São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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Lars von Trier antecipa Dogma em "O Reino"

DA REDAÇÃO

Lars von Trier hoje é sinônimo de sentimentos antiamericanos, um cineasta que adora fazer mulheres lindas sofrerem, em filmes como "Dogville". Se neste último, com Nicole Kidman, Von Trier usa certas referências a filmes de terror -como personagens chamados Jason e Chuck-, na série "O Reino" ("Riget"), feita em 94 para a TV dinamarquesa, as alusões eram mais explícitas.
A trama se passa num hospital mal-assombrado na Dinamarca chamado O Reino, que se torna símbolo e referência de sofisticação para a região. Lá pelos idos de 1919, um dos fundadores assassina sua filha ilegítima.
O espírito da garota e outros fantasmas irão perturbar o cotidiano do hospital. Não que "O Reino" seja freqüentado por pessoas ditas normais, pelo contrário, já que estamos falando de um filme de mais de quatro horas de Von Trier.
Certos preceitos que mais tarde tornariam seu Dogma 95 conhecido no mundo inteiro ajudaram a tornar a produção ainda mais claustrofóbica, com suas câmeras trêmulas e cores saturadas.
Von Trier abusa do conceito do fantástico, mas a série traz também temas que viriam a caracterizar mais tarde a obra do diretor, como esquisitices diversas, humor negro, uma certa crítica social e culpa cristã, além da oposição entre a racionalidade (e incapacidade) da ciência e o sobrenatural.
No mais, a trama e os nomes dos personagens são quase idênticos à nova versão da série, de Stephen King. Uma senhora hipocondríaca, Sigrid Drusse, faz de tudo para conseguir entrar no hospital; mais tarde, irá ouvir choros da menina-fantasma -a assombração está presa no hospital e tenta ir ao "reino das luzes". Entre as peculiaridades dessa versão original estão o arrogante neurocirurgião-chefe, Stig Helmer, que passa a maior parte do tempo defendendo a superioridade dos suecos em relação aos dinamarqueses; e o casal de deficientes mentais que funciona como um coro grego.
Na época, "O Reino" foi muito comparado ao igualmente bizarro "Twin Peaks", de David Lynch. Não é para menos. Entre outros tipos e situações surreais, Von Trier presenteia o espectador com cabeças decapitadas dentro de congeladores, transplantes de fígado canceroso em pessoas saudáveis, um residente que ri de cadáveres etc. Houve ainda "O Reino 2", em 1997, que deu prosseguimento aos acontecimentos da série, em ritmo ainda mais esquizofrênico. (BYS)

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