São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 1999

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Shakespeare apaixonado

Divulgação
Joseph Fiennes interpreta o dramaturgo e Gwyneth Paltrow é lady Viola em "Shakespeare apaixonado", dirigido por John Madden



Consagrado no Globo de Ouro e forte candidato ao Oscar, filme conquista também o público


ISABEL CLEMENTE
de Londres

Campeão de indicações ao Globo de Ouro, vencedor de três deles -comédia, atriz (Gwyneth Paltrow) e roteiro- e por isso cotadíssimo para o Oscar, "Shakespeare Apaixonado" vem causando furor também na bilheteria.
No último fim-de-semana, nos Estados Unidos, mesmo estando em cartaz em apenas 655 salas -contra 2.339 do campeão "Varsity Blues"-, o filme dirigido por John Madden conseguiu ficar em nono no ranking das maiores bilheterias. Rendeu US$ 3.629.432, o que o colocou no topo da relação de arrecadação por sala: US$ 5.541 -contra US$ 4.521 de "Varsity Blues", cuja bilheteria foi de US$ 10.574.508.
O dramaturgo inglês William Shakespeare, mais famoso por suas tragédias, inspira essa comédia romântica, que mistura personagens e fatos reais e fictícios.
"Shakespeare Apaixonado" narra a história de um jovem William Shakespeare (Joseph Fiennes, de "Beleza Roubada"), atacado por uma crise de falta de criatividade, em pleno "boom" da era do entretenimento incentivada pela rainha Elizabeth 1ª.
Pressionado para escrever uma comédia -gênero teatral mais valorizado então-, cujo título seria "Romeu e Ethel, a Filha do Pirata", Shakespeare encontra inspiração no seu romance impossível com lady Viola de Lesseps (Gwyneth Paltrow), no melhor gênero de "a vida imita a arte".
"Romeu e Julieta" teria nascido assim, impressionando, com seu tom trágico, uma sociedade mais acostumada à comédia.
"O filme todo é pura especulação, mas que tende a ser fiel à natureza do escritor. Muitos atores estavam nervosos com o lado cômico do filme e eu sempre amei esse contraste no tom da história", disse Madden (diretor de "Sua Majestade, Mrs. Brown"), em entrevista concedida em Londres.
²
Ficção x realidade
Apesar da declarada imaginação injetada na biografia pouco conhecida de Shakespeare, há elementos da realidade permeando todo o roteiro escrito pelo dramaturgo Tom Stoppard e por Marc Norman, repleto de referências a muitas das obras do escritor.
Viola de Lesseps nunca existiu. Já o dramaturgo Christopher Marlowe (Rupert Everett) é um personagem real, mais lido e montado do que Shakespeare nos idos de 1580.
Há quem acredite que a morte prematura de Marlowe -ele foi esfaqueado- enterrou junto um nome que teria alcançado ainda mais fama, se o morto tivesse sido Shakespeare.
Apesar da boa recepção que o filme ganhou da crítica norte-americana, John Madden prefere não se empolgar com a idéia de receber algum Oscar.
"É um processo tão bizarro isso de escolher apenas um", diz. Madden se diz mais entusiasmado com as indicações, porque estimulam o público a ver o filme, "o que todo diretor quer".
O elenco escalado para o filme, encabeçado pela queridinha Gwyneth Paltrow e completado por atores consagrados, como Judi Dench e Geoffrey Rush, já poderia garantir seu sucesso.
² Sotaque
A norte-americana Gwyneth Paltrow, 26, caiu nas graças da crítica inglesa em parte devido ao seu indefectível sotaque britânico, já revelado em outros filmes ("Emma" e "De Caso com o Acaso").
"Paltrow parece naturalmente uma musa", derrama-se o diretor, que conta ter se surpreendido ao ouvir da imprensa norte-americana que seu filme faria de Paltrow uma "estrela". "Pensei que ela já fosse uma estrela", disse.
Joseph Fiennes (pronuncia-se Fáines), irmão mais novo de Ralph Fiennes (de "O Paciente Inglês"), consagrou-se neste que é seu quarto filme -ele também tem destaque em "Elizabeth", que estréia em 26 de fevereiro no Brasil.
O elenco de apoio rouba várias cenas. Judi Dench (a rainha Vitória de "Sua Majestade, Mrs. Brown"), indicada ao Globo de atriz coadjuvante, encarna uma bem-humorada rainha Elizabeth.
Geoffrey Rush (vencedor do Oscar por sua atuação em "Shine" e indicado ao Globo de Ouro de coadjuvante deste ano) interpreta o patrocinador de peças e dono de teatro que pressiona Shakespeare a terminar sua obra.
Completam o elenco Ben Affleck ("Armageddon"), Tom Wilkinson e Colin Firth.
A idéia original para o filme tinha sido descartada há seis anos, quando malograram os planos que contavam com a atriz Julia Roberts e o ator Daniel Day-Lewis para protagonizar a história. O roteiro foi reescrito e saiu do papel a um custo de US$ 25 milhões.



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