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Scorsese filma os Stones para o futuro
Diretor diz que seu documentário sobre a banda registra "poderosa performance" que os mais jovens "não poderão ver'
Mick Jagger afirma à Folha que rejeitou os pedidos do diretor para prever sua
atuação em cada música; filme estréia nesta sexta
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Mick Jagger contou que dormira às cinco da manhã, depois
de uma festa; Keith Richards
trazia no corpo a mesma roupa
com que fora fotografado na
noite anterior; Ron Wood saltitava: "Não costumamos fazer
filmes, então foi uma baita experiência ontem"; Charles
Watts ficou quase mudo.
A Folha, junto com um grupo de jornalistas estrangeiros,
encontrou os Rolling Stones
num luxuoso hotel de Berlim,
no dia seguinte à pré-estréia
mundial do documentário de
Martin Scorsese sobre a banda,
"Rolling Stones - Shine a
Light", que chega aos cinemas
na próxima sexta-feira.
Scorsese também estava lá
para falar do filme, que trata
como um legado à posteridade.
"No caso dos Stones, tudo o
que posso oferecer é a poderosa performance que têm, algo
que gerações mais novas não
poderão ver", disse o diretor.
Se a perspectiva do fim da
banda em atividade desde 1962
é uma sombra por trás do documentário, o que mais sobressai -na tela e nas palavras de
Scorsese- é o encantamento
com sua resistência ao tempo.
Anos 60
"Eu ouvia a música deles o
tempo todo nos anos 60. Foi o
período em que mais ouvi música, antes de fazer o meu primeiro curta. A música faz parte
da vida. Algumas ficam com você, continuam tendo um significado com o passar do tempo.
Outras, não", disse Scorsese.
"Rolling Stones - Shine a
Light" traz as músicas que a
banda tocou em shows realizados em 29 de outubro e 1º de
novembro de 2006, no Beacon
Theatre, em Nova York.
As apresentações são intercaladas por imagens de arquivo
que percorrem a história da
banda e por bastidores dos
shows e do próprio filme -como as divergências entre Scorsese e os Stones devidas ao caráter de certo improviso que a
banda queria manter, em contraste com o elevado grau de
previsibilidade que o diretor
gostaria de impor.
"Marty ficava me perguntando como ia ser cada número",
conta Jagger. "Eu dizia: "Não
sei!" É preciso sentir o público e
sentir o que você precisa fazer
na hora para envolvê-lo."
Jagger queria que as filmagens fossem feitas no show de
Copacabana (2006), mas Scorsese descartou os espaços "gigantes, em que eles ficam parecendo figurinhas no palco", em
prol de "filmagens conduzidas
para capturá-los no palco e próximos um do outro".
O fato de que é Jagger quem
decide como será cada show fica claro no filme. O guitarrista
Richards diz que é assim mesmo que deve ser, mas não perde
a chance de alfinetar Jagger.
"O cara canta, ok? Ele sobe
naquele palco e canta e canta e
canta. Se ele diz: "Acho que não
consigo cantar essa música hoje" por alguma razão, ok. A gente de fato deixa o cantor escolher. O problema é que você
tem que ir atrás do vocalista.
Tudo o que eu e [o baterista]
Charlie [Watts] fazemos é ficar
por perto, tentando deixar as
coisas mais seguras para ele. Às
vezes, ele vai para o fim do palco e usa o ritmo totalmente errado, canta em alguma escala
chinesa. Charlie e eu olhamos
um para o outro e dizemos: "Ok,
vamos trocar o ritmo"."
Aguilera
Watts também ironiza Jagger quando a pergunta é sobre
quem teve a idéia de convidar a
norte-americana Christina
Aguilera para participar do
show. "O Mick. Vamos culpar o
Mick [risos]. Quer dizer, nós a
convidamos, se você gostar dela. Se não gostar, foi o Mick."
Além de Aguilera, os Stones
recebem em "Shine a Light" o
jovem Jack White (do White
Stripes) e o veterano Buddy
Guy. O guitarrista de blues é
responsável por "um momento
intenso" do filme, segundo Jagger. Richards foi além. "No final
do show, dei minha guitarra a
ele, porque o que ele fez [no palco] foi realmente demais."
A presença de White representa, para Wood, o intocado
poder de atração da banda entre os jovens, "essa mágica que
faz com que os fãs dos Stones se
sucedam de pai para filho".
Se a "mágica" que os Stones
fazem para se manter juntos
não é explicada em "Shine a
Light", Richards dissolve a
questão. "Ei, depois de todos
estes anos, o que vou fazer sem
eles? Nós amamos o que fazemos. Simples assim. Vou fazer
isso até em cadeira de rodas."
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