São Paulo, sábado, 30 de julho de 2011 |
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Hilary Mantel revê dinastia dos Tudors com olhar refinado Autora lança o romance "Wolf Hall", em que narra a trajetória do rei Henrique 8º e do conselheiro Cromwell Escritora diz que o público recebe versões "junk food" da história, enquanto ela quis fazer algo para gourmets DANIEL BENEVIDES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A inglesa Hilary Mantel, 59, passou 20 anos com Thomas Cromwell (1485-1540) na cabeça. Valeu a pena. Com o livro "Wolf Hall", em que conta, com estilo e inteligência, a trajetória do astuto conselheiro de Henrique 8º (1491-1547), recebeu em 2009 o prestigiado Man Booker Prize. Literariamente ambicioso, com diálogos cheios de ironia e descrições vívidas da caótica corte inglesa do século 16, "Wolf Hall" trouxe profundidade às surradas conspirações e jogos de sedução conhecidos do público pelo seriado "The Tudors" e filmes como "A Outra". O rei que desafiou a igreja para satisfazer seus desejos, Ana Bolena e principalmente Cromwell emergem do livro não como meras peças do xadrez histórico mas como complexas figuras humanas, dotadas de humor peculiar e contradições. Em conversa por e-mail, Mantel fala sobre sua carreira e a polêmica envolvendo o Nobel V.S. Naipaul. Folha - No seu livro, Cromwell fala a Thomas More: "Você usa a história para se beneficiar, mas o que é história para você?". O que a sra. responderia? Hilary Mantel - História é apenas uma disciplina que criamos para lidar com nossa ignorância sobre o passado. O passado é um valor em si mesmo e não deveria ser usado como propaganda ou reforço aos preconceitos. Sempre me perguntam se escrevi "Wolf Hall" para traçar paralelos com o presente. Mas por que a gente acha que nosso presente é mais interessante? Como foi escrever "Wolf Hall"? Quando comecei "Wolf Hall" já era uma escritora conhecida, com mais recursos para pesquisas e viagens para os lugares mencionados no livro. Mas também tive de lidar com a pressão da expectativa de editores e leitores. Várias adaptações foram feitas da mesma história, para o cinema e a TV. Isso não incomodava a sra.? O público tem grande apetite pela história dos Tudors, mas o que eles recebem é o equivalente a "junk food". Eu quis fazer algo para o gourmet. Minha versão da história de Cromwell desafia muitas das coisas que se sabem sobre o período. O que torna a sua versão diferente? Trabalhei duro para entrar na pele do meu personagem. Tentei identificar não apenas as crises políticas na vida de Cromwell mas também as pessoais. Tive de inventar o que a história não conta, o lado introspectivo dos personagens e suas intenções. Sabemos o que as pessoas fizeram no passado, mas raramente o que as motivou. A sra. declarou ter se identificado bastante com Cromwell. Pode soar estranho que uma mulher reservada do séc. 21, de coração bondoso e saúde frágil, possa se identificar com esse homem robusto e inescrupuloso do séc. 16. Mas, quando comecei a escrever, fui me sentindo mais poderosa, menos cautelosa. Não durou muito, mas o suficiente para superar o esforço de ir até o ponto final. A sra. enfrentou certa dose de preconceito ao longo da carreira. O que achou da declaração de Naipaul menosprezando as mulheres escritoras? Tenho grande admiração por Naipaul. Mas ele parece ter a necessidade de se proteger por trás da persona de um velho polêmico. Quando comecei a publicar, meu trabalho era visto como algo menor, comédias domésticas. Mas sempre fui uma escritora política. Em geral, acho que as mulheres são mais humildes e graciosas do que os homens, que me parecem mais competitivos. WOLF HALL AUTORA Hilary Mantel EDITORA Record TRADUÇÃO Heloisa Mourão QUANTO R$ 59,90 (588 págs.) Texto Anterior: Painel das Letras - Josélia Aguiar: Comunidade de leitores Próximo Texto: Literatura: Prêmio SP anuncia vencedores na segunda Índice | Comunicar Erros |
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