São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2000


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LITERATURA
Irmã do escritor Sergio Sant'Anna estréia
Sônia Sant'Anna visita as casas de seus antepassados em romance

CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sônia Sant'Anna demorou para tomar coragem. Irmã do escritor Sergio Sant'Anna, só agora, aos 62, resolveu enfrentar o "pânico do sobrenome" e lançar seu primeiro livro, "Inconfidências Mineiras", pela Jorge Zahar.
O outro irmão, Ivan -ela é a mais velha-, e o sobrinho André (filho de Sergio) já tinham tido a ousadia. As dúvidas de Sônia se dissolveram quando se voltou para o mesmo sobrenome que temia: seu livro de estréia rastreia uma antepassada pela mineira Vila Rica do século 18.
Vejam de onde vem tudo: a ancestral da família de escritores é Iria, irmã de Barbara Eliodora, a mulher do poeta Alvarenga Peixoto, um dos intelectuais inconfidentes do arcadismo brasileiro, ao lado de Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa.
Segundo Sônia, a tradição literária é maior se computados outros sobrenomes que se entrecruzam na família. "E, sem querer me gabar, descendemos diretamente de Tibiriçá e Piquerobi, os fundadores de São Paulo", diz.
Ou seja, ao mesmo tempo que produz livros, a família Sant'Anna dá um romance. Ou melhor, vários, porque Sônia já está preparando o segundo, sobre outros antepassados, que se tornariam grandes barões do café.
"Acho que toda família dá um romance. Só que ninguém se preocupa em saber quem era a bisavó da bisavó, como aconteceu comigo. Eu sempre adorei ouvir os "causos" da família", diz.
Um desses "causos" apareceu quando preparava uma pesquisa, ainda inédita em livro, sobre o bandeirante Amador Bueno, o Anhanguera, outro ancestral -a família paterna vem de Goiás.
Em "Inconfidências", como se voltasse no tempo em uma visita à casa desses antepassados, Sônia Sant'Anna acompanha o dia-a-dia das famílias de Iria e de Alvarenga Peixoto com Bárbara.
A "Bárbara Bela" do poema de Alvarenga, aliás, sustenta a autora, carregaria injustamente o estigma da louca que vagava pelas ruas de Vila Rica depois que o marido foi degredado.
"Isso é mentira. E também não foi a heroína que alguns defendem. Era uma "socialitezinha" da época, a importância dela se resumia em ser bonita, rica. Alvarenga Peixoto era uma triste figura. Na verdade, se costuma ter Tiradentes como Cristo e os inconfidentes como os 12 apóstolos, mas eram pessoas de carne e osso, que tinham seus interesses pessoais naquela revolução."
A ação do romance se passa durante o período anterior e posterior à Inconfidência, em 1789. Passeiam por suas páginas o próprio Tiradentes, meio alheado da trama principal, e os poetas com suas musas, inclusive Maria Dorotéia, a Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga.
Sônia Sant'Anna fez um romance histórico sem sucumbir à tentação de ir além do fato. "A invenção está apenas em detalhes que fazem a ligação entre um episódio e outro, como quando Bárbara é apresentada a Gonzaga. Eu quis fazer um livro histórico, porque tenho paixão pela história e tenho pena de que no Brasil as pessoas a detestem", diz.
Quanto às críticas e comparações decorrentes do sobrenome, ela se diz tranquila. "Fazemos, os quatro, algo muito diferente uns dos outros. E o sobrenome também ajuda, abre muitas portas. Passou o medo de não ser tão boa quanto Sergio Sant'Anna. Ele continua a ser meu ídolo."


Livro: Inconfidências Mineiras Autora: Sônia Sant'Anna Editora: Jorge Zahar Quanto: R$ 15 (132 págs.)


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