São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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MÚSICA
Fundador e um dos principais compositores dos pioneiros do punk rock, o ex-baixista lança disco com regravações
"Aposentado", Dee Dee revisita Ramones

MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Douglas Colvin, 48, é uma lenda viva do rock. Em 74, com o apelido de Dee Dee, fundou, com mais dois colegas -Joey e Johnny-, os Ramones, um dos grupos mais importantes de todos os tempos.
Compositor de clássicos da banda, como "53rd & 3rd" e "Chinese Rocks", o baixista deixou o grupo em 1989 para tentar ser um rapper. Onze anos depois, ele lança "Greatest & Latest", disco em que regrava algumas das músicas mais famosas dos Ramones.
Além de requentar as músicas de sua ex-banda -ele também já tocou as mesmas canções em um grupo com Marky Ramone, que faz show amanhã em São Paulo (leia ao lado), chamado "The Remains" ("Os Restos")-, o "rock star aposentado" também escreve livros: sua autobiografia acaba de ser lançada nos EUA, e uma novela de terror, em que os roqueiros Sid Vicious e Johnny Thunders ressuscitam, deve sair em 2001.
Confira a seguir trechos da entrevista concedida à Folha de Los Angeles, por telefone.

Folha - Por que regravar alguns clássicos dos Ramones?
Dee Dee Ramone -
Queria mostrar que eu podia tocar essas canções. Eu ia gravar apenas as músicas que compus e cantei com a banda, mas decidi tocar as minhas favoritas, como "Sheena Is a Punk Rocker", que foi feita pelo Joey. Não espero que minha versão para "Rockaway Beach" toque na MTV e faça sucesso, só quero me divertir.

Folha - Você se lembra dos shows que os Ramones fizeram na Inglaterra, em 1976? Essa turnê, hoje, é considerada legendária...
Dee Dee -
Foi maravilhosa. Em Nova York era legal, mas parecia que a onda punk acontecia apenas em uma vizinhança, no Low East Side e no Village. Em Londres, para todos os lados que você olhava, existia o punk rock.

Folha - É verdade que existia uma rixa entre os punks de Nova York e os de Londres? Na música "New York", os Sex Pistols zombam da cena da cidade...
Dee Dee -
Eles ainda não haviam estado lá. Aconteceu que Johnny Thunders (ex-New York Dolls) havia se mudado para Londres. Ele escreveu a música "Little London Boys", aí os Pistols resolveram responder à provocação. Eles não se davam bem, porque Johnny roubou uma guitarra deles para comprar drogas. Na época, em Londres, era moda caçoar da América. Mas existiam bandas boas em Nova York, como Television, Blondie, Talking Heads... Em Londres, o punk era mais popular. Eu gostava de Generation X, X-Ray Specs... Eles vestiam roupas mais legais que a gente.

Folha - Então aqueles jeans rasgados que vocês vestiam não eram moda? As jaquetas de couro, os óculos escuros... Vocês criaram uma espécie de uniforme dos Ramones. Não foi planejado?
Dee Dee -
Não, aquela era a vestimenta normal dos americanos.

Folha - Mas e os jeans rasgados no joelho?
Dee Dee -
Ah, sim, esse foi o nosso grito da moda (risos).

Folha - Por que você saiu dos Ramones, em 1989?
Dee Dee -
A gente brigava por causa de tudo. Acho que foi uma disputa pelo poder. Joey e Johnny queriam poder.

Folha - Johnny chamou Joey de "hippie liberal" em uma entrevista à Folha no ano passado...
Dee Dee -
Eu não aguento mais ouvi-lo falar essas coisas, ele deveria ficar calado. Eu acho que os Ramones foram a banda menos social e política da história, junto com Jerry Lee Lewis. Mas fico desapontado com Johnny. Às vezes eu tento não acreditar que ele seja um racista, um radical de direita... não sei o que ele é.

Folha - Algumas das músicas dos Ramones mais conhecidas no Brasil, como "Pet Cemetery" e "Poison Heart", são suas.
Dee Dee -
Foi por isso que eu deixei o grupo. Os Ramones tinham minha identidade nas composições. Éramos bons, deveríamos ter ficado juntos, mas, quando saí, eles não iam para a frente, então tentei ajudá-los a ser uma banda, mas eles não me deram valor.


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