São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/MPB

Virginia Rosa espalha ecletismo pelo samba

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O s nomes de Cartola, Candeia e Paulo Cesar Pinheiro, bambas que se destacam entre os compositores incluídos no repertório do novo álbum de Virginia Rosa, podem passar uma impressão errônea. "Samba a Dois", terceiro CD da paulista, está longe de ser um projeto de samba tradicional. "Não sou sambista. Sou uma intérprete que já cantou vários estilos de música brasileira", diz ela. O samba serviu de inspiração para Virginia, nesse trabalho, mas isso não a impediu de introduzir, no repertório, nos arranjos ou mesmo em suas interpretações, diversas influências que compõem sua personalidade musical.
Quem acompanha a carreira de Virginia desde os anos 80, quando ela foi vocalista das bandas Isca de Polícia (de Itamar Assumpção) e Mexe Com Tudo, já conhece seu ecletismo. Ela é capaz de interpretar com igual brilho um forró, um maxixe, um bolero, uma salsa ou um standard do jazz.
"Eu escuto muitas coisas. Não é pelo fato de gravar MPB que eu fico só com ela na cabeça", diz a intérprete, que incluiu no álbum duas canções de autores portugueses: a etérea "Ao Crepúsculo", de Pedro Ayres Magalhães (do grupo Madredeus), e "Fado Morno", de Marta Dias e Carlos Xavier. Dizendo ter afinidade com a nova geração da música portuguesa, Virginia lamenta o fato de esses artistas ainda serem pouco conhecidos no Brasil.
"Tenho a pretensão de mostrar esses compositores de uma forma abrasileirada. Nosso sotaque pode facilitar que as pessoas escutem essas canções aqui", comenta. Mas a maior liberdade tomada por ela nesse projeto está justamente numa ousada versão de "As Rosas Não Falam". O clássico de Cartola é interpretado em ritmo de tango, num arranjo do violonista Dino Barioni que inclui um acordeom. "Acho que alguns puristas vão dizer que eu fiz uma coisa absurda, mas eu me dou essa liberdade. Sou uma intérprete".
Virginia diz ter ficado mais tranqüila depois de testar a reação dos fãs a essa interpretação, em shows que dedicou ao repertório de Clara Nunes. "Para minha alegria, as pessoas ficaram surpresas, mas gostaram". Mesmo quando se restringe ao samba, Virginia explora a diversidade de estilos que compõem esse gênero. É o caso de "Que Bandeira" (Marcos e Paulo Sergio Valle), um antigo samba de coloração pop. Ou do saboroso "Meu Samba Torto" (Celso Fonseca), tingido por trombone e piano elétrico.
Virginia também se preocupa em revelar novos compositores. Com dois sambas incluídos no álbum, a jovem paulista Luisa Maita se destaca, especialmente em "Madrugada", um belo samba de inspiração clássica, na linha de Nelson Cavaquinho. "A gente precisa arriscar. O artista que já está na estrada há mais tempo precisa ter essa consciência", diz a cantora, que não gosta de se limitar a canções de autores consagrados. Corajosa, Virginia Rosa demonstra estar pronta para assumir um lugar entre as grandes cantoras do país. Só falta o grande público descobri-la.


SAMBA A DOIS
   
Artista: Virginia Rosa
Gravadora: Eldorado
Quanto: R$ 23, em média




Texto Anterior: Crítica/Jazz: Nina Simone remixada por DJs vira boa música lounge
Próximo Texto: CDs
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.