São Paulo, terça, 30 de junho de 1998

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DOCUMENTÁRIO
A filha do cineasta de "São Paulo S/A" faz viagem pessoal em biografia para divulgar a obra do pai
Vida de Person é filmada em novo curta

Arquivo Pessoal
Marina (dir.) e sua irmã Domingas com o cineasta Luiz Sérgio Person


LEANDRO FORTINO
da Reportagem Local

Eva Wilma, Paulo José, Walmor Chagas, Antunes Filho, Zé do Caixão, Paulo Goulart, Ney Latorraca e Jorge Ben Jor são algumas das personalidades que integram o elenco de um curta-metragem que está sendo produzido atualmente em São Paulo.
Mas no filme esses artistas não têm um personagem para interpretar. Eles fazem o papel deles mesmos, em uma homenagem a um dos mais importantes cineastas brasileiros, Luiz Sérgio Person, morto em um acidente em 1976.
O documentário "Person" já vem sendo idealizado há dois anos pela filha mais velha do cineasta, Marina Person, 29, vencedora do prêmio de direção no Festival de Gramado, em 96, pelo seu curta de estréia, "Almoço Executivo".
"É um filme muito pessoal, uma viagem minha em busca do que foi a figura do meu pai. Não é uma biografia filmada. Tanto que me perguntam: "Há reconstituição?'. Não há nada disso. Não tem ator, só os que falam do meu pai", explica Marina (leia abaixo alguns dos depoimentos).
O incentivo em desenvolver esse projeto com a experiência de apenas um curta veio por intermédio do crítico de cinema e articulista da Folha Amir Labaki, que no momento escreve uma biografia sobre o cineasta.
"O Amir disse que queria fazer um projeto grande: uma biografia, uma mostra, restaurar seus filmes, publicar um livro com os textos de meu pai, entre outras coisas", diz.
"Ele também falou que tinha a intenção de fazer um vídeo, e me procurou para comunicar a família. Eu já tinha vontade de fazer uma biografia, mas não me achava capacitada. Como outra pessoa ia fazer, decidi eu mesma rodar."
Para seguir o projeto, Marina inscreveu seu roteiro no Prêmio Estímulo do Ministério da Cultura, que foi escolhido junto a outros 39 projetos. Cada diretor ganhou R$ 40 mil de orçamento.
Uma das imposições do prêmio era que o filme fosse entregue até o dia 30 de março, o que obrigou Marina a finalizar uma cópia às pressas para o MinC.
"É um filme que é "mostrável', mas não é o que quero fazer. Vou continuar trabalhando nele. Não sei quanto vai demorar. Ainda estou atrás de R$ 30 mil", afirma.
O atraso e a falta de dinheiro da produção são justificáveis, já que o curta-metragem não conta apenas com entrevistas de amigos, familiares e pessoas que conheceram ou trabalharam com o diretor.
Um dos maiores problemas está sendo passar para o formato de 35 mm as dezenas de fotos e rolos de filme que o cineasta dirigiu e atuou, muitos rodados em 16 mm, 8 mm e super-8.
"Tive de copiar tudo para 35 mm. Nenhum laboratório do Brasil faz, então tive de mandar para fora. Só para entregar essa cópia, levamos um mês e meio. São coisas demoradas e caras", conta.
Outra preocupação da diretora foi filmar as entrevistas de maneira descontraída, longe da frieza dos estúdios. "Queria alguma coisa que tivesse a ver com a pessoa."
"O Walmor Chagas foi um que a gente não conseguiu ir até a casa dele, que é no meio do mato. Encontrei com ele no meio do caminho, em um bar em Guaratinguetá (SP) que ele costuma frequentar. A Eva Wilma foi entrevistada no set do seriado "Mulher'", explica.
Outro objetivo de Marina é mostrar ao Brasil o trabalho de seu pai, diretor do clássico do cinema nacional "São Paulo S/A", de 65, reconhecido apenas em São Paulo.
"Quero fazer um filme para levar um pouco de sua obra a outros Estados, já que os filmes dele não saíram em vídeo. Mas estou fazendo esse filme principalmente porque é importante para mim como pessoa e como cineasta."



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