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ERA UMA VEZ NA AMÉRICA
Em entrevista durante as gravações da novela, diretor fala sobre a dramaturgia brasileira
Monjardim busca o real sem abalar o sonho
DO ENVIADO ESPECIAL A LAJITAS (TEXAS)
Apenas oito autores. Para o diretor Jayme Monjardim, tendências recentes da novela brasileira,
como a aproximação com a realidade, são determinadas pelas
poucas mãos que monopolizam a
teledramaturgia no país.
"A novela depende muito da capacidade de poucos autores para
produzir histórias. A TV vai no
rumo de oito autores, no máximo,
e está nas mãos deles o nosso conceito de novela. A característica
da Glória [Perez] é buscar um tema novo, então as novelas vão
atrás disso; do Manoel Carlos, o
dia-a-dia. São muito poucos autores para uma imagem tão poderosa que a televisão tem", disse, em
entrevista durante as gravações
da novela "América", no Texas.
De volta à TV após fazer o filme
"Olga", Monjardim também vê
na busca por "histórias reais" um
reflexo do esgotamento de tramas
originais.
"É muito difícil encontrar uma
história inédita. São cem anos
contando histórias, só dentro do
cinema. De seis anos para cá, a televisão pegou essa veia das histórias reais e de ter uma participação social maior, de viver uma
realidade dentro daquela história,
mas discutindo os problemas e
tentando trazer uma mensagem
social", afirma.
A aproximação com a realidade,
no entanto, não fará da imigração
ilegal para os EUA o tema principal da novela, acredita Monjardim. Para ele, o grande tema da
novela são os sonhos.
"São 80 personagens e 80 sonhos. Um dos sonhos é o da Sol
[Deborah Secco] de fazer a América. O outro sonho é o do peão
que quer ser campeão de rodeio.
Óbvio que, como a Sol é a protagonista, sobressai a idéia da imigração, mas é mais importante
valorizar o sonho dela do que a
travessia em si."
Mas, se a protagonista realizar o
seu sonho, qual será o impacto de
uma história bem-sucedida no
explosivo problema da imigração
ilegal para os Estados Unidos
num público médio diário de 60
milhões de telespectadores?
"Isso é uma decisão muito da
Glória, mas com certeza não há
nenhum desejo de estimular as
pessoas a partir para a imigração
ilegal. A proposta da novela é
mostrar que não é assim, não é só
chegar lá e atravessar, é preferível
você entrar legalmente, brigar pelo visto. Eu tenho certeza que,
com a novela no ar, muita gente
vai pensar duas vezes em atravessar. Será um benefício para o Brasil e para os Estados Unidos."
E a vida como imigrante na Flórida não recompensará a travessia? "A Glória não vai alimentar o
que é ilegal. Ela pode até atravessar, ser feliz por um tempo, mas
um preço ela vai pagar."
Com a "realidade" ocupada pela
imigração ilegal, a "mensagem
social" da novela terá como tema
a deficiência visual.
"Você sabe qual é o maior desespero do cego nas ruas? É o orelhão. Na bengala, até chegar lá, ele
já bateu com a cabeça no orelhão.
Estou dando isso como um exemplo porque é uma das grandes
campanhas que a gente vai fazer:
conscientizar o governo da necessidade de fazer uma cidade para
os deficientes em geral."
Detenção
A pesquisa sobre imigrantes levou Monjardim várias vezes a
campo durante os últimos seis
meses, período em que visitou
abrigos de imigrantes e chegou a
ser detido por policiais norte-americanos.
O episódio ocorreu quando,
acompanhado da produtora
Cláudia Braga e do ator Thiago
Lacerda, Monjardim gravava
imagens do posto de fronteira entre as cidades de El Paso (Texas) e
Juarez (México). Ele foi obrigado
a ficar apenas de cueca e teve as
gravações apagadas.
"De repente, um cara me agarrou violentamente pelo cabelo e
pela roupa e me fez atravessar
uma fila de mais de cem metros
como se eu fosse um maluco qualquer. Fiquei seis horas bem desagradáveis numa sala sem me darem um motivo. Enquanto não
chegou o FBI [polícia federal],
não fomos liberados", conta. "Eu
entendo [a ação policial], mas a
forma como eles fazem é questionável." (FM)
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