|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O OUTRO LADO DA AMÉRICA
Durante preparação para "América", Deborah Secco trabalhou no McDonald's limpando o chão
"Fui extremamente maltratada", diz atriz
DO ENVIADO ESPECIAL A LAJITAS
Pela primeira vez protagonista
de uma novela, a atriz Deborah
Secco, 25, conta que foi até humilhada enquanto limpava o
chão de uma loja do McDonald's, nos EUA. Tudo parte da
pesquisa para compor Sol, personagem obcecada em "fazer a
América". A seguir, a entrevista
concedida à Folha no curto intervalo de almoço durante as
gravações no Texas.
(FM)
Folha - Como foi a pesquisa para
compor a Sol?
Deborah Secco - Foi a personagem sobre a qual eu mais fiz pesquisa, fiquei um mês aqui nos
Estados Unidos conversando
com pessoas ilegais, vendo o tipo
de trabalho que elas fazem. Conversei com pessoas que perderam parentes na travessia. Consegui conversar com dois coiotes
mexicanos [guias das travessias
ilegais], que foram bem diretos e
cruéis. Eles me passaram a imagem de algo completamente difícil e que não vale nada a pena,
por sonho nenhum. Mas a personagem não tem essa noção do
que vai encontrar pela frente e
acho que a novela também não
mostra ao pé da letra. A morte
até lembramos com dois personagens, mas não chega a abordar o estupro, uma das coisas
que mais foram contadas para
mim na pesquisa.
Folha - Onde você pesquisou?
Secco - Eu fui a Nova York e a
Boston falar com os brasileiros.
Fiquei um dia no McDonald's
trabalhando sem eles saberem
que eu era uma atriz fazendo laboratório. E eu não sei falar a língua, essa barreira foi a mais difícil que encontrei, fui extremamente maltratada. Eram só pessoas negras no McDonald's, eu
não entendia nada do que falavam. Eles me botaram para limpar o chão, eu ficava limpando o
chão, eles pisavam no chão que
tinha acabado de limpar, falavam coisas e riam. Eu fui entrando em completo desespero, e
aquilo foi só um dia. Imagine se
fosse um mês, ia enlouquecer
completamente.
Folha - O que mais lhe chamou a
atenção nessas histórias?
Secco - Tem dois pontos muito
fortes, comuns a todos que entrevistei. Tem a coisa de não ter
emprego no Brasil, às vezes tem
um ótimo currículo, mas não
acha trabalho. E todos me falavam que o que mais os fazia sofrer era a saudade. Eles não podiam voltar para o enterro dos
pais, não viam os sobrinhos nascerem. Quando perguntava sobre a família, todos choravam.
Folha - O que muda fazer as gravações aqui?
Secco - Passamos a viver um
pouco o cotidiano diferente do
nosso. Nas cenas dos primeiros
dias, que era a gente correndo
pelo deserto, se escondendo do
helicóptero, nunca corri tanto
na vida. Isso dá uma realidade de
exaustão, de saudade da família
que é real, não é preciso interpretar. Isso ajuda muito. Talvez
eu, Débora, jamais soubesse o
que é estar aqui, passar sede, fome, correr e cair. Claro que não
sofremos exatamente, mas chega muito perto.
Folha - A sua personagem faz
várias tentativas para chegar aos
EUA. Quem é a mais teimosa, a Sol
ou a Darlene?
Secco - A Sol não é teimosa, ela
busca um sonho para melhorar
a vida da família dela, tem uma
causa melhor. Essa tentativa
vem de um trauma. No primeiro
capítulo, ela ainda é uma criança
e mora numa favela, e a casa está
para ser demolida. Ela se vê sem
a ajuda de ninguém, e nesse dia a
amiga está indo morar com a
madrinha nos EUA. Essa imagem ficou muito forte. A Darlene era uma coisa sem motivo, unicamente por ego.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Intensivo de interpretação prepara ator em 24 horas Índice
|