São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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COMIDA

Peixes e frutos do mar salvam pub português

CRÍTICO DA FOLHA

Faz parte deste trabalho visitar esquisitices de São Paulo, à procura do trigo em meio ao joio. Foi com essa curiosidade que me aventurei n'O Marquês, apresentado como um "pub português". Duas coisas me atraíram. Primeiro, a informação de que o proprietário fora sócio da segunda encarnação do restaurante Marquês de Marialva (que, mesmo sem comparar-se à primeira fase, teve méritos); e segundo, a esperança de que um pub, menos luxuoso do que o velho Marialva, poderia ter uma iguaria raríssima: bacalhau de qualidade a preços moderados.
Foi então com curiosidade e esperança que adentrei o curioso pub, que tem de fato suas esquisitices. Começa que é um pub lusitano no bairro oriental (a Liberdade) -colado, é verdade, à Casa de Portugal. Seu espaço, que adentra o subsolo em desníveis, lembra mesmo o de um pub antigo, ou ainda, uma taverna lisboeta, com móveis de madeira escura, paredes de tijolo, um bar no piso inferior e um telão insuportável transmitindo a programação da Globo em plena refeição (e a plenos pulmões).
Os vinhos são pouquíssimos, e aqueles oferecidos em taça no cardápio não estão disponíveis em taça quando pedidos.
O restaurante pertence ao português Mauro Fernandes, 48, em sociedade com seus dois filhos, Leandro Fernandes, 22, e Mauro Fernandes Júnior, 24, ambos estudantes de administração. O pai, que chegou ao Brasil com cinco anos e mais tarde passou a trabalhar na produção de shows de seu irmão, o cantor português Roberto Leal, tornou-se depois sócio de vários pequenos restaurantes, esteve com Leal no segundo Marquês de Marialva (de 1997 até o fechamento da casa, no ano 2000), e atualmente toca também o restaurante O Marquês, da Casa de Portugal.

Risoto e beirute
O pub anexo pretende ser mais informal, ficando aberto até tarde para quem quer ficar bebendo. Para quem quer ficar comendo, a cozinha eclética demonstrou-se bastante irregular -como ponto baixo, vide o risoto de frutos do mar (R$ 16), mole e com gosto enjoativo que parecia misturar grandes doses de tomate e creme de leite. Ou o pesado molho de alcaparras do salmão grelhado muito salgado (R$ 22).
O cardápio oferece ainda pratos tão díspares quanto hambúrgueres e beirutes, sopas e grelhados, massas e porções de petiscos para acompanhar a bebida.
O comando da cozinha é dividido por dois chefs: Márcio Uchoa (que já passou pelas cozinhas do Marquês de Marialva e do bar Supremo) e Florisvaldo Ferreira Simões, o Davi (que trabalhou no restaurante Maria com o chef Luiz Sintra e no Lupaccio).

No tempo certo
Por que então ir ao curioso pub? Uma razão é o fato de que os peixes e frutos do mar são respeitados nos seus cozimentos (mesmo os frutos do mar do risoto eram macios, e o salmão, corretamente úmido); outra ração é o bacalhau, de uma competência inesperada. Na receita mais difícil (porque em posta), à lagareiro (R$ 46), o bacalhau estava tenro, sem excesso de sal, desfazendo-se em flocos brilhantes e saborosos, acompanhado por batatas ao murro, cebola assada, pimentão, brócolis e alho frito no azeite.
Numa cidade onde os restaurantes têm desempenho tão irregular, resta torcer para que o bacalhau do Marquês repita sempre esse desempenho. O mesmo vale para seus bolinhos de bacalhau, sem profusão de batata, sequinhos e crocantes.
(JOSIMAR MELO)

@ - josimar@basilico.com.br


O MARQUÊS
Cotação: $$
Endereço: av. Liberdade, 596, Liberdade, tel. 0/xx/ 11/3207-6512
Funcionamento: de seg. a sáb., das 11h às 16h e das 17h30 ao último cliente
Ambiente: jeito de pub, com pisos descendo para o subsolo; irritante TV ligada
Serviço: sem viço algum
Serviço de vinhos: oferta minúscula
Estacionamento ao lado: R$ 6
Cartões: American Express, Dinners e Visa
Preços: couvert, R$ 7; entradas, de R$ 5 a R$ 39; pratos principais, de R$ 10 a R$ 46; sobremesas, de R$ 2,90 a R$ 8,90


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