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Europa se curva ao kuduro (epa!)
Mistura de eletrônico com percussão angolana, gênero é tocado por DJs famosos, como Diplo, e é atração de festival no Rio
Daniela Mercury vê semelhanças com samba-de-roda; DJ Marlboro diz que parece funk carioca; o significado... é esse mesmo
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
O nome é kuduro e quer dizer
isso mesmo. Bunda dura. O ritmo nasceu em Angola, país africano de língua portuguesa, e foi
batizado como uma piada
pronta para ilustrar qual é o alvo de suas batidas. E foi-se o
tempo em que o alvo de suas
batidas estava apenas nos terrenos improvisados em que são
montados shows e festas em
Luanda. Há cerca de um ano, o
ritmo foi levado à Europa pelos
portugueses e fez parada obrigatória nos clubes ingleses.
Chega definitivamente ao
Brasil neste sábado, quando o
combo português Buraka Som
Sistema se apresenta no evento
Baile Skol, no Rio, ao lado de
nomes tradicionais do funk carioca, como o DJ Marlboro.
A divisão de palco com o funk
carioca não é à toa. Não são
poucas as semelhanças entre as
duas músicas. O kuduro foi
criado em Angola há pouco
mais de dez anos, mas sua inspiração maior veio de fora: das
batidas eletrônicas da house e
do tecno. Músicos de Luanda
como Tony Amado e Sebem
adicionaram tambores e percussão e, em cima de tudo, vocais que lembram os dos rappers norte-americanos. Suas
letras podem conter tanto comentários sociais e políticos
como histórias sacanas.
"O linguajar é o mesmo, vem
do gueto", diz Marlboro, comparando o kuduro com o funk
carioca. "As batidas é que são
um pouco diferentes. O funk
tem mais influências do samba,
do funk americano. As do kuduro são mais da dance music,
batidas mais retas. Mas, na hora de dançar, é a mesma coisa."
A conexão kuduro-Brasil não
acontece apenas pelo funk carioca. Daniela Mercury colocou
em seu último disco, "Balé Mulato ao Vivo", a canção "Quero a
Felicidade", que traz clara influência de kuduro.
"Eu adoro o kuduro", conta a
cantora. "Ele parece muito com
o samba-de-roda. A célula do
samba-de-roda pode ser tocada
em cima do kuduro. É delicioso
para dançar." O kuduro não é
estranho ao Carnaval de Salvador. Um dos principais artistas
angolanos, Dog Murras, já cantou em trios elétricos. "Compus "Quero a Felicidade" ouvindo Dog Murras. Eu e meus bailarinos aprendemos as coreografias que eles fazem com o jogo de pernas", conta Mercury.
"A cadência rítmica, os BPMs
[quantidade de batidas por minuto de uma canção] são semelhantes aos do axé. O suingue é
bem parecido", explica Dog
Murras, por telefone, à Folha.
Popularidade
Apesar de relativamente novo, o kuduro tornou-se bastante popular entre os jovens angolanos e de outros países, como Cabo Verde. "É a maior manifestação cultural de Angola",
afirma Dog Murras. "Atende
todas as camadas socais."
Se hoje o kuduro é tocado em
clubes importantes da Europa
(como o Fabric, de Londres),
por DJs conhecidos -como o
norte-americano Diplo (um
dos descobridores do Bonde do
Rolê) e o britânico Sinden-, isso acontece muito devido ao esquema de produção e divulgação dessa música.
Sem dinheiro, os produtores
e DJs gravam em computadores pessoais. "Muitos fazem kuduro totalmente eletrônico. Eu
trabalho com tambores, reco-reco e outros instrumentos tradicionais."
Grava-se uma ou duas músicas. Aí, passa-se para ambulantes, que vendem na rua. O principal meio de divulgação são os
candongueiros (táxi para 12
pessoas). "As crianças que vão
para a escola, o povo que vai
trabalhar, todos usam esse veículo. Então é a melhor forma de
divulgação", diz Murras. "Se fizer sucesso, os músicos ganham com os shows." Lembra o
tecnobrega do Pará, não?
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