São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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O OUTRO LADO DA AMÉRICA

Durante preparação para "América", Deborah Secco trabalhou no McDonald's limpando o chão

"Fui extremamente maltratada", diz atriz

DO ENVIADO ESPECIAL A LAJITAS

Pela primeira vez protagonista de uma novela, a atriz Deborah Secco, 25, conta que foi até humilhada enquanto limpava o chão de uma loja do McDonald's, nos EUA. Tudo parte da pesquisa para compor Sol, personagem obcecada em "fazer a América". A seguir, a entrevista concedida à Folha no curto intervalo de almoço durante as gravações no Texas. (FM)

Folha - Como foi a pesquisa para compor a Sol?
Deborah Secco -
Foi a personagem sobre a qual eu mais fiz pesquisa, fiquei um mês aqui nos Estados Unidos conversando com pessoas ilegais, vendo o tipo de trabalho que elas fazem. Conversei com pessoas que perderam parentes na travessia. Consegui conversar com dois coiotes mexicanos [guias das travessias ilegais], que foram bem diretos e cruéis. Eles me passaram a imagem de algo completamente difícil e que não vale nada a pena, por sonho nenhum. Mas a personagem não tem essa noção do que vai encontrar pela frente e acho que a novela também não mostra ao pé da letra. A morte até lembramos com dois personagens, mas não chega a abordar o estupro, uma das coisas que mais foram contadas para mim na pesquisa.

Folha - Onde você pesquisou?
Secco -
Eu fui a Nova York e a Boston falar com os brasileiros. Fiquei um dia no McDonald's trabalhando sem eles saberem que eu era uma atriz fazendo laboratório. E eu não sei falar a língua, essa barreira foi a mais difícil que encontrei, fui extremamente maltratada. Eram só pessoas negras no McDonald's, eu não entendia nada do que falavam. Eles me botaram para limpar o chão, eu ficava limpando o chão, eles pisavam no chão que tinha acabado de limpar, falavam coisas e riam. Eu fui entrando em completo desespero, e aquilo foi só um dia. Imagine se fosse um mês, ia enlouquecer completamente.

Folha - O que mais lhe chamou a atenção nessas histórias?
Secco -
Tem dois pontos muito fortes, comuns a todos que entrevistei. Tem a coisa de não ter emprego no Brasil, às vezes tem um ótimo currículo, mas não acha trabalho. E todos me falavam que o que mais os fazia sofrer era a saudade. Eles não podiam voltar para o enterro dos pais, não viam os sobrinhos nascerem. Quando perguntava sobre a família, todos choravam.

Folha - O que muda fazer as gravações aqui?
Secco -
Passamos a viver um pouco o cotidiano diferente do nosso. Nas cenas dos primeiros dias, que era a gente correndo pelo deserto, se escondendo do helicóptero, nunca corri tanto na vida. Isso dá uma realidade de exaustão, de saudade da família que é real, não é preciso interpretar. Isso ajuda muito. Talvez eu, Débora, jamais soubesse o que é estar aqui, passar sede, fome, correr e cair. Claro que não sofremos exatamente, mas chega muito perto.

Folha - A sua personagem faz várias tentativas para chegar aos EUA. Quem é a mais teimosa, a Sol ou a Darlene?
Secco -
A Sol não é teimosa, ela busca um sonho para melhorar a vida da família dela, tem uma causa melhor. Essa tentativa vem de um trauma. No primeiro capítulo, ela ainda é uma criança e mora numa favela, e a casa está para ser demolida. Ela se vê sem a ajuda de ninguém, e nesse dia a amiga está indo morar com a madrinha nos EUA. Essa imagem ficou muito forte. A Darlene era uma coisa sem motivo, unicamente por ego.

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