São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
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A estrada é longa, a cantora é calma

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local


Ao chegar a seu terceiro disco, Vania Abreu reaparece como uma cantora em lenta e gradual evolução -fazendo música, não fazendo moda.
Baiana, deixa transparecer isso desde a capa singela, que evoca o Caetano migrante, tropicalista, de "No Dia Que Eu Vim-Me Embora" (68).
Mas, CD adentro, se vê que ela não é baiana típica. "Seio da Bahia" preocupa-se, fazendo-o por meio de pesquisa instigada, em espanar provincianismos geográficos.
O painel que obtém é vasto, comportando "nordestinidades" várias -a agreste do cearense Ednardo (em "A Manga Rosa"), a suave do maranhense Zeca Baleiro ("Olhozinho"), passando, é claro, pela tranquilidade baiana de Roberto Mendes e J. Velloso ("O Perdão")-, mas podendo chegar, até, ao Paraná de Carlos Careqa ("Seio da Bahia").
O que as unifica todas é a impressão digital de samba, o velho samba (e o CD peca ao esconder em letras minúsculas, ilegíveis mesmo, a lista de músicos participantes de cada faixa; não pode).
É dentro do samba, mesmo, que chega a "Conto de Areia", de Romildo e Toninho, talvez o mais conhecido dos sucessos de Clara Nunes (1943-83), aquele do "é água no mar, é maré cheia, ô...". Desvenda-se aí a linhagem a que Vania pretende se alistar -do samba de fibra, em poucas palavras.
Bem, ela tem muita estrada para chegar lá. A interpretação por vezes é reiterativa demais -a voz se acentua, se agudiza (é o que ocorre na leitura descaracterizada de "Sangue Latino", dos Secos & Molhados, mas não só ali). Mas, como a própria capa demonstra, a moça já está na estrada.


Avaliação:   


Disco: Seio da Bahia Artista: Vania Abreu Lançamento: Velas/Universal Quanto: R$ 18, em média

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