São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2001

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ANÁLISE

Festival de Sundance foge das fórmulas prontas

DO ENVIADO A PARK CITY (UTAH)

Os dois importantes prêmios que o cinema brasileiro recebeu no último sábado no Festival de Sundance, o maior entre os independentes, parecem ser um conselho valioso do prestigioso instituto dirigido por Robert Redford: fujam das fórmulas prontas.
O júri deu sua menção especial a um filme feito com menos de R$ 20 mil e à barata tecnologia digital, que é "Maldito - O Estranho Mundo de José Mojica Marins", dirigido por André Barcinski e Ivan Finotti.
O documentário nem sequer concorria nas categorias oficiais, daí o susto. Simples e direto, foi criado como consequência natural da biografia homônima, também da dupla de jornalistas.
Tem a ousadia de não ouvir cineastas e críticos "sérios" para pretensamente referendar a obra de José Mojica Marins. Aparece apenas quem trabalhou com ele e tinha boas histórias para contar.
É um cartaz de boas-vindas do pai dos festivais independentes para toda uma geração que está se formando agora, cuja maioria ainda pensa que o caminho natural é o curta-metragem em película e, então, um longa com dinheiro público.
Não é menos alvissareiro o reconhecimento da competente comédia romântica "Amores Possíveis", de Sandra Werneck, que dividiu o Prêmio do Júri Latino-Americano com o México.
Aqui, é olhar estrangeiro que se abre para a capacidade que o Cine BR pode ter de fazer filme de extermínio de menores, sim, de fome no Nordeste, claro (afinal o país continua sendo um dos mais injustos em distribuição de renda), mas também de conceber comédias leves, de fazer musicais, romances...
Nesse sentido, "Princesa", do brasileiro radicado em Londres Henrique Goldman, sobre a vida de um travesti na Itália, e o divertido "Eu Tu Eles", de Andrucha Waddington, saíram prejudicados, menos pelo mérito dos filmes, mais pela tomada de posição do Sundance 2001.
De resto, o festival premiou minorias, tentando fugir da acusação às vezes justa de ter se rendido a Hollywood. Ganharam os gays (no musical "Hedwig and the Angry Inch", no thriller "The Deep End", no documentário "Scout's Honor").
Mas também transexuais (no belo docudrama "Southern Comfort"), skatistas ("Dogtown and Z-Boys", duplamente) e negros ("Lalee's Kin - The Legacy of Cotton", do veterano Albert "Gimme Shelter" Maysale).
E, não, pela última vez: não apareceu nenhum candidato a "A Bruxa de Blair".
(SÉRGIO DÁVILA)




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