São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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CRÍTICA

Valor de "Show" é a "troca"

CRÍTICO DA FOLHA

"Um Show de Verão" diz a que veio logo na primeira cena: à beira da piscina, duas personagens fazem um indiscreto merchandising de uma operadora de celular. O que se segue é um misto de comédia romântica e programa de TV juvenil (com infindável promoção de bandas musicais).
Mistura dosada segundo a fórmula ditada, no material de divulgação do filme, pelo produtor Diler Trindade: romance para as moças, música e transgressão (leia-se: sexo) para os rapazes.
O enredo remonta a um clássico do cinema ("Cidadão Kane"): um empresário que pretende transformar a namorada suburbana em cantora e celebridade. Contrata, então, um publicitário que sonha se afirmar como produtor musical para a missão.
À fórmula do produtor Trindade, o diretor Moacyr Góes pretende somar, ainda segundo o material de divulgação do filme, "idéias legais para a juventude". Ele nos fala em ética e valores.
Fiquemos apenas nos valores: o único que move "Um Show de Verão" é o tal "valor de troca". O consumo é o início, o meio e o fim do filme, que é uma versão de "Cinderela" (estilo "Uma Linda Mulher") em que o cartão de crédito substitui a varinha mágica. A personagem de Angélica cumpre seu rito de passagem ao se vingar da vendedora de uma loja por quem fora esnobada.
Em meio ao mais explícito darwinismo social, surge, como uma exceção, um sentimento verdadeiro (talvez a idéia legal a que se referia Góes), tratado, no entanto, como mais uma tolice para se vender aos jovens, especialmente os que, por incentivo ou complacência dos pais, passam a adolescência confinados em shoppings, refugiados da realidade.
(TIAGO MATA MACHADO)


Um Show de Verão
 
Produção: Brasil, 2004
Direção: Moacyr Góes
Com: Angélica e Luciano Huck
Quando: a partir de hoje, nos cines Jardim Sul, Metrô Santa Cruz e circuito



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