Formado por oito mulheres, grupo que lotou o Sesc Pompéia no início do ano volta com novo repertório

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas pensaram em Samba na Cozinha. Porque eram oito mulheres, tocando sambas de outras mulheres. Não houve consenso. "Sem essa de mulherada no fogão", reclamou alguém.
Virou Samba de Rainha. O "reino" se resumia então à casa de uma aprendiz de cavaquinho que queria "fazer um barulho". "Ninguém tocava nada", admite Núbia Maciel, 40, a voz principal dentre as neo-sambistas. "Nasci em Teresópolis [RJ], trabalhava em loja, nunca tinha cantado na vida."
Há quatro anos, convidadas a se apresentar num bar em troca de umas cervejinhas, resolveram "aprender a tocar de verdade". Passaram a compor, gravaram um CD ("Isso É Samba de Rainha") e angariaram fãs, a princípio no Vermont Itaim, bar de público GLS em SP.
"É louco o carinho que as pessoas têm pela gente. Começamos tocando para uma galera que dizia: "Eu nem sabia que gostava de samba". Hoje, tem também gente de mais idade que curte o nosso som, porque nossos shows têm Dalva de Oliveira, Ary Barroso...", conta Núbia, 40, que fez com o grupo, no início do ano, sua primeira turnê pela Europa, passando por Portugal e Inglaterra.
O caráter de improviso faz parte de toda a curta porém bem-sucedida trajetória do octeto, que lança hoje e amanhã, na choperia do Sesc Pompéia, em São Paulo, o seu segundo CD, "Vivendo Samba" -com produção delas e de T.Kaçula.
É o mesmo lugar (800 lugares) que, no começo deste ano, ficou lotado e ainda deixou uma pequena multidão do lado de fora do portão durante um show no projeto Prata da Casa.
Um ou outro clássico (e a já "clássica" versão samba que criaram para "Satisfaction", dos Rolling Stones) deve estar nos shows de hoje e amanhã, mas o repertório é centrado no disco novo -que inclui só uma regravação, de "Retalhos de Cetim", de Benito di Paula. As outras 14 faixas são inéditas, sendo dez de autoria delas ("Principalmente da Aidée [Cristina], nossa maquininha de fazer música"), com levadas do samba de lamento ao samba-enredo.