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Livros
Caderno inédito traz esboços de Debret no Brasil
"Caderno de Viagem" apresenta edição fac-similar de
documento que está na Biblioteca Nacional da França
Exposição vai confrontar 29 aquarelas do acervo do museu Chácara do Céu, no
Rio, com 19 fac-símiles do "Caderno", a partir de 19/10
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado editorial tem uma
boa notícia para a memória de
Jean-Baptiste Debret (1768-1848), o artista que criou o imaginário do Brasil oitocentista.
Depois de freqüentar as páginas policiais nos últimos meses
-42 gravuras suas foram furtadas da Biblioteca Mário de Andrade recentemente e 87 do Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro em junho-, seu nome
agora pode ser associado a um
belo lançamento de aquarelas e
desenhos inéditos no Brasil.
"Caderno de Viagem" é uma
edição fac-similar, na íntegra,
de um caderno de 66 páginas
que se encontra depositado na
Biblioteca Nacional da França
desde 1901, quando foi comprado de um antiquário. A maior
parte de suas figuras são esboços feitos nas ruas do Rio de Janeiro por volta de 1820, e antecipam as imagens de "Viagem
Pitoresca e Histórica ao Brasil",
publicado por Debret depois de
seu regresso à França.
"Esse caderno é inédito e
praticamente desconhecido",
afirma Julio Bandeira, 49, jornalista e doutor em história da
arte pela Universidade de Essex (Reino Unido), organizador
da edição. Ele notou uma citação à obra em "Brésil, Épopée
Métisse", livro de Mario Carelli
(1952-1994), de 1987, e a partir
daí foi em busca da obra.
Para Bandeira, "os esboços
têm autenticidade pelo seu lado direto, foram feitos nas calçadas. São o equivalente ao diapositivo de um fotógrafo, uma
primeira impressão, de uma
pureza que vai se diluindo."
Bandeira acredita que ainda
existam na França muitos trabalhos desconhecidos, além
dos mil estimados em que Debret registra sua passagem por
aqui, de 1816 a 1831. "Infelizmente ainda não existe o projeto de um catálogo raisonné do
artista", diz.
Exposição
O próprio Bandeira é curador
de uma exposição que abre no
dia 19 de outubro, no museu
Chácara do Céu, no Rio. Ela vai
confrontar 29 aquarelas do
acervo da instituição com 19
fac-símiles do "Caderno".
É mais uma oportunidade
para a redescoberta de um artista fundamental para o país.
"Debret consolida uma certa
tradição da literatura de viagem e é responsável pela construção dos tipos sociais dos primeiros anos do romance", diz
Jean Marcel Carvalho França,
professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Como o crítico de arte Rodrigo Naves coloca em "A Forma
Difícil" (Ática), "Debret permite cotejar certas implicações
entre arte e sociedade" no Brasil. Em primeiro lugar, pelas
transformações por que passa
sua obra, desde o neoclassicismo na França até as características ambíguas (e quase opostas
ao estilo francês) de suas aquarelas e gravuras brasileiras.
Segundo o crítico, as suas
obras no Brasil são caracterizadas por relações formais frágeis
e contornos pouco marcados e
definidos. "O resultado de sua
procura", diz Naves, "revela o
quanto a sociedade brasileira
tornava difícil o surgimento de
uma produção visual incisiva e
intensa" no país -fato que ainda marca as artes plásticas por
aqui, arremata.
A diferença fundamental
dessa nova sociedade em que
passa a viver Debret, para Naves, era a escravidão. Como o
ensaísta Roberto Schwarz havia feito para a forma do romance machadiano -que encontrava relação com a forma
da sociedade brasileira no século 19- Naves diz que Debret teve o mérito de descobrir essas
"formas fora do lugar".
"A existência da escravidão
impedia de vez qualquer tentativa de transpor como verdade
a forma neoclássica para o Brasil", observa ele.
Colaborou RAFAEL CARIELLO, da Reportagem Local
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