São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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Rubens Gerchman morre aos 66 em SP

Artista carioca teve momento de maior sucesso durante a década de 60, quando fez parte de exposições como "Opinião 66"

Uma de suas pinturas, "Lindonéia", inspirou Caetano e Gil na canção homônima; morte foi decorrência de câncer

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

O artista plástico Rubens Gerchman morreu às 4h de ontem, aos 66 anos, no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele enfrentava há quatro anos um câncer raro iniciado no pulmão e estava internado há duas semanas. O velório ocorreu no próprio hospital e o corpo foi cremado às 17h no Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.
Uma das últimas realizações de Gerchman foi o livro com seu nome que integrou a coleção "Portfolio Brasil", lançado em dezembro passado pela editora J. J. Carol. O livro reúne fotos sobre as quais o artista fez interferências.
Ele planejava expor os trabalhos em março, em São Paulo, e em seguida no Rio. Seus filhos pretendem manter a idéia.
Morando na capital paulista há dois anos, Gerchman nasceu no Rio, cidade-tema de parte importante de sua obra. Seus estudos foram no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Nacional de Belas Artes.
Sua fase mais significativa ocorreu nos anos 60, quando trabalhou com artistas como Hélio Oiticica, Carlos Vergara e Roberto Magalhães. Produziu obras marcantes de crítica social, como "Caixas de Morar", "Elevador Social" e "Ditadura das Coisas".

"Lindonéia"
Realizou a primeira exposição em 1964 e participou da histórica mostra "Opinião 66", no Museu de Arte Moderna do Rio. É autor da tela "Lindonéia", inspiradora da canção homônima de Caetano Veloso e Gilberto Gil -gravada por Nara Leão no disco "Tropicália ou Panis et Circensis"- e ícone do tropicalismo.
Realizou experiências pop recorrendo a personagens do noticiário dos jornais e a outros elementos da cultura de massa, que passaram a integrar seu trabalho. Flertou também com outras artes, colaborando com o cineasta Antonio Carlos da Fontoura em "Ver e Ouvir" (1967). Cinco anos depois, filmou "Triunfo Hermético".
Graças a um prêmio do Salão Nacional de Arte Moderna, mudou-se para Nova York em 1968, vivendo nos Estados Unidos até 1972. Quando voltou ao Brasil, o artista intensificou a criação de obras tridimensionais, obtendo grande sucesso com seus objetos múltiplos.

Temas populares
A apropriação de temas como futebol, telenovelas, concursos de miss e histórias em quadrinhos fez de Gerchman um artista plástico popular, mas muitas vezes relegado a segundo plano pela crítica.
Isto não o impediu de ganhar bolsas de fundações importantes, como a norte-americana Guggenheim, e viver em Berlim, na Alemanha, em 1982, como artista residente.
Antes, entre 1975 e 1979, fora diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, afrouxando o academicismo da instituição e criando as bases para o surgimento de artistas da geração 80.
Em 1981, a convite da arquiteta Lina Bo Bardi, que projetou o prédio do Masp, montou o painel de azulejos do Sesc Pompéia. Em São paulo, já havia trabalhado, nos anos 70, com o artista Claudio Tozzi.
Nos anos 80, produziu séries importantes como "Beijo" e "Banco de Trás". A profusão de cores e a leveza dos temas marcaram essa fase, mas a violência urbana foi outro tema que explorou bastante. Na década seguinte, passou muitas das figuras marcantes de seus quadros para esculturas e litografias.
Algumas de suas telas inspiraram o musical "No Verão de 1996", escrito e dirigido por Aderbal Freire-Filho e encenado no teatro Carlos Gomes, no Rio. Entre os livros que registram sua trajetória estão "Gerchman" (1989), com textos do crítico Wilson Coutinho, e "Dupla Identidade" (1993), feito com o poeta Armando Freitas Filho. No último sábado, o bloco Simpatia É Quase Amor desfilou em Ipanema, no Rio, usando camisas com a imagem da obra "Beijo", de Gerchman. O bloco voltará a sair no próximo domingo.
Gerchman teve quatro filhos de dois casamentos, um deles com a artista Anna Maria Maiolino, hoje em São Paulo.


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