São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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ANÁLISE

Cinema perde um de seus maiores rebeldes

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Com a morte de Dennis Hopper, o cinema perdeu um de seus maiores rebeldes. Um ator intenso e um criador que sempre fez tudo à sua maneira, para o bem e para o mal.
Hopper foi um artista dos excessos: excesso de talento, de triunfos, de fracassos, de álcool e de drogas. Um homem que não conheceu a calmaria e viveu 74 anos numa montanha-russa de trevas e triunfos.
Logo no início da carreira, depois de emendar dois filmes com James Dean ("Juventude Transviada", 1955, e "Assim Caminha a Humanidade", 1956), Hopper ganhou fama de ator difícil, dado a explosões de fúria causadas por bebida e drogas.
Em 1969, dirigiu "Sem Destino" ("Easy Rider"), um marco do cinema independente. O sucesso do filme abriu as portas para uma fantástica geração de diretores que dominou Hollywood nos anos 70, como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Arthur Penn, William Friedkin, Michael Cimino, Hal Ashby e muitos outros.
O triunfo de "Sem Destino" mexeu com a cabeça de Hopper. Por anos, um pesado usuário de cocaína e ácido, ele mergulhou de vez na loucura da era hippie. Em 1970, casou-se com Michelle Phillips, do grupo The Mamas & the Papas. O casamento durou oito dias e foi anulado depois que Hopper ameaçou a mulher com uma arma.
Em 1971, Hopper foi ao Peru filmar "The Last Movie". Com o ego inflado pelo sucesso e a razão comprometida pelas três gramas de cocaína que cheirava no café da manhã, Hopper fez um faroeste surrealista que só ele entendeu. Foi um fracasso e colocou-o na lista negra dos estúdios de Hollywood.
Por quase 15 anos, o ator mendigou papéis em filmes menores. Amigos e fãs como Wim Wenders e Coppola vieram em seu socorro. Wenders escalou-o em "O Amigo Americano" (1977) e Coppola em "Apocalypse Now" (1979), contrariando até Marlon Brando, que se recusava a contracenar com Hopper.
A carreira dele ressuscitou inesperadamente em 1986, quando David Lynch lhe deu o papel do sádico Frank Booth em "Veludo Azul" (1986). "David não salvou só a minha carreira, ele salvou a minha vida", disse Hopper em 1994, durante entrevistas para o lançamento de "Velocidade Máxima". "Se eu tenho arrependimentos? Claro que tenho", disse o ator. "Eu gostaria de não ter cheirado tanto nos anos 1970 e 1980. Pelo menos, eu poderia me lembrar de algo que fiz naqueles anos."


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