|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em tensão pré-milênio, Tricky
exorciza nossos demônios
da Redação
Só mais isso de Portugal: é uma
oportunidade estar numa cidade
que, coincidentemente tem naquela noite um show de um artista
como Tricky.
Um dos mais expressivos e impressionantes nomes de sua geração, o músico e compositor é, goste-se ou não de seu trabalho, uma
antena para a cultura jovem moderna. Merece atenção.
Neste show de lançamento de seu
novo disco, "Pre Millenium Tension", Tricky se mostra um artista
à flor da pele, intenso e verdadeiro.
Em Lisboa, a apresentação aconteceu num auditório redondo, sem
cadeiras, chamado Colliseum,
com a estrutura de um.
O público ficava no escuro. Os
artistas também. No palco, a única
iluminação vinha de trás, spots
azuis ou verdes; ou uma luz vermelha tipo poste sobre Tricky.
Nunca todas ao mesmo tempo.
No contraluz, a bela Martina,
musa e cantora, vestia uma longa
bata cor de creme, leve.
Tricky, por sua vez, era uma
imagem inesquecível. Pura cultura
de rua. Vestia uma t-shirt larga (tipo as que eram vendidas depois do
show, no saguão do teatro), em
tom sépia, e uma calça comum.
Não se via seu rosto. De vez em
quando, sob determinado ângulo,
dava para vislumbrar alguma fisionomia e era assustador. Uma
espécie de lúcifer urbano, de feições contraídas, esquisitas. Ao
cantar, e chacoalha inteiro, num
transe ou ataque epilético.
Sua cabeça mexe desesperadamente de um lado para outro; a voz
sai monocórdica e melodiosa,
quase sempre incompreensível. É
sombrio.
Tricky parece ir fundo dentro de
suas trevas. Volta e transforma dor
e confusão mental em voz, em expressão pessoal e coletiva. Alguém
precisa fazer isso pela gente, já que
Courtney Love, por exemplo, agora é top model da "Vogue" e usa
Versace no Oscar.
Martina entoa a tristonha "Make Me Wanna Die"; Tricky comanda a descolada e alternativa banda
nas bases que lhe deram a fama.
Uma experiência.
(EP)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|