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CINEMA/ESTRÉIA
"OSAMA"
Cineasta Siddiq Barmak afirma que idéia de filme nasceu de histórias contadas entre refugiados no Paquistão
'Osama é um nome que cristaliza a dor afegã'
MARJOLAINE JARRY
DO "LE MONDE"
Inspirado numa história verídica, "Osama", de Siddiq Barmak,
utiliza a ficção para nos levar a
sentir a realidade de maneira íntima. Uma realidade feita de angústia e da condenação inapelável da
condição feminina. Leia a seguir
entrevista com o diretor, em que
fala sobre a descoberta de sua
atriz principal e da relação do longa com Osama bin Laden.
Pergunta - "Osama" é inspirado
numa história verídica -a história
de uma menininha que se disfarçou
de garoto, sob o regime do Taleban, para poder ir à escola.
Siddiq Barmak - Li essa história
no jornal depois de fugir do meu
país, o Afeganistão, que caíra sob
o domínio do Taleban.
De início, pensei em fazer um
curta. Depois, aos poucos, fui recolhendo as histórias que vinham
enriquecer o filme, que se tornou
meu primeiro longa-metragem.
Eram as histórias que me contavam os refugiados que, como eu,
chegavam ao Paquistão, as que
povoavam as cartas de meus amigos que ficaram no país.
Pergunta - Como você encontrou
sua heroína?
Barmak - Um filme que relata a
realidade precisa ser feito com
atores não-profissionais. Quando
conheci Marina, que faz o papel
principal, ela estava pedindo esmola na rua. Seu pai tinha ficado
gravemente aleijado depois de ser
espancado pelos talebans. Ela
nunca tinha ouvido falar em cinema. Depois de "Osama", ela trabalhou em dois outros filmes. Eu
e o diretor iraniano Moshen
Makhmalbaf, que me apoiou ao
longo de toda a filmagem, compramos uma casa para ela.
Pergunta - O título de seu filme,
"Osama", soa como o primeiro nome de Bin Laden.
Barmak - "Osama" é o nome que
é dado à garotinha para tentar impressionar as outras crianças, que
duvidam de sua virilidade. Por
trás do medo, que está no cerne
do filme, sempre houve Bin Laden. Osama é um nome que mantém aceso o terror e que cristaliza
o sofrimento dos afegãos. Os outros personagens não têm nome
porque não têm identidade. Eles a
perderam sob o regime do Taleban. Naquele momento, as pessoas eram dominadas pelo medo;
sua única identidade era o pânico.
Tradução Clara Allain
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