São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

Em "O Anjo Azul", carne sobressai ao espírito

INACIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É quase impossível ver "O Anjo Azul" (TC Cult, 12h; 12 anos) com os mesmos olhos depois de ler Jean Renoir falando de Marlene Dietrich.
Marlene, diz ele, era uma alemã corpulenta, uma mulher com tipo de camponesa, bem acolchoada, que a moderna indústria do cinema obrigou a emagrecer até que só lhe restassem pele e ossos.
A ideia geral é essa, em todo caso. Jean Renoir ria da "mulher fatal", como a estrela de cabaré que, no filme de 1930 de Joseph von Sternberg, seduz o pobre e tirânico professor vivido por Emil Jannings, que se julgava acima das tentações.
Na verdade, essa divergência exprime duas maneiras de estar no cinema. Jean Renoir era um moderno "avant la lettre": era da matéria que tratava o seu cinema. Já o cinema do diretor Josef von Sternberg, barroco, era tortuoso na luz, na decoração, no andamento, buscava se afirmar como expressão de ideias acima da matéria.
Paradoxalmente, no longa-metragem "O Anjo Azul", a ideia é de supremacia da carne sobre o espírito. A carne que, para Jean Renoir, faltava a Marlene Dietrich.


Texto Anterior: Televisão/O melhor do dia
Próximo Texto: José Simão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.