São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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CINEMA/ESTRÉIA

"OSAMA"

Cineasta Siddiq Barmak afirma que idéia de filme nasceu de histórias contadas entre refugiados no Paquistão

'Osama é um nome que cristaliza a dor afegã'

MARJOLAINE JARRY
DO "LE MONDE"

Inspirado numa história verídica, "Osama", de Siddiq Barmak, utiliza a ficção para nos levar a sentir a realidade de maneira íntima. Uma realidade feita de angústia e da condenação inapelável da condição feminina. Leia a seguir entrevista com o diretor, em que fala sobre a descoberta de sua atriz principal e da relação do longa com Osama bin Laden.
 

Pergunta - "Osama" é inspirado numa história verídica -a história de uma menininha que se disfarçou de garoto, sob o regime do Taleban, para poder ir à escola.
Siddiq Barmak -
Li essa história no jornal depois de fugir do meu país, o Afeganistão, que caíra sob o domínio do Taleban.
De início, pensei em fazer um curta. Depois, aos poucos, fui recolhendo as histórias que vinham enriquecer o filme, que se tornou meu primeiro longa-metragem. Eram as histórias que me contavam os refugiados que, como eu, chegavam ao Paquistão, as que povoavam as cartas de meus amigos que ficaram no país.

Pergunta - Como você encontrou sua heroína?
Barmak -
Um filme que relata a realidade precisa ser feito com atores não-profissionais. Quando conheci Marina, que faz o papel principal, ela estava pedindo esmola na rua. Seu pai tinha ficado gravemente aleijado depois de ser espancado pelos talebans. Ela nunca tinha ouvido falar em cinema. Depois de "Osama", ela trabalhou em dois outros filmes. Eu e o diretor iraniano Moshen Makhmalbaf, que me apoiou ao longo de toda a filmagem, compramos uma casa para ela.

Pergunta - O título de seu filme, "Osama", soa como o primeiro nome de Bin Laden.
Barmak -
"Osama" é o nome que é dado à garotinha para tentar impressionar as outras crianças, que duvidam de sua virilidade. Por trás do medo, que está no cerne do filme, sempre houve Bin Laden. Osama é um nome que mantém aceso o terror e que cristaliza o sofrimento dos afegãos. Os outros personagens não têm nome porque não têm identidade. Eles a perderam sob o regime do Taleban. Naquele momento, as pessoas eram dominadas pelo medo; sua única identidade era o pânico.


Tradução Clara Allain


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