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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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Guerra de agulhas

Reprodução de "O Brasil na Moda"
Figurino de Marilia Carneiro para "Dancing Days" (79)



"O Brasil na Moda" conta a história fashion do país; discordâncias editoriais provocam ausências importantes no "quem é quem"


LEANDRO FORTINO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O preto marca a história da moda brasileira. Quem abrir o volume um do livro "O Brasil na Moda", que o diretor de arte Giovanni Bianco, 37, concebeu juntamente com o diretor da São Paulo Fashion Week , Paulo Borges, 40, verá, no capítulo 12 (intitulado "Terceira Geração"), quatro grandes retângulos pretos.
Eles foram colocados ali para cobrir o verbete que seria do estilista Ocimar Versolato, a primeira grande ausência dos dois volumes que formam essa fonte de referência dos 45 anos da indústria fa- shion no Brasil. O livro será lançado hoje, na Bienal, durante a SPFW.
Versolato não autorizou a publicação do verbete que traria a sua biografia. "É uma dor, porque o Ocimar é uma pessoa por quem tenho grande respeito. Ele tinha assinado [uma autorização], mas depois mandou uma carta dizendo que não queria estar no livro. Falou que a gente queria tirar dinheiro de patrocinador. Quando vir o livro, vai ver que não tem nada", afirma Bianco.
"Nunca autorizei nada. Eles não têm nenhuma autorização assinada por mim. O que disse foi que poderia autorizar se me apresentassem o material pronto", diz Versolato. "Achei amador, não estava no nível do meu trabalho."
O estilista Carlos Miele, da grife M.Officer, também não integra o elenco de celebridades de "O Brasil na Moda". "Porque ele não se dá comigo", diz Borges. "Isso já é antigo. Acho que é por isso."
Miele justifica sua posição: "Existem motivos e maneiras para alguém ser excluído de um grupo. Sempre tiveram preconceito em relação às minhas idéias. Agora, eles até aceitam que minhas idéias estavam certas, mas queriam publicá-las de maneira superficial. Vamos esperar que, um dia, alguém publique, num novo livro, essas contradições".
A ausência dos dois estilistas não comprometeu os três anos de pesquisa para reunir em 1.278 páginas entrevistas e verbetes de mais de 400 profissionais de moda e mais de mil fotos de modelos, desfiles, personagens de TV, capas de revista e campanhas, dos anos 60 até o início deste século.
A história começa com uma entrevista com Caio de Alcântara Machado, que, em 1958, criou a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit). Não estão de fora figuras inesquecíveis como a modelo Mila Moreira e os estilistas Dener, Madame Rosita e Clodovil.
"Essas pessoas todas, que hoje são muito pouco lembradas, já tinham esse ímpeto de querer falar de moda brasileira. O que faço hoje não é uma novidade. O brasileiro sempre tentou correr atrás de sua identidade", diz Borges.
Descobrir essa identidade da moda brasileira foi o que levou Giovanni Bianco a investir no projeto: "Tive a idéia de fazer o livro motivado por um pedido de meus clientes de saber o que é uma imagem brasileira".
Bianco, que assina campanhas das grifes Forum, Triton e Arezzo (além de ter acabado de finalizar o livro da última exposição de fotos da popstar Madonna), afirma que conseguiu se distanciar da relação com os clientes ao fazer o livro.
"Produzi demais para a Forum. Seria incoerente eu colocar 40 imagens da marca. Escolhi algumas coisas que marcaram muito meu processo de trabalho com o Tuffi [Duek, dono da grife e da Triton]. Há duas fotos da Arezzo e a publicidade que eu fiz para o Reinaldo [Lourenço, estilista], que ganhou prêmio. Não teria coragem de valorizar os meus trabalhos somente."
Bianco afirma que "o critério da ordem [em que as pessoas aparecem no livro] tem mais a ver com a dinâmica da leitura, e não necessariamente com a importância das pessoas".

O BRASIL NA MODA. De Giovanni Bianco e Paulo Borges. Edição de João Carrascosa. Quando: hoje, às 22h. Onde: Fundação Bienal (pq. Ibirapuera, São Paulo). Lançamento: editora Caras. Quanto: R$ 195 (1.278 págs. em dois volumes). Patrocinador: Shopping Center Iguatemi. Co-patrocinadores: Amni, DirecTV, Lycra e Renault.


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