São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 2011 |
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Artistas do Muro processam Berlim Retirada e reprodução não autorizada de obras para restauração geram pedidos de indenização de até 25 mil euros Nos 20 anos da queda, cidade apagou imagens deterioradas e ofereceu 3.000 euros para repintura das obras
DENISE MENCHEN DE BERLIM Dois anos após a restauração da East Side Gallery, trecho do Muro de Berlim transformado em galeria de arte a céu aberto, três artistas decidiram recorrer à Justiça alemã contra a destruição e reprodução de suas obras como parte do processo de revitalização do local. Os pedidos de indenização variam entre 3 mil e 25 mil euros (de R$ 6.900 a R$ 57.500). Bodo Sperling, Carmen Leidner Heidrich e Hans Jürgen Grösse, conhecido como Indiano, estavam entre o grupo de mais de cem artistas que pintaram um trecho de cerca de 1,3 km do Muro depois que a fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental foi aberta, em 1989. As obras, na face do Muro voltada para Berlim Oriental, foram feitas com autorização do governo da então República Democrática Alemã, depois reunificada à República Federal da Alemanha. Hoje, a East Side Gallery é um dos poucos pontos da cidade onde o muro ainda está de pé. Em 2009, por conta das comemorações dos 20 anos da queda do muro, o governo da cidade decidiu restaurar a galeria, que estava bastante deteriorada. Para isso, optou por remover todas as pinturas da parede com jato de areia e convocar os artistas a refazê-las ou a autorizar sua reprodução por terceiros após a recuperação da estrutura do muro. Nos dois casos, foi feita uma oferta de 3.000 euros (cerca de R$ 6.900). PRESSÃO Alguns artistas, porém, não aceitaram a proposta. Bodo Sperling, autor de uma imagem que usa figuras geométricas para dar aparência de movimento ao concreto, associou-se a outros 14 colegas para pressionar a administração de Berlim a rever sua posição. "Todos os anos, cerca de 700 mil pessoas de todo o mundo visitam a East Side Galery. Depois do Portão de Brandemburgo, ela é principal atração de Berlim, que ganha somas milionárias com isso. E os artistas têm que repintar suas obras por 3.000 euros?", questiona Sperling. A forma escolhida para essa restauração da East Side Gallery também desagradou. "Muitos, inclusive eu, queriam restaurar as pinturas de forma a salvar algumas marcas do tempo e alguns dos comentários escritos ao longo dos anos, no que chamamos de "site specific art'", diz o artista. "O próprio governo já tinha estudado, em 1995, uma forma de remover as obras do muro para depois reaplicá-las na estrutura já restaurada. Uma obra chegou a ser restaurada assim em 2000." Apesar das críticas, todas as pinturas acabaram removidas conforme o plano inicial. Sperling, então, se recusou a refazer o seu trabalho. CÓPIAS Hoje, a parte do Muro onde antes ficava seu desenho está em branco. Já as obras de Carmen Leidner Heidrich e Hans Jürgen Grösse foram refeitas por terceiros -segundo eles, sem autorização. Para o advogado Hannes Hartung, que representa os três artistas, houve desrespeito aos direitos autorais. "Não é porque a obra está em local público que ela não está protegida por direitos autorais. As pinturas foram feitas por artistas e com a autorização do governo, são obras legais, não são grafite", diz o advogado. Ele explica que entrou com dois processos diferentes. No primeiro, pede indenização de 25 mil euros (cerca de R$ 57,5 mil) pela destruição da obra de Sperling. No segundo, pede 3.000 euros (R$ 6.900) para cada um dos artistas que tiveram suas obras copiadas. Segundo Hartung, porém, nada impede que esses dois acionem a Justiça também pela destruição de suas obras. O advogado diz ainda que cerca de 15 outros artistas aguardam o resultado do julgamento da causa corrente para avaliar se entram ou não com processo semelhante na Justiça. O governo da cidade de Berlim foi procurado, mas não quis comentar. Texto Anterior: Música: João Donato se apresenta hoje no Citibank Hall em SP Próximo Texto: Frase Índice | Comunicar Erros |
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