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ANÁLISE
Cinema perde um de seus maiores
rebeldes
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
Com a morte de Dennis
Hopper, o cinema perdeu um
de seus maiores rebeldes.
Um ator intenso e um criador
que sempre fez tudo à sua
maneira, para o bem e para
o mal.
Hopper foi um artista dos
excessos: excesso de talento,
de triunfos, de fracassos, de
álcool e de drogas. Um homem que não conheceu a
calmaria e viveu 74 anos numa montanha-russa de trevas e triunfos.
Logo no início da carreira,
depois de emendar dois filmes com James Dean ("Juventude Transviada", 1955, e
"Assim Caminha a Humanidade", 1956), Hopper ganhou fama de ator difícil, dado a explosões de fúria causadas por bebida e drogas.
Em 1969, dirigiu "Sem
Destino" ("Easy Rider"), um
marco do cinema independente. O sucesso do filme
abriu as portas para uma fantástica geração de diretores
que dominou Hollywood nos
anos 70, como Francis Ford
Coppola, Martin Scorsese,
Arthur Penn, William Friedkin, Michael Cimino, Hal
Ashby e muitos outros.
O triunfo de "Sem Destino" mexeu com a cabeça de
Hopper. Por anos, um pesado usuário de cocaína e ácido, ele mergulhou de vez na
loucura da era hippie. Em
1970, casou-se com Michelle
Phillips, do grupo The Mamas & the Papas. O casamento durou oito dias e foi anulado depois que Hopper ameaçou a mulher com uma arma.
Em 1971, Hopper foi ao Peru filmar "The Last Movie".
Com o ego inflado pelo sucesso e a razão comprometida pelas três gramas de cocaína que cheirava no café da
manhã, Hopper fez um faroeste surrealista que só ele
entendeu. Foi um fracasso e
colocou-o na lista negra dos
estúdios de Hollywood.
Por quase 15 anos, o ator
mendigou papéis em filmes
menores. Amigos e fãs como
Wim Wenders e Coppola vieram em seu socorro. Wenders escalou-o em "O Amigo
Americano" (1977) e Coppola
em "Apocalypse Now"
(1979), contrariando até Marlon Brando, que se recusava
a contracenar com Hopper.
A carreira dele ressuscitou
inesperadamente em 1986,
quando David Lynch lhe deu
o papel do sádico Frank
Booth em "Veludo Azul"
(1986). "David não salvou só
a minha carreira, ele salvou a
minha vida", disse Hopper
em 1994, durante entrevistas
para o lançamento de "Velocidade Máxima". "Se eu tenho arrependimentos? Claro
que tenho", disse o ator. "Eu
gostaria de não ter cheirado
tanto nos anos 1970 e 1980.
Pelo menos, eu poderia me
lembrar de algo que fiz naqueles anos."
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