São Paulo, sábado, 30 de abril de 2005

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"Instinto de Repórter", de Elvira Lobato, compila e explica 11 reportagens publicadas na Folha nos últimos 20 anos

Obra testa limites do jornalismo investigativo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nos últimos meses, vem se intensificando a discussão entre os especialistas na área sobre o destino dos jornais impressos. Seus índices de leitura têm caído ou estacionado em praticamente todos os países e aumentam as previsões de que seu futuro pode não ser longo nem promissor.
O debate é útil para todos os que acreditam na importância desse meio de comunicação de massa para o aprimoramento e a manutenção de valores da democracia na sociedade, embora seja praticamente impossível se chegar a um consenso sobre as causas do problema e sobre fórmulas para evitá-lo ou atenuá-lo.
Um fator freqüentemente apontado como um dos determinantes da situação diagnosticada é a diminuição paulatina das grandes reportagens ou das reportagens investigativas nas páginas dos diários. Na mesma linha, mais investimento nesse gênero jornalístico figura também comumente na lista dos paliativos para a presente condição.
O lançamento do livro "Instinto de Repórter", de Elvira Lobato, repórter especial desta Folha, deve ser saudado como uma contribuição significativa para o indispensável auto-exame que os praticantes do jornalismo impresso precisam realizar para no mínimo entender o que vivem.
Elvira Lobato é uma das melhores repórteres de sua geração. Aguerrida, independente, precisa, tem dado aos jornais por onde passou, e especialmente a este, onde trabalha há 21 anos, uma enorme contribuição, assim como ao Brasil.
Ela escolheu 11 reportagens publicadas nas duas últimas décadas para compor o livro e resolveu contar a gênese, o processo de elaboração e algumas conseqüências de cada uma delas. É um exercício de grande serventia para um público enorme, dos colegas aos leitores, mas especialmente para estudantes.
Uma das lições que o livro ensina (a exemplo de outro clássico, "Todos os Homens do Presidente", de Bob Woodward e Carl Bernstein) é a demonstração da enorme importância da aplicação metódica na busca de informações, por meio de rotinas geralmente aborrecidas, como a consulta cotidiana do "Diário Oficial da União".
Lobato levanta também importantes temas éticos. Por exemplo: é legítimo para o repórter usar identidade falsa para obter informações? Ela agiu assim algumas vezes. "Quando a situação exige, digamos assim, instrumentos pouco ortodoxos de apuração, tomo minha decisão baseada nos seguintes quesitos: o assunto é de interesse público? É jornalisticamente relevante? A sociedade ganhará com a revelação desse fato?", argumenta ela.
Acredito que esses critérios são excelentes, mas de enorme subjetividade. Em minha opinião, o ideal seria o jornalista sempre se identificar como tal e nunca se passar por outro. Mas sem dúvida este é um tema em aberto, que requer reflexões realmente profundas porque a banalização ou mesmo o emprego injustificável uma única vez de "instrumentos pouco ortodoxos" podem provocar perda de credibilidade para o veículo e para o profissional. E credibilidade é uma das características absolutamente vitais para o jornalismo.
Este é apenas um dos muitos pontos fundamentais para o jornalismo que "Instinto de Repórter" levanta para a indispensável troca de idéias que deveria acompanhar a prática da profissão o tempo todo.
Se na edição do livro tivesse sido incluído índice onomástico, sua utilidade para pesquisadores e estudantes teria se tornado ainda maior. Trata-se de obra de consulta. Portanto, deve facilitar ao máximo a consulta.
Como "Instinto de Repórter" tem tudo para ser um sucesso de vendas, fica a sugestão para que se inclua o índice onomástico nas suas próximas edições.


Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas
Instinto de Repórter
   
Autora: Elvira Lobato
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 39 (288 págs.)


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