São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2005 |
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As duas faces do pagode
CARLOS CALADO
Mas o militante Tom Zé não se limita à missão de dissecar e recriar a vertente degenerada do samba. Subintitulado "Na Opereta Segrega Mulher e Amor", o disco serve de veículo para uma denúncia inflamada, mas bem-humorada, da segregação que o homem tem imposto à mulher. "Nasci mulher. Em casa eu era o fraco, apanhava no colégio", diz, explicando a origem de sua empatia pelas desventuras do sexo feminino. "O homem perdeu a possibilidade de a mulher ficar nua junto dele. A roupa é tirada, a transa acontece, mas aquela interseção que a mulher faz para levar o homem ao divino desapareceu. A mulher não tem mais confiança para abrir suas entranhas." Quanto à idéia de utilizar um gênero teatral para discutir esse assunto, Tom Zé lembra que seu namoro com as artes cênicas é antigo. "Venho me aproximando disso. Meus discos são cada vez mais temáticos e contidos num assunto só." Mesmo assim, diz que os shows de lançamento do disco -de sexta a domingo, no Sesc Pinheiros (SP)- não serão muito teatrais. Para desempenhar a seu lado, no disco, os papéis dessa opereta, Tom convocou os cantores Suzana Salles, Luciana Mello, Zélia Duncan, Patrícia Marx, Edson Cordeiro e Jair Oliveira, que assina a produção e divide com ele os arranjos. Já cantoras como Mônica Salmaso e Rebeca Matta não participam das gravações, mas foram homenageadas pelo compositor. "Quis trazê-las para junto de mim", justifica o compositor, orgulhoso por ter suas canções gravadas por essas intérpretes. "Eu, que nunca tinha sido gravado na minha vida, fui um dos artistas mais tocados no ano passado." Carlos Calado é jornalista e crítico musical, autor de "O Jazz como Espetáculo", entre outros livros. Texto Anterior: Crítica: Em novo CD, sambista vence sem golear Próximo Texto: Tom Zé por Zeca Índice |
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