|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FILMES DE HOJE
LITERATURA
Documentário vê resistência de Brodsky
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
Há um diálogo significativo no
documentário "Joseph Brodsky:
Um Espaço Enlouquecedor", que
o Film & Arts apresenta na série
"Grandes Escritores". Ocorre
quando Brodsky (1940-1996),
poeta soviético exilado nos Estados Unidos e ganhador do Nobel
de 1987, conversa com o amigo
Derek Walcott.
A cena foi gravada três anos antes de Walcott, escritor caribenho
igualmente expatriado, ter levado
o seu Nobel, em 1992. Ele afirma
que a poesia do russo surge entre
as ruínas da responsabilidade política e as da responsabilidade estética. Em sua pronúncia entrecortada, Brodsky adverte que "as
ruínas são a forma arquitetônica
mais persistente".
O poeta sabia do que estava falando. Criança, presenciou sua cidade natal de Leningrado (hoje,
novamente São Petersburgo) ser
arrasada pelo bombardeio alemão. Um milhão de pessoas morreu, vítima dos ataques e da fome
que se seguiu ao cerco nazista.
O documentário abre com imagens do enterro da ucraniana Ana
Akhmatova (1889-1966), mentora
de Brodsky. Uma das mais influentes poetas soviéticas, ela viu
sua vida pessoal ser parcialmente
arruinada com o endurecimento
do regime político. O próprio
Brodsky foi preso três vezes, duas
em manicômios, antes de radicar-se nos Estados Unidos.
As ruínas surgem na obra de
Brodsky, portanto, não como local de decadência, mas como símbolo do espaço que resiste, sobrevivendo obstinadamente às investidas mundanas, aos desmandos
políticos e ao deslocamento geográfico.
O poeta também inverte os sinais de seu suposto "desarraigamento" (displacement). Para ele,
trata-se de uma circunstância
vantajosa, pois o obriga a ver as
coisas pelo lado externo. "Você se
torna um observador", afirma, "a
condição artística ideal".
Produzido pelo New York Centre for Visual History em associação com o Channel 4 londrino, o
documentário conta ainda com
outro trunfo: a impecável narração de Jason Robards (1922-2000), que no filme "Julia" (1977)
interpretou o escritor Dashiell
Hammett.
GRANDES ESCRITORES. Quando: Hoje,
às 15h e 21h, no Film & Arts.
Mundo desencantado
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Para um adolescente do
começo dos anos 50, segundo o diretor Peter Bogdanovich, o mundo se restringia
a três coisas: garotas, esporte e cinema.
Assim é de imaginar o que
acontece quando se sabe
que, numa pequena cidade
do Texas, o cinema vai fechar e acontecerá "A Última Sessão de Cinema"
(HBO, 11h30).
Bogdanovich descreve o
evento quase como quem
descreve o fim do mundo. E
de certa forma era mesmo o
fim de um mundo.
A última guerra "limpa"
já tinha acabado, o mundo
do cinema estava acabando
também. Esse mundo que
tinha o cinema por centro.
Não por acaso, o filme foi
feito em preto-e-branco
(em 1971 isso já era raro),
num preto-e-branco crispado, amargo como essa
obra-prima desencantada.
FILMES
Três Pestinhas do Barulho
Record, 12h.
(Bored Silly). EUA, 2000, 81 min. Direção:
Robert Shallcross. Com: Evan Gabriel,
Maury Cooper. Já que nas férias de verão
não vão viajar, três garotos resolvem
construir um forte e envolvem o bairro
inteiro em confusões.
Titan
Globo, 15h35.
(Titan A.E.). EUA, 2000. Direção: Don
Bluth/Gary Oldman. Animação sombria
que mostra um futuro em que a Terra foi
destruída, onde os poucos sobreviventes
vivem em estações espaciais. O filho de
um cientista descobre que tem no seu
DNA a chave para encontrar a nave Titan,
que poderá reconstruir o planeta. Dos
mesmo diretores de "Anastásia", "Titan"
visa os adolescentes, como mostra a
trilha sonora de pop rock e os efeitos de
animação em 2D e 3D. Mas o que
espanta mesmo é a monotonia. Inédito.
Lendas da Paixão
Record, 21h15.
(Legends of the Fall). EUA, 94, 132 min.
Direção: Edward Zwick. Com Brad Pitt,
Anthony Hopkins. No início do século,
filho de fazendeiro de Montana retorna
do exterior com uma noiva a tiracolo. A
presença dela, mais a eclosão da
Primeira Guerra, serão os fatores
indispensáveis à criação de um épico
açucarado.
O Tigre e o Dragão
Globo, 22h.
(Crouching Tiger, Hidden Dragon). EUA/
China/Taiwan, 2000. Direção: Ang Lee.
Com Chon Yun-Fat, Michelle Yeoh. Na
China do século 19, guerreiros se
debatem em torno da posse de uma
espada mágica e lendária. Produção
superestimada de Ang Lee que recebeu
dez indicações ao Oscar, "Tigre" foi
saudado como um diálogo entre os
filmes de arte e os "blockbusters". Vê-se
pelo resultado que vícios desses dois
universos, quando unidos, resultam em
afetação e pretensão. Em todo o caso, é
repleto de tiradas filosóficas/ espirituais
e belas cenas de lutas, em que a lei da
gravidade é abolida: um belo balé de
guerreiros voadores em suma. Inédito.
Nos Tempos da Brilhantina
Globo, 2h20.
(Grease). EUA, 78. Direção: Randal
Kleiser. Com John Travolta, Olivia
Newton-John. Musical ambientado nos
anos 50, em que Danny (Travolta) e
Sandy (Newton-John) caem de amores
um pelo outro na praia durante as férias
de verão. Quando se reencontram na
escola, as coisas serão diferentes, já que
Travolta é o líder de uma gangue e terá
que manter a fama de mau. Enfim, tem
quem o considere um clássico. Filme
escolhido no "Intercine".
(INÁCIO ARAUJO e BRUNO YUTAKA SAITO)
Texto Anterior: Astrologia - Barbara Abramo Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|