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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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Diário de bordo

Divulgação
"Empilhamento" (69), instalação de Carlos Vergara com corpos feitos de papel, que está na mostra do Instituto Tomie Ohtake



Da experimentação a obras tradicionais, Carlos Vergara apresenta 40 anos de carreira em mostra com 50 trabalhos


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"A arte é o exercício experimental da liberdade", defendia o crítico Mario Pedrosa (1900-81) nos anos 60. Motivado por tal aforismo, o artista plástico gaúcho Carlos Vergara, 62, usou da prática defendida por Pedrosa para construir, ao longo de 40 anos de carreira, um conjunto de obras diversificadas, onde a experimentação é uma de suas principais características.
A partir de hoje, um resumo desses 40 anos de trabalho poderá ser visto em 50 obras do artista que o Instituto Tomie Ohtake (ITO) apresenta na exposição "Carlos Vergara: Viajante", mostra que já foi vista por mais de 65 mil pessoas no Santander Cultural, de Porto Alegre. "Por sugestão do Paulo Sergio Duarte [curador da mostra], comecei a preparar um livro sobre minha carreira. Não sabia onde estava a maioria de minhas obras e, ao localizá-las, percebemos que deveríamos organizar também uma exposição", conta Vergara.
A influência de Pedrosa para a construção da poética de Vergara é assumida: "Sou de uma geração que cresceu em meio ao debate levantado por Pedrosa sobre a função da arte, e o trabalho de pesquisa é uma das principais marcas por ele defendidas".
Vergara teve início nas artes plásticas em 63, como assistente do também gaúcho Iberê Camargo. "Dele tive uma grande influência pictórica, mas divergíamos na questão política e, a partir de 65, trilhei meu caminho."
Foi na mostra "Opinião 65", no MAM do Rio, que retratava a chamada "nova figuração", que Vergara foi lançado, e a exposição no ITO tem início justamente com as obras apresentadas na mostra de 65. Desse período, um dos destaques da exposição é a instalação "Empilhamento", de 69, remontada especialmente para a mostra.
Realizada no endurecimento do regime militar, "Empilhamento", um amontoado de corpos humanos feitos em papel, segundo Duarte, representa "a visão crítica que observava com ceticismo as consequências da mercantilização da vida cotidiana numa cultura industrializada".
Os anos 60 são também os anos da arte pop, e Vergara foi um dos artistas a transitar por tal movimento, apesar de negar influências externas. "Se por arte pop você considerar a utilização na arte de imagens banais do cotidiano, então eu de fato estava lá. Mas é impossível desconsiderar o conteúdo político que nossa geração focava e que não constava dos artistas pop americanos." Desse segmento, os destaques na mostra são os acrílicos, feitos pelo artista graças à sua formação de químico e sua experiência na Petrobras.
Uma primeira ruptura em sua carreira tem início nos anos 70, quando Vergara começa a trabalhar com o bloco carnavalesco Cacique de Ramos e realizar uma série de fotografias sobre o tema.
Já no final dos anos 70, Vergara retira a figura de suas obras e passa a utilizar o losango como tema. "Cheguei aí a partir das grades com formas de losango que dividem as escolas de samba das arquibancadas. Imagino aquelas grades como estruturas emulsionadas pela cor", diz o artista.
Foram mais de dez anos trabalhando na mesma série até que, em 1989, graças a um convite da Bienal de São Paulo, Vergara decide "refazer" sua pintura e vai a Minas Gerais, "onde teve início a pintura nacional", para pesquisar pigmentos, iniciando sua série de monotipias. "O início de uma aventura que não se esgotou."

CARLOS VERGARA: VIAJANTE. Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, entrada pela r. Coropés, SP, tel. 0/ xx/11/6844-1900). Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a dom., das 11h às 20h; até 9/11. Quanto: entrada fraca.


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