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MÚSICA
ELETRÔNICA
Em duas únicas apresentações no Brasil, o DJ Kevin Saunderson mostra hoje no Lov.e suas "raízes de Detroit"
Tecno de Saunderson retorna nostálgico
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Kevin Saunderson não é saudosista, mas lembra com carinho de
épocas passadas. Nada mais justo,
afinal este produtor musical realmente criou todo um gênero musical: o tecno. Isso foi em 1985, em
sua cidade natal, Detroit.
"Naquela época havia pouca
tecnologia para criar música. Hoje há laptops, softwares, Pro
Tools, tanta coisa... No começo,
usava um seqüenciador com o
qual conseguia gravar apenas
quatro músicas. Era tudo analógico. Hoje você faz mais coisas e
mais rápido. No começo era mais
especial, pois tudo era novo. Hoje
há muitas escolhas, muita gente
fazendo e vendendo música. Mas
ainda é bom, de um outro jeito."
Hoje, aos 40 anos, Saunderson
toca no clube Lov.e, em São Paulo;
amanhã, no Rio de Janeiro. As
duas únicas apresentações no
Brasil devem ser talvez, a última
chance para os brasileiros de o assistirem: Saunderson disse na entrevista à Folha que pretende se
aposentar dentro de cinco anos.
"Provavelmente continuarei produzindo por mais uns cinco anos,
depois quero fazer trilhas para cinema e tocar apenas em eventos
grandes."
No clima intimista que tem
marcado suas apresentações nos
últimos tempos, Saunderson deve
mostrar um tecno "enraizado em
Detroit", que foi marcante durante a época em que ele e os amigos
Derrick May e Juan Atkins inventaram a coisa. As influências, diz,
foram disco music, Krafwerk,
Parliament Funkadelic e New Order.
"Pensávamos: "OK, vamos adicionar alguma coisa a isso". Vamos colocar umas linhas de baixo. Deixar minimalista, mas ainda groovie". Eram sons eletrônicos que nos fizeram descobrir que
podíamos fazer música com sintetizadores e computadores. Isso
foi a nossa porta de entrada. E como também tocávamos em clubes, tínhamos a perspectiva do DJ
ao criar música."
A perspectiva era de DJ, mas a
pesquisa era bem tradicional. "Tínhamos que aprender estudando
livros, era difícil aprender a mexer
nos equipamentos. Mas quando
você pegava o jeito, ficava bem fácil fazer música."
Nos EUA
Saunderson é considerado em
todo o planeta um top DJ e produtor. Fez história com seu projeto
Inner City -que inclusive teve o
clássico disco "Big Fun" (1989)
lançado no Brasil. A música título
e "Good Life" são bonitas de doer
e imprescindíveis para quem quiser conhecer a evolução da música eletrônica.
Grande em praticamente todo o
mundo, o tecno ainda é apenas
um nicho nos EUA, coisa para
poucos se comparado ao gigante
hip hop.
"Os americanos gostam de trance, não sei por que não gostam de
outros estilos de dance music. O
tecno atravessa fases altas e baixas, mas nunca chegou a ser massificado aqui como é na Europa.
Aqui nos EUA, a garotada acompanha bastante o hip hop, eles ouvem um pouco de dance, mas, no
fundo não se importam muito",
diz. "Depois que os europeus entraram nessa, por volta de 1988,
eles nunca mais pararam. A dance
music se espalhou pela Inglaterra,
Alemanha, Holanda e foi seguindo, se recriando de várias formas", diz o produtor.
Os EUA podem não se importar
o suficiente com Saunderson, mas
ele segue ocupado. Seu último
trabalho foi a música "Say Something" -que tem os vocais deliciosos de Paris Gray, a mesma que
cantava no Inner City-, que, segundo Saunderson, deverá ganhar lançamento grande em fevereiro. Ele também preparou um CD mix que chega ao Brasil.
Detalhe curioso: até dois anos
atrás, Saunderson era diretor de
um time de beisebol amador de
Detroit. "Estive lá por dez anos.
ganhamos um campeonato da liga amadora. Mas me afastei, pois
tenho três filhos para criar."
KEVIN SAUNDERSON. Onde: Lov.e (r. Pequetita, 189, SP, tel. 0/xx/11/3044-1613). Quando: hoje, a partir da 0h.
Quanto: de R$ 30 a R$ 40.
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