|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Festival de Sundance foge das fórmulas prontas
DO ENVIADO A PARK CITY (UTAH)
Os dois importantes prêmios
que o cinema brasileiro recebeu no último sábado no Festival
de Sundance, o maior entre os independentes, parecem ser um
conselho valioso do prestigioso
instituto dirigido por Robert Redford: fujam das fórmulas prontas.
O júri deu sua menção especial a
um filme feito com menos de R$
20 mil e à barata tecnologia digital, que é "Maldito - O Estranho
Mundo de José Mojica Marins",
dirigido por André Barcinski e
Ivan Finotti.
O documentário nem sequer
concorria nas categorias oficiais,
daí o susto. Simples e direto, foi
criado como consequência natural da biografia homônima, também da dupla de jornalistas.
Tem a ousadia de não ouvir cineastas e críticos "sérios" para
pretensamente referendar a obra
de José Mojica Marins. Aparece
apenas quem trabalhou com ele e
tinha boas histórias para contar.
É um cartaz de boas-vindas do
pai dos festivais independentes
para toda uma geração que está se
formando agora, cuja maioria
ainda pensa que o caminho natural é o curta-metragem em película e, então, um longa com dinheiro público.
Não é menos alvissareiro o reconhecimento da competente comédia romântica "Amores Possíveis", de Sandra Werneck, que dividiu o Prêmio do Júri Latino-Americano com o México.
Aqui, é olhar estrangeiro que se
abre para a capacidade que o Cine
BR pode ter de fazer filme de extermínio de menores, sim, de fome no Nordeste, claro (afinal o
país continua sendo um dos mais
injustos em distribuição de renda), mas também de conceber comédias leves, de fazer musicais,
romances...
Nesse sentido, "Princesa", do
brasileiro radicado em Londres
Henrique Goldman, sobre a vida
de um travesti na Itália, e o divertido "Eu Tu Eles", de Andrucha
Waddington, saíram prejudicados, menos pelo mérito dos filmes, mais pela tomada de posição
do Sundance 2001.
De resto, o festival premiou minorias, tentando fugir da acusação às vezes justa de ter se rendido
a Hollywood. Ganharam os gays
(no musical "Hedwig and the
Angry Inch", no thriller "The
Deep End", no documentário
"Scout's Honor").
Mas também transexuais (no
belo docudrama "Southern Comfort"), skatistas ("Dogtown and
Z-Boys", duplamente) e negros
("Lalee's Kin - The Legacy of Cotton", do veterano Albert "Gimme
Shelter" Maysale).
E, não, pela última vez: não apareceu nenhum candidato a "A
Bruxa de Blair".
(SÉRGIO DÁVILA)
Texto Anterior: Vida Bandida - Voltaire de Souza: Irmãos Próximo Texto: Televisão/Crítica: "No Limite 2", pobre de espírito, inspira tédio de domingo Índice
|