São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2000 |
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DISCO/LANÇAMENTOS O anjo e o pecador
MARCELO VALLETTA DA REDAÇÃO E ste diamante é negro, mas brilha. "Black Diamond", o primeiro álbum solo da cantora norte-americana Angie Stone, bebe na fonte da melhor soul music dos anos 70 (e dos 90 também). Reabilitada nos últimos anos por cantoras como Mary J. Blige, Erykah Badu e a rapper/soulwoman Lauryn Hill -ex-Fugees, responsável por um dos melhores discos da música pop norte-americana da década, "The Miseducation of Lauryn Hill" (98)-, a soul music ganha, com Angie Stone, mais uma voz invulgar. A cantora é veterana no "métier" musical, apesar de estar lançando somente agora seu primeiro trabalho. Ela fez parte de um dos primeiros grupos femininos de rap dos EUA, chamado Sequence, que não alcançou o sucesso do Salt'n'Pepa, surgido pouco depois. Ela também fez parte do trio Vertical Hold, como principal vocalista. Mas o sucesso veio mesmo com "Black Diamond", gravado durante o ano passado. O disco, com 16 faixas, traz participações especiais de músicos de destaque da nova soul music norte-americana, como D'Angelo -seu marido, com quem tem um filho- e Lenny Kravitz, outro "setentista" convicto. Os temas do disco passeiam pela inspiração religiosa -o encarte do CD traz uma citação da Bíblia por página- e por caminhos mundanos, como no r'n'b "Just a Pimp". A voz soul de Angie brilha em "Bone 2 Pic (Wit U)", "Baby Slow Down", "Heaven Help", "Life Story" -que ganha um remix "jazz hop" no final do disco- e em "Trouble Man", composição do ídolo Marvin Gaye recriada com competência. O funk também marca presença em "Black Diamond". O estilo aparece lento e pesado em "Love Junkie" -composta por Angie- e deliciosamente dançante em "My Lovin" Will Give You Something" -com guitarra wah-wah e uma linha de baixo contagiante. "Black Diamond" é retrô, mas possui um frescor raro na atual black music norte-americana. E Angie Stone não alisa o cabelo, como as insossas "divas" Toni Braxton e Whitney Houston. Black Diamond Artista: Angie Stone Lançamento: BMG Quanto: R$ 20, em média
PAULO VIEIRA ESPECIAL PARA A FOLHA O rapper Ice T não perdeu a oportunidade de fazer trocadilho ao chegar ao sétimo disco, este "7th Deadly Sin". Ele não diz em suas rimas, mas, dos sete, o pecado capital mais apropriado para definir a obra é a preguiça. Ele não lançava disco solo desde 96. Inspirado na sonoridade de bases soturnas dos nova-iorquinos do Mobb Deep, criou uma ambiência hipnótica, que funciona bem em temas como "Check Your Heart". Mas o tempo passou rápido, especialmente para quem começou lá nos primórdios, no meio dos 80, e já não consegue rimar com a velocidade e a cólera dos mais novos. Pioneiro do gangsta, Ice T surgiu estampando uma metralhadora Uzi em sua primeira capa; ganhou a posteridade com "Colors", a faixa-título que sintetizou o celebrado filme de Denis Hopper. Atingiu o pico com "Cop Killer", o rap antipolicial de maior repercussão do gênero. O narrador, morto, contava sua tragédia de vítima da violência policial. O recurso narrativo seria copiado pelo mundo, por Snoop Doggy Dogg e Racionais MCs, entre outros. Nos 90, teve a coragem de se lançar em projetos de white metal com o Body Count, tocando em Lollapaloozas e saindo do gueto para conquistar a classe média branca. Desde então, Ice T começou a perder o viço, dando mais atenção ao cinema do que propriamente ao microfone. Com tal biografia, seria mesmo difícil se superar. Usou então recursos fáceis, como sintonizar-se com a batida em voga -do rap hardcore- e, tematicamente, fazer a peroração conhecida, afirmando que "gangstas estão mortos" ou "não odeie o jogador/ odeie o jogo" etc. A divisão nos sete pecados (alguns omitidos) acabou por dar originalidade na divisão das 21 faixas do disco. Como era de esperar, a inveja -sempre praticada muito mais pelos outros, diga-se- ganhou em menções. Um disco que não fica para a história. Ainda assim, o pai da violência desmedida da Costa Oeste não é (ainda) cantor de bossa nova, banquinho e violão. 7th Deadly Sin Artista: Ice T Lançamento: Roadrunner Quanto: R$ 20, em média Texto Anterior: Televisão: "Ryan" é estrela em mês de guerra do Telecine Próximo Texto: Outros lançamentos Índice |
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