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Templos, bingos e pornografia assumem cinemas
free-lance para a Folha
Esta história é baseada em fatos
reais. O roteiro inclui pornografia, jogo e fé. Trata-se do drama de
ascensão e queda da cinelândia
paulistana, nas décadas de 40 e 50
um espetáculo de luzes full-time
com cerca de 25 cinemas funcionando concomitantemente, bares
e agitada vida noturna, hoje um
conglomerado que se mantém
em pé graças à exploração da
crença religiosa, do jogo de azar e
da pornografia.
Igrejas evangélicas, bingos e cines pornô. Eis a utilização atual
da maioria das salas de projeção
de que a São Paulo cosmopolita
da metade deste século tanto se
orgulhava.
Exemplos? O primeiro diz respeito à sala que "deu origem à série", ou melhor, à cinelândia: o
Metro, na avenida São João.
O cinema foi inaugurado em
1938, seguindo os padrões internacionais do estúdio Metro-Goldwin-Mayer, o que significava
decoração kitsch, muito néon e,
uma novidade no país, ar-condicionado. Hoje é palco para os
evangélicos.
Também na São João, outro palácio cinematográfico motivava a
soberba dos paulistanos. Trata-se
do Ritz, sala construída pelo empresário Paulo Sá Pinto, que também foi responsável pela edificação dos cines Marabá e República.
Como ele, Júlio Llorente e Francisco Serrador merecem os créditos pela paisagem eletrizante em
que foi transformada a região
central nos anos 50, decorrência
da "usina de sonhos" inventada
pelos irmãos Lumière, que ficou
conhecida dos paulistanos em
1907, data da primeira projeção
na cidade.
O cinema, contudo, se afirmou
como espetáculo acessível às massas somente na década de 20,
quando houve a inauguração do
cine Rosário no edifício Martinelli, o mais alto do país naquela
época, também no centro.
Voltando ao Ritz, não é muito
difícil imaginar sua utilização hoje em dia: é templo evangélico.
A explicação para o tipo de ocupação vivenciada pelos cinemas
do centro é bastante complexa.
Em 1982, a divisão de pesquisas
do Centro Cultural São Paulo iniciou um estudo, que culminou
em 1990 com a publicação do livro "As Salas de Cinema em São
Paulo", de Inimá Simões, indicando algumas pistas para o "fenômeno".
No livro, mostra-se a evasão de
público que houve nos cinemas
da capital desde 1955, quando foram frequentados por 58,7 milhões de pessoas, que se reduziram a 44,5 milhões em 1960 e 21,5
milhões em 1970. Fato que teria
provocado a liquidação desses
imóveis, às moscas.
Um breve passeio pelo centro
comprova a circunstancial liquidação desse patrimônio. O tradicional Cine Marrocos, que ultimamente havia aderido à programação pornográfica, hoje está
disponível para locação, assim como o Comodoro, primeiro cinema da capital a exibir filmes em
3D, e o Regina, transformado em
estacionamento. Enquanto isso, o
Cinespacial, que exibia filmes em
três telas numa mesma sala, e o
Paissandu são bingos.
(CAC)
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