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Crítica/"O Laboratório dos Venenos"
Russo investiga fábrica de envenenamentos
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A morte por provável envenenamento do ex-agente soviético Alexandre Litvinenko, que fez um
ano no mês passado, foi uma
história de repercussão.
O homem, que definhou
diante das câmeras durante semanas num hospital em Londres, havia denunciado o assassinato, também por envenenamento, de um alto funcionário
da polícia de Moscou que investigava manobras do FSB, órgão
que substituiu a KGB, o serviço
secreto soviético.
O episódio empresta uma
atualidade sinistra a "O Laboratório dos Venenos", de Arkadi Vaksberg. No livro, o veterano jornalista russo faz um minucioso inventário dos assassinatos políticos secretos, que remontam aos tempos da Revolução Russa de 1917.
A obra gira em torno do laboratório de produtos tóxicos,
que, segundo o autor, foi criado
por Lênin em 1921. Vaksberg
resgata as palavras do líder comunista: "Tudo o que serve à
causa da revolução é moral".
A tese do jornalista é que a
prática bolchevique do terrorismo, que atingiu o auge durante o período de Stálin, foi
herdada pelos governos eleitos
após o fim da União Soviética
em 1991.
Trata-se de uma "herança espiritual que [o atual presidente] Putin não consegue nem deseja abandonar".
A coragem do autor não pode
ser subestimada. Tendo convivido com várias das vítimas,
Vaksberg denuncia dezenas de
casos, inclusive o de Litvinenko, e enfrenta interesses poderosos, o que coloca sua própria
vida em risco, uma ameaça que
ele não comenta.
Rumores
O livro, no entanto, tem uma
fragilidade. Ao relatar os casos,
o autor usa "mais raciocínios
psicológicos do que fontes escritas".
Dá crédito também a rumores, acreditando que "eles nunca são infundados". E admite,
quase ao final, referindo-se a
um caso específico, ter lançado
mão de "construções lógicas", e
não de provas irrefutáveis.
As precárias condições de investigação explicam as falhas
de apuração. Na maioria dos casos, o autor convence ao descrever as mortes misteriosas,
seja pela ingestão de um bombom com o velho cianureto, seja pelo raspão da ponta de um
guarda-chuva impregnada com
algum veneno de última geração.
Morte de Lênin
Mas há casos de especulação
desnecessária. Vaksberg endossa, por exemplo, a versão de
que Stálin, irritado porque Lênin demorava a morrer pelas
complicações de um atentado a
bala, teria apressado seu fim recorrendo ao arsenal do laboratório secreto que o moribundo
criara.
Teria sido irônico. É até possível que tenha sido assim. Mas
não é plausível, e, na falta de documentação, trata-se de uma
verdade inacessível, o que torna inútil a especulação.
Painel
"O Laboratório dos Venenos", no entanto, não deixa de
ser um painel consistente dos
porões de uma sociedade que
não foi capaz de se livrar do terrorismo como arma política.
O livro deixa uma série de
fios soltos para quem se habilitar a chegar ao fim do novelo.
Mas não é tarefa para qualquer
um: os fios dessa história estão
desencapados.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha).
O LABORATÓRIO DOS VENENOS - A INDÚSTRIA DO ASSASSINATO POLÍTICO NA RÚSSIA DE LÊNIN A PUTIN
Autor: Arkadi Vaksberg
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 39,90 (304 págs.)
Avaliação: bom
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