|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/MPB
Virginia Rosa espalha ecletismo pelo samba
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O
s nomes de Cartola,
Candeia e Paulo Cesar
Pinheiro, bambas que
se destacam entre os compositores incluídos no repertório
do novo álbum de Virginia Rosa, podem passar uma impressão errônea. "Samba a Dois",
terceiro CD da paulista, está
longe de ser um projeto de samba tradicional.
"Não sou sambista. Sou uma
intérprete que já cantou vários
estilos de música brasileira",
diz ela. O samba serviu de inspiração para Virginia, nesse
trabalho, mas isso não a impediu de introduzir, no repertório, nos arranjos ou mesmo em
suas interpretações, diversas
influências que compõem sua
personalidade musical.
Quem acompanha a carreira
de Virginia desde os anos 80,
quando ela foi vocalista das
bandas Isca de Polícia (de Itamar Assumpção) e Mexe Com
Tudo, já conhece seu ecletismo.
Ela é capaz de interpretar com
igual brilho um forró, um maxixe, um bolero, uma salsa ou um
standard do jazz.
"Eu escuto muitas coisas.
Não é pelo fato de gravar MPB
que eu fico só com ela na cabeça", diz a intérprete, que incluiu
no álbum duas canções de autores portugueses: a etérea "Ao
Crepúsculo", de Pedro Ayres
Magalhães (do grupo Madredeus), e "Fado Morno", de Marta Dias e Carlos Xavier.
Dizendo ter afinidade com a
nova geração da música portuguesa, Virginia lamenta o fato
de esses artistas ainda serem
pouco conhecidos no Brasil.
"Tenho a pretensão de mostrar
esses compositores de uma forma abrasileirada. Nosso sotaque pode facilitar que as pessoas escutem essas canções
aqui", comenta.
Mas a maior liberdade tomada por ela nesse projeto está
justamente numa ousada versão de "As Rosas Não Falam". O
clássico de Cartola é interpretado em ritmo de tango, num
arranjo do violonista Dino Barioni que inclui um acordeom.
"Acho que alguns puristas
vão dizer que eu fiz uma coisa
absurda, mas eu me dou essa liberdade. Sou uma intérprete".
Virginia diz ter ficado mais
tranqüila depois de testar a reação dos fãs a essa interpretação,
em shows que dedicou ao repertório de Clara Nunes. "Para
minha alegria, as pessoas ficaram surpresas, mas gostaram".
Mesmo quando se restringe
ao samba, Virginia explora a diversidade de estilos que compõem esse gênero. É o caso de
"Que Bandeira" (Marcos e Paulo Sergio Valle), um antigo samba de coloração pop. Ou do saboroso "Meu Samba Torto"
(Celso Fonseca), tingido por
trombone e piano elétrico.
Virginia também se preocupa em revelar novos compositores. Com dois sambas incluídos no álbum, a jovem paulista
Luisa Maita se destaca, especialmente em "Madrugada",
um belo samba de inspiração
clássica, na linha de Nelson Cavaquinho.
"A gente precisa arriscar. O
artista que já está na estrada há
mais tempo precisa ter essa
consciência", diz a cantora, que
não gosta de se limitar a canções de autores consagrados.
Corajosa, Virginia Rosa demonstra estar pronta para assumir um lugar entre as grandes cantoras do país. Só falta o
grande público descobri-la.
SAMBA A DOIS
Artista: Virginia Rosa
Gravadora: Eldorado
Quanto: R$ 23, em média
Texto Anterior: Crítica/Jazz: Nina Simone remixada por DJs vira boa música lounge Próximo Texto: CDs Índice
|