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LIVRO/LANÇAMENTO
Com investimento público e privado, "Houaiss" sai na semana que vem; CD-ROM vem em setembro
Público leitor ganha calhamaço erudito
DA REPORTAGEM LOCAL
Surreal. Essa palavra, tão usada
no dia-a-dia, só agora entrou para
o dicionário no Brasil.
O léxico que a acolhe chegará às
lojas na semana que vem. É o "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa", segunda maior ambição do filólogo Antônio Houaiss,
morto em 99 -a primeira era
unificar o português falado em todos os países lusófonos.
A divulgação da editora Objetiva, que publica o "Houaiss", busca o respaldo de um apanhado de
números e novidades para qualificá-lo como a "obra máxima de
referência da língua portuguesa".
A novidade editorial nem chegou direito, mas já gera buxixo.
"O trabalho lexicográfico é muito
consistente, mas eu trabalho com
o real, e eles, com o ideal", diz Carlos Augusto Lacerda, 39, diretor-presidente da Nova Fronteira, que
há 26 anos edita o "Aurélio".
Lacerda vê como positiva a chegada de outro dicionário de peso,
mas diz que "é um equívoco" tentar comparar a nova obra àquele
que se tornou sinônimo de dicionário. "O professor Aurélio
[Buarque de Hollanda" era muito
erudito, mas simples. Houaiss era
um filólogo enciclopedista."
Ele aposta na manutenção de
seu público pela fórmula "popular" do "Aurélio". "Popular" é
também como Breno Lerner, 46,
diretor-geral da Melhoramentos,
classifica seu "Michaelis". "Estou
contente com o dicionário que tenho. Não preciso lançar outro para "combater" o "Houaiss", que é
mais refinado, para pesquisa mais
profunda da língua", diz Lerner.
Dinheiro misto
"Um "Houaiss" só pode ser feito
com dinheiro público a fundo
perdido. Quem tem de repor seu
caixa não pode vender a esse preço", diz o editor do "Aurélio". Ele
se refere ao fato de a Objetiva não
ter pago pelo banco de dados.
A equipe de Houaiss teria gasto,
na primeira etapa da pesquisa (de
85 a 92), cerca de R$ 5 milhões, segundo estima Roberto Feith, 49,
dono da Objetiva -privados,
apoiados por incentivo fiscal.
Após 97, conta Feith, com a
criação do Instituto Antônio
Houaiss, foram captados, para
concluir a pesquisa, outros R$ 7
milhões -10% dos quais públicos, de uma dotação do Ministério da Cultura, e 90%, privados,
captados via Lei Rouanet.
A Objetiva gastou R$ 5 milhões
-em revisão, impressão e futuros desdobramentos. Deste total,
R$ 1,25 milhão vem de empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Para Lacerda, o novo léxico
-impresso com luxo na Itália-
não tem "viabilidade econômica".
O "Houaiss" tem preço estimado em R$ 125, mas sai sem valor
de capa sugerido, como acontece
com o "Aurélio" -hoje encontrado a R$ 70, com desconto adicional de R$ 20 se o comprador levar qualquer dicionário usado. "A
promoção foi criada no ano passado", diz Lacerda, "e volta até dezembro, a pedido dos livreiros".
"Evidentemente que acho viável", rebate Feith. "Sobre o preço,
digo o seguinte: a margem de lucro com que trabalhamos é menor do que a de um livro comum,
que vende muito e cai, porque dicionários são duráveis", diz Feith.
Duram e, além do mais, dão
crias: na esteira dos primeiros 60
mil exemplares do "Houaiss",
vem uma "família", a saber: CD-ROM em testes para sair em setembro, versão escolar (tamanho
mini) em novembro e dicionário
de sinônimos no ano que vem.
Mais do que tudo, Feith se mostra seguro da aposta na erudição
que parece ponto pacífico para
definir o "Houaiss". "Brasileiro
gosta de qualidade."
(FRANCESCA ANGIOLILLO)
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