São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2001

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LIVRO/LANÇAMENTO

Com investimento público e privado, "Houaiss" sai na semana que vem; CD-ROM vem em setembro

Público leitor ganha calhamaço erudito

DA REPORTAGEM LOCAL

Surreal. Essa palavra, tão usada no dia-a-dia, só agora entrou para o dicionário no Brasil.
O léxico que a acolhe chegará às lojas na semana que vem. É o "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa", segunda maior ambição do filólogo Antônio Houaiss, morto em 99 -a primeira era unificar o português falado em todos os países lusófonos.
A divulgação da editora Objetiva, que publica o "Houaiss", busca o respaldo de um apanhado de números e novidades para qualificá-lo como a "obra máxima de referência da língua portuguesa".
A novidade editorial nem chegou direito, mas já gera buxixo. "O trabalho lexicográfico é muito consistente, mas eu trabalho com o real, e eles, com o ideal", diz Carlos Augusto Lacerda, 39, diretor-presidente da Nova Fronteira, que há 26 anos edita o "Aurélio".
Lacerda vê como positiva a chegada de outro dicionário de peso, mas diz que "é um equívoco" tentar comparar a nova obra àquele que se tornou sinônimo de dicionário. "O professor Aurélio [Buarque de Hollanda" era muito erudito, mas simples. Houaiss era um filólogo enciclopedista."
Ele aposta na manutenção de seu público pela fórmula "popular" do "Aurélio". "Popular" é também como Breno Lerner, 46, diretor-geral da Melhoramentos, classifica seu "Michaelis". "Estou contente com o dicionário que tenho. Não preciso lançar outro para "combater" o "Houaiss", que é mais refinado, para pesquisa mais profunda da língua", diz Lerner.

Dinheiro misto
"Um "Houaiss" só pode ser feito com dinheiro público a fundo perdido. Quem tem de repor seu caixa não pode vender a esse preço", diz o editor do "Aurélio". Ele se refere ao fato de a Objetiva não ter pago pelo banco de dados.
A equipe de Houaiss teria gasto, na primeira etapa da pesquisa (de 85 a 92), cerca de R$ 5 milhões, segundo estima Roberto Feith, 49, dono da Objetiva -privados, apoiados por incentivo fiscal.
Após 97, conta Feith, com a criação do Instituto Antônio Houaiss, foram captados, para concluir a pesquisa, outros R$ 7 milhões -10% dos quais públicos, de uma dotação do Ministério da Cultura, e 90%, privados, captados via Lei Rouanet.
A Objetiva gastou R$ 5 milhões -em revisão, impressão e futuros desdobramentos. Deste total, R$ 1,25 milhão vem de empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Para Lacerda, o novo léxico -impresso com luxo na Itália- não tem "viabilidade econômica".
O "Houaiss" tem preço estimado em R$ 125, mas sai sem valor de capa sugerido, como acontece com o "Aurélio" -hoje encontrado a R$ 70, com desconto adicional de R$ 20 se o comprador levar qualquer dicionário usado. "A promoção foi criada no ano passado", diz Lacerda, "e volta até dezembro, a pedido dos livreiros".
"Evidentemente que acho viável", rebate Feith. "Sobre o preço, digo o seguinte: a margem de lucro com que trabalhamos é menor do que a de um livro comum, que vende muito e cai, porque dicionários são duráveis", diz Feith.
Duram e, além do mais, dão crias: na esteira dos primeiros 60 mil exemplares do "Houaiss", vem uma "família", a saber: CD-ROM em testes para sair em setembro, versão escolar (tamanho mini) em novembro e dicionário de sinônimos no ano que vem.
Mais do que tudo, Feith se mostra seguro da aposta na erudição que parece ponto pacífico para definir o "Houaiss". "Brasileiro gosta de qualidade."
(FRANCESCA ANGIOLILLO)



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