|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
Irmã do escritor Sergio Sant'Anna estréia
Sônia Sant'Anna visita as casas de seus antepassados em romance
CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sônia Sant'Anna demorou para
tomar coragem. Irmã do escritor
Sergio Sant'Anna, só agora, aos
62, resolveu enfrentar o "pânico
do sobrenome" e lançar seu primeiro livro, "Inconfidências Mineiras", pela Jorge Zahar.
O outro irmão, Ivan -ela é a
mais velha-, e o sobrinho André
(filho de Sergio) já tinham tido a
ousadia. As dúvidas de Sônia se
dissolveram quando se voltou para o mesmo sobrenome que temia: seu livro de estréia rastreia
uma antepassada pela mineira
Vila Rica do século 18.
Vejam de onde vem tudo: a ancestral da família de escritores é
Iria, irmã de Barbara Eliodora, a
mulher do poeta Alvarenga Peixoto, um dos intelectuais inconfidentes do arcadismo brasileiro,
ao lado de Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa.
Segundo Sônia, a tradição literária é maior se computados outros sobrenomes que se entrecruzam na família. "E, sem querer me
gabar, descendemos diretamente
de Tibiriçá e Piquerobi, os fundadores de São Paulo", diz.
Ou seja, ao mesmo tempo que
produz livros, a família Sant'Anna dá um romance. Ou melhor,
vários, porque Sônia já está preparando o segundo, sobre outros
antepassados, que se tornariam
grandes barões do café.
"Acho que toda família dá um
romance. Só que ninguém se
preocupa em saber quem era a bisavó da bisavó, como aconteceu
comigo. Eu sempre adorei ouvir
os "causos" da família", diz.
Um desses "causos" apareceu
quando preparava uma pesquisa,
ainda inédita em livro, sobre o
bandeirante Amador Bueno, o
Anhanguera, outro ancestral -a
família paterna vem de Goiás.
Em "Inconfidências", como se
voltasse no tempo em uma visita à
casa desses antepassados, Sônia
Sant'Anna acompanha o dia-a-dia das famílias de Iria e de Alvarenga Peixoto com Bárbara.
A "Bárbara Bela" do poema de
Alvarenga, aliás, sustenta a autora, carregaria injustamente o estigma da louca que vagava pelas
ruas de Vila Rica depois que o
marido foi degredado.
"Isso é mentira. E também não
foi a heroína que alguns defendem. Era uma "socialitezinha" da
época, a importância dela se resumia em ser bonita, rica. Alvarenga
Peixoto era uma triste figura. Na
verdade, se costuma ter Tiradentes como Cristo e os inconfidentes
como os 12 apóstolos, mas eram
pessoas de carne e osso, que tinham seus interesses pessoais naquela revolução."
A ação do romance se passa durante o período anterior e posterior à Inconfidência, em 1789.
Passeiam por suas páginas o próprio Tiradentes, meio alheado da
trama principal, e os poetas com
suas musas, inclusive Maria Dorotéia, a Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga.
Sônia Sant'Anna fez um romance histórico sem sucumbir à tentação de ir além do fato. "A invenção está apenas em detalhes que
fazem a ligação entre um episódio
e outro, como quando Bárbara é
apresentada a Gonzaga. Eu quis
fazer um livro histórico, porque
tenho paixão pela história e tenho
pena de que no Brasil as pessoas a
detestem", diz.
Quanto às críticas e comparações decorrentes do sobrenome,
ela se diz tranquila. "Fazemos, os
quatro, algo muito diferente uns
dos outros. E o sobrenome também ajuda, abre muitas portas.
Passou o medo de não ser tão boa
quanto Sergio Sant'Anna. Ele
continua a ser meu ídolo."
Livro: Inconfidências Mineiras
Autora: Sônia Sant'Anna
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 15 (132 págs.)
Texto Anterior: Noite Ilustrada - Erika Palomino: Somos 500, 550, 100 mil na parada gay de SP Próximo Texto: Manuscritos da biblioteca Mário de Andrade ganham edição inédita Índice
|