões.

Titan
Globo, 15h35.

(Titan A.E.). EUA, 2000. Direção: Don Bluth/Gary Oldman. Animação sombria que mostra um futuro em que a Terra foi destruída, onde os poucos sobreviventes vivem em estações espaciais. O filho de um cientista descobre que tem no seu DNA a chave para encontrar a nave Titan, que poderá reconstruir o planeta. Dos mesmo diretores de "Anastásia", "Titan" visa os adolescentes, como mostra a trilha sonora de pop rock e os efeitos de animação em 2D e 3D. Mas o que espanta mesmo é a monotonia. Inédito.

Lendas da Paixão
Record, 21h15.

(Legends of the Fall). EUA, 94, 132 min. Direção: Edward Zwick. Com Brad Pitt, Anthony Hopkins. No início do século, filho de fazendeiro de Montana retorna do exterior com uma noiva a tiracolo. A presença dela, mais a eclosão da Primeira Guerra, serão os fatores indispensáveis à criação de um épico açucarado.

O Tigre e o Dragão
Globo, 22h.

(Crouching Tiger, Hidden Dragon). EUA/ China/Taiwan, 2000. Direção: Ang Lee. Com Chon Yun-Fat, Michelle Yeoh. Na China do século 19, guerreiros se debatem em torno da posse de uma espada mágica e lendária. Produção superestimada de Ang Lee que recebeu dez indicações ao Oscar, "Tigre" foi saudado como um diálogo entre os filmes de arte e os "blockbusters". Vê-se pelo resultado que vícios desses dois universos, quando unidos, resultam em afetação e pretensão. Em todo o caso, é repleto de tiradas filosóficas/ espirituais e belas cenas de lutas, em que a lei da gravidade é abolida: um belo balé de guerreiros voadores em suma. Inédito.

Nos Tempos da Brilhantina
Globo, 2h20.

(Grease). EUA, 78. Direção: Randal Kleiser. Com John Travolta, Olivia Newton-John. Musical ambientado nos anos 50, em que Danny (Travolta) e Sandy (Newton-John) caem de amores um pelo outro na praia durante as férias de verão. Quando se reencontram na escola, as coisas serão diferentes, já que Travolta é o líder de uma gangue e terá que manter a fama de mau. Enfim, tem quem o considere um clássico. Filme escolhido no "Intercine". (INÁCIO ARAUJO e BRUNO YUTAKA SAITO)


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