São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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Scorsese filma os Stones para o futuro

Diretor diz que seu documentário sobre a banda registra "poderosa performance" que os mais jovens "não poderão ver'

Mick Jagger afirma à Folha que rejeitou os pedidos do diretor para prever sua atuação em cada música; filme estréia nesta sexta

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mick Jagger contou que dormira às cinco da manhã, depois de uma festa; Keith Richards trazia no corpo a mesma roupa com que fora fotografado na noite anterior; Ron Wood saltitava: "Não costumamos fazer filmes, então foi uma baita experiência ontem"; Charles Watts ficou quase mudo.
A Folha, junto com um grupo de jornalistas estrangeiros, encontrou os Rolling Stones num luxuoso hotel de Berlim, no dia seguinte à pré-estréia mundial do documentário de Martin Scorsese sobre a banda, "Rolling Stones - Shine a Light", que chega aos cinemas na próxima sexta-feira.
Scorsese também estava lá para falar do filme, que trata como um legado à posteridade. "No caso dos Stones, tudo o que posso oferecer é a poderosa performance que têm, algo que gerações mais novas não poderão ver", disse o diretor.
Se a perspectiva do fim da banda em atividade desde 1962 é uma sombra por trás do documentário, o que mais sobressai -na tela e nas palavras de Scorsese- é o encantamento com sua resistência ao tempo.

Anos 60
"Eu ouvia a música deles o tempo todo nos anos 60. Foi o período em que mais ouvi música, antes de fazer o meu primeiro curta. A música faz parte da vida. Algumas ficam com você, continuam tendo um significado com o passar do tempo. Outras, não", disse Scorsese.
"Rolling Stones - Shine a Light" traz as músicas que a banda tocou em shows realizados em 29 de outubro e 1º de novembro de 2006, no Beacon Theatre, em Nova York.
As apresentações são intercaladas por imagens de arquivo que percorrem a história da banda e por bastidores dos shows e do próprio filme -como as divergências entre Scorsese e os Stones devidas ao caráter de certo improviso que a banda queria manter, em contraste com o elevado grau de previsibilidade que o diretor gostaria de impor.
"Marty ficava me perguntando como ia ser cada número", conta Jagger. "Eu dizia: "Não sei!" É preciso sentir o público e sentir o que você precisa fazer na hora para envolvê-lo."
Jagger queria que as filmagens fossem feitas no show de Copacabana (2006), mas Scorsese descartou os espaços "gigantes, em que eles ficam parecendo figurinhas no palco", em prol de "filmagens conduzidas para capturá-los no palco e próximos um do outro".
O fato de que é Jagger quem decide como será cada show fica claro no filme. O guitarrista Richards diz que é assim mesmo que deve ser, mas não perde a chance de alfinetar Jagger.
"O cara canta, ok? Ele sobe naquele palco e canta e canta e canta. Se ele diz: "Acho que não consigo cantar essa música hoje" por alguma razão, ok. A gente de fato deixa o cantor escolher. O problema é que você tem que ir atrás do vocalista. Tudo o que eu e [o baterista] Charlie [Watts] fazemos é ficar por perto, tentando deixar as coisas mais seguras para ele. Às vezes, ele vai para o fim do palco e usa o ritmo totalmente errado, canta em alguma escala chinesa. Charlie e eu olhamos um para o outro e dizemos: "Ok, vamos trocar o ritmo"."

Aguilera
Watts também ironiza Jagger quando a pergunta é sobre quem teve a idéia de convidar a norte-americana Christina Aguilera para participar do show. "O Mick. Vamos culpar o Mick [risos]. Quer dizer, nós a convidamos, se você gostar dela. Se não gostar, foi o Mick."
Além de Aguilera, os Stones recebem em "Shine a Light" o jovem Jack White (do White Stripes) e o veterano Buddy Guy. O guitarrista de blues é responsável por "um momento intenso" do filme, segundo Jagger. Richards foi além. "No final do show, dei minha guitarra a ele, porque o que ele fez [no palco] foi realmente demais."
A presença de White representa, para Wood, o intocado poder de atração da banda entre os jovens, "essa mágica que faz com que os fãs dos Stones se sucedam de pai para filho".
Se a "mágica" que os Stones fazem para se manter juntos não é explicada em "Shine a Light", Richards dissolve a questão. "Ei, depois de todos estes anos, o que vou fazer sem eles? Nós amamos o que fazemos. Simples assim. Vou fazer isso até em cadeira de rodas."


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