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Desejo é o fio condutor de peça com Debora Bloch
DA REPORTAGEM LOCAL
Na visão de Debora Bloch,
são "mulheres libertárias, que
rompem" as protagonistas dos
três monólogos curtos que ela
leva à cena em "Brincando em
Cima Daquilo".
Vejamos: em "Temos Todas a
Mesma História", a personagem faz sexo não-consensual
com o companheiro, engravida,
cogita o aborto, mas leva à frente a gravidez -e se despede
contando à filha uma historinha não muito infantil.
"Uma Mulher Sozinha" trancafia uma dona-de-casa na solidão de um apartamento em que
só tem por interlocutora a vizinha, até que ela se insurge contra o marido autoritário, o cunhado pervertido e o voyeur do
prédio ao lado. Por fim, "Volta
ao Lar" acompanha, com funk e
tudo, a "escapadela" sexual de
uma moça casada com o colega
de escritório.
Os textos foram escritos por
Dario Fo e Franca Rame na virada dos anos 70 para os 80 -e
defendidos pela primeira vez
no Brasil por Marília Pêra, em
montagem de 1984. Os ecos da
revolução sexual setentista e o
aumento de espaço para a denúncia de abusos contra a mulher não podem ter deixado as
histórias algo datadas?
"Há um discurso de um feminismo raivoso que é típico daquela época", concede Bloch.
"Mas há algo que fala do desejo,
do amor romântico, da fantasia
e das desilusões que é de toda
época, independentemente de
essas mulheres serem ou não
oprimidas."
Tramas atemporais
A atriz diz que teve certeza da
atemporalidade das tramas ao
apresentar uma versão preliminar do espetáculo na sede do
grupo Nós do Morro, no morro
do Vidigal, no Rio. "Ali, vi que a
realidade ainda era essa: mulher que apanha, mulher que é
trancada em casa, que fica grávida sem querer, que não tem
como abortar."
É o humor agridoce que se
deixa entrever nessas cenas de
desolação que interessa a
Bloch. "Nunca procuro a graça;
quero ir onde está o sentimento, o drama. Sei que estou fazendo uma comédia, mas acho
que é mais bonito e rico quando
você mostra o outro lado, a dor,
mesmo que a sua linguagem seja o humor. Essa é a comédia
que me interessa."
Encerrada a trajetória desse
que é seu primeiro monólogo, a
atriz pretende se voltar para
Shakespeare ou Beckett. Mas
sem pressa. "Agora, não consigo pensar em nada. Tem de esvaziar para encher de novo."
Incursões na direção ou na pena não estão descartadas. "Eu
invejo quem escreve. O ator
que escreve é um ser livre."
No cinema, ela faz par com o
francês Vincent Cassel em "À
Deriva", novo filme de Heitor
Dhalia ("O Cheiro do Ralo"). Na
TV, surgirá em breve na próxima novela das oito, "Caminho
das Índias", como uma professora que fica viúva.
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