|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Em "O Anjo Azul", carne sobressai ao espírito
INACIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É quase impossível ver "O
Anjo Azul" (TC Cult, 12h; 12
anos) com os mesmos olhos
depois de ler Jean Renoir falando de Marlene Dietrich.
Marlene, diz ele, era uma alemã corpulenta, uma mulher
com tipo de camponesa, bem
acolchoada, que a moderna indústria do cinema obrigou a
emagrecer até que só lhe restassem pele e ossos.
A ideia geral é essa, em todo
caso. Jean Renoir ria da "mulher fatal", como a estrela de
cabaré que, no filme de 1930 de
Joseph von Sternberg, seduz o
pobre e tirânico professor vivido por Emil Jannings, que se
julgava acima das tentações.
Na verdade, essa divergência
exprime duas maneiras de estar no cinema. Jean Renoir era
um moderno "avant la lettre":
era da matéria que tratava o
seu cinema. Já o cinema do diretor Josef von Sternberg, barroco, era tortuoso na luz, na decoração, no andamento, buscava se afirmar como expressão
de ideias acima da matéria.
Paradoxalmente, no longa-metragem "O Anjo Azul", a
ideia é de supremacia da carne
sobre o espírito. A carne que,
para Jean Renoir, faltava a
Marlene Dietrich.
Texto Anterior: Televisão/O melhor do dia Próximo Texto: José Simão Índice
|