São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Crítica/"Factotum - Sem Destino"

Matt Dillon garante brilho a adaptação de Bukowski

Divulgação
Marisa Tomei e Matt Dillon, que interpreta Henry Chinaski, alter ego de Charles Bukowski, no filme "Factotum - Sem Destino"


JOCA REINERS TERRON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A obra crua de Charles Bukowski (1920-1994) é simples apenas na aparência, e tal impressão se deve à forma direta de seus contos e poemas. No entanto, soterrado sob hectolitros das mais variadas estirpes de biritas e pela busca da salvação através do sexo, existe um questionamento diante da complicada sensação de não pertencer a lugar nenhum.
Essa não-adequação às vicissitudes do mundo por parte de Henry Chinaski, o faz-tudo de "Factotum" -cuja versão para o cinema estréia hoje e ganha o subtítulo "Sem Destino"- e alter ego de Bukowski, é a mesma inconformidade de todos nós, servos das 8h às 17h, bons companheiros e distintos pais e filhos das 17h às 8h.

Dinheiro
A diferença entre Bukowski e nós, porém, é que ele não se entrega ao conformismo: seu desejo de escrever não o permite.
"Se você for tentar, vá sempre em frente. De outra maneira, nem mesmo comece." Tá certo que com seguro-desemprego tudo fica mais fácil, mas não estamos falando apenas de dinheiro, estamos? Não estamos. Depois de arrasa-quarteirões como "Quem Vai Ficar com Mary?", Matt Dillon afinal pôde retornar à fila de bons personagens que o aguardam desde "Vidas sem Rumo" (de Francis Ford Coppola) e "Drugstore Cowboy" (de Gus van Saint). Mas como Dillion pôde interpretar o bêbado e desfigurado Chinaski?, vocês perguntam.
Eu respondo: com inteligência, humor sutil e muita, mas muita categoria. Vocês podem traduzir "categoria" por "coolness", se quiserem. Porém é assim que Matt Dillon está em "Factotum": cool e arrebatado ao mesmo tempo.
E a escolha do ator foi apenas o primeiro acerto do diretor norueguês Bent Hamer. Por que mesmo diretores europeus gostam tanto de adaptar Bukowski? Graças à popularidade de sua poesia na Europa, talvez.
Eis o segundo acerto: entre fugazes empregos da incessante busca de Chinaski, Hamer intercala preciosas cenas urbanas com a voz de Dillon ao fundo, dizendo poemas extraídos do melhor livro de Bukowski, "The Days Run Away like Wild Horses Over the Hills", atualizando idéias visuais de Edward Hopper e atribuindo-lhes movimento. Esses poemas também serviram de base às canções roucamente murmuradas pela cantora norueguesa Kristin Asbjornsen. Ah, e Lili Taylor quase rouba a cena. Mas Dillon não deixa. E com estilo.

FACTOTUM - SEM DESTINO
   
Direção: Bent Hamer
Com: Matt Dillon, Lili Taylor, Fisher Stevens
Quando: em cartaz a partir de hoje nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex e Cine Bombril


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