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CINEMA
Ciclo dedicado ao cineasta francês leva ao Espaço Unibanco, em São Paulo, seis filmes legendados em espanhol
Mostra de René Clair Parlant traduz "cinepoesia" de Paris
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Nunca é tarde demais para descobrir René Clair (1898-1982).
Houve uma época em que Clair
era um sinônimo de cinema francês, formando ao lado de Jean Renoir ("As Regras do Jogo") e Marcel Carné ("O Boulevard do Crime") um trio complementar e insuperável.
A mostra René Clair Parlant,
que o Espaço Unibanco de Cinema e o Consulado da França realizam de hoje até o dia 6 de julho,
funciona como uma boa introdução à sua obra urbana e dinâmica,
mas sempre delicada, ainda que
deixe de fora os marcos da era
muda ("Entracte", por exemplo)
e sua riquíssima experiência
hollywoodiana (quatro filmes entre 1940 e 1948, entre os quais o estupendo "O Tempo É uma Ilusão", de 1944).
O ciclo reúne seis títulos, com
cópias legendadas em espanhol,
abarcando 25 anos de cinema.
Clair foi talvez o primeiro grande poeta cinematográfico de Paris, ao lado do Alberto Cavalcanti
de "Rien Que les Heures".
Há ecos de seu pioneiro "Paris
Que Dorme" ("Paris Qui Dort",
1923) no primeiro filme da mostra, o lírico "Sob os Tetos de Paris"
("Sous les Toits de Paris", 1930).
Em seu primeiro filme sonoro,
Clair ainda resistia em abandonar
o esperanto visual que ele, Chaplin, Griffith e Murnau, entre outros, haviam desenvolvido na era
do cinema mudo.
A música cumpre função dramática superior aos diálogos em
seu retrato dos subúrbios pobres
parisienses transformados em cenário para uma querela amorosa.
Em "14 de Julho" ("14 Julliet",
1932), Clair encena outra intriga
romântica na Paris popular, protagonizada por um motorista de
táxi e uma florista.
Ninguém menos que seu colega
Carné aproveitaria a oportunidade para condecorá-lo como "o
poeta das ruas parisienses".
"Viva a Liberdade" ("A Nous la
Liberté", 1932) insiste em sua crítica ao industrialismo, inspirando
Chaplin em "Tempos Modernos". Tudo gira em torno do reencontro de dois ex-colegas de cárcere. Um se deu bem, o outro,
nem tanto. A otimista conclusão
dá vontade de sair sapateando do
cinema. A mesma linha libertária
marca "O Último Milionário"
("Le Dernier Milliardaire", 1934).
Passada no reino imaginário de
Casinario, essa fábula bem-humorada satiriza a um só tempo o
despotismo imperial, a especulação financeira e os casamentos interesseiros. A expansão do totalitarismo na Europa levou Clair ao
produtivo exílio americano.
Finda a Segunda Guerra Mundial, o cineasta celebra seu retorno com outra ode a Paris no metacinematográfico "O Silêncio É
de Ouro" ("Le Silence Est d'Ór",
1947), estrelado por Maurice Chevalier como um adorável don
Juan.
Por fim, Gérard Philippe vive
outro sedutor, desta vez de farda,
em "As Grandes Manobras" ("Les
Grandes Manoeuvres", 1955).
O esplendor da França da belle
époque explode no primeiro filme em cores de Clair, uma nova
crítica às manipulações que
freiam o verdadeiro amor.
O tom é mais grave. Paulo Emílio Salles Gomes acertaria mais
uma vez notando que "a comédia
dissolveu-se explicitamente em
drama" no cinema do Clair maduro.
Pena que o ciclo não traga a prova decisiva para sua tese: o pungente "Por Ternura Também se
Mata" ("Porte de Lilas", 1957).
Quem sabe da próxima vez. Voltar a Clair nunca é demais.
Mostra: René Clair Parlant
Quando: de hoje a 6 de julho
Onde: Espaço Unibanco de Cinema (r.
Augusta, 1.470, São Paulo)
Quanto: R$ 6 (de seg. a qui.) e R$ 9 (de
sex. a dom.); estudantes pagam meia
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