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QUADRINHOS
Nova coletânea lançada pela Conrad reúne histórias políticas e críticas à sociedade dos EUA, de 70 a 90
HQs expõem América "feia" de Crumb
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Glutona", "gananciosa" e
"feia", com seus "capitalistas gordos", "radicais e seus slogans",
"sofisticados urbanos", motocicletas e aviões. Foi essa América
que Robert Crumb escolheu deixar para trás em 1991, quando se
mudou com mulher e filha para
um vilarejo no sul da França.
Todas as pragas rogadas por
Crumb, um dos artistas underground mais notórios dos EUA,
contra a sociedade americana, em
histórias e tiras publicadas entre
1970 e 1997, estão coletadas no álbum "América", que a Conrad
põe no mês que vem nas estantes,
ao lado dos já lançados por aqui
"Fritz The Cat", "Zap Comix" e
"Mr. Natural".
Assumindo-se "um velho ranzinza e estraga-prazeres", Crumb
espalha suas tintas ácidas e paranóicas para todos os lados: a música pop, as multinacionais, a poluição em Detroit, a expansão
imobiliária no Harlem.
Entre as histórias, está a clássica
"Whiteman", que retrata um
americano típico do pós-guerra
("produto legítimo da Grande
Depressão"), mas com os nervos
sempre em frangalhos. Num documentário dirigido por Terry
Zwigoff, Crumb afirma que Whiteman, na verdade, é o retrato de
seu próprio pai: fora de casa, um
cidadão americano exemplar;
dentro, um homem conservador,
violento e repressor.
As críticas aos tipos da sociedade dos EUA, de diferentes épocas,
continuam nas séries "As Aventuras do Cabeça de Cebola", que retrata as desventuras de um caipira
na cidade grande, e "Frosty, o Boneco de Neve e seus Amigos", publicada originalmente em forma
de tira. "Frosty" é uma sátira às
"missões secretas" da esquerda
revolucionária dos anos 70. Aqui,
um boneco de neve terrorista,
junto com dois camaradas, prepara-se para jogar bombas, disfarçadas de bolas de neve, na
mansão dos Rockerfella.
Do outro lado da "força", há
também "Os Bombados Barra-Pesada Tomam Conta!", paródia
das enormes distâncias que (então) separavam republicanos e
democratas. Cansados da turma
de "bonzinhos chorões" na Casa
Branca, um grupo de veteranos de
guerra dá um golpe militar e, claro, não consegue colocar muita
ordem na casa.
Taxado de racista em diversas
ocasiões, Crumb bota lenha na fogueira -e dá um passo para trás
enquanto ri das acusações- com
a dobradinha "Quando os Negões
Dominarem a América!" e
"Quando os Malditos Judeus Dominarem a América!". Os títulos
são auto-explicativos.
Por fim, "América" reúne também algumas das amargas e freqüentes HQs em primeira pessoa
desenhadas por Crumb, como a
que relata uma cobertura que fez
em 1977 de um simpósio sobre a
conquista do espaço, sua tentativa
frustrada de cobrir uma cerimônia do Oscar ou a divertida e mais
recente "Aponte o Dedo", em que
o quadrinista confronta, no papel,
"o grosseiro e mercenário" empresário Donald Trump.
Como sugere Crumb, que completa 61 azedos anos hoje: "Ah,
bem, leia e chore!"
AMÉRICA. Autor: Robert Crumb. Editora:
Conrad. Preço: R$ 25 (104 págs.)
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