São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Desejo é o fio condutor de peça com Debora Bloch

DA REPORTAGEM LOCAL

Na visão de Debora Bloch, são "mulheres libertárias, que rompem" as protagonistas dos três monólogos curtos que ela leva à cena em "Brincando em Cima Daquilo".
Vejamos: em "Temos Todas a Mesma História", a personagem faz sexo não-consensual com o companheiro, engravida, cogita o aborto, mas leva à frente a gravidez -e se despede contando à filha uma historinha não muito infantil.
"Uma Mulher Sozinha" trancafia uma dona-de-casa na solidão de um apartamento em que só tem por interlocutora a vizinha, até que ela se insurge contra o marido autoritário, o cunhado pervertido e o voyeur do prédio ao lado. Por fim, "Volta ao Lar" acompanha, com funk e tudo, a "escapadela" sexual de uma moça casada com o colega de escritório.
Os textos foram escritos por Dario Fo e Franca Rame na virada dos anos 70 para os 80 -e defendidos pela primeira vez no Brasil por Marília Pêra, em montagem de 1984. Os ecos da revolução sexual setentista e o aumento de espaço para a denúncia de abusos contra a mulher não podem ter deixado as histórias algo datadas?
"Há um discurso de um feminismo raivoso que é típico daquela época", concede Bloch. "Mas há algo que fala do desejo, do amor romântico, da fantasia e das desilusões que é de toda época, independentemente de essas mulheres serem ou não oprimidas."

Tramas atemporais
A atriz diz que teve certeza da atemporalidade das tramas ao apresentar uma versão preliminar do espetáculo na sede do grupo Nós do Morro, no morro do Vidigal, no Rio. "Ali, vi que a realidade ainda era essa: mulher que apanha, mulher que é trancada em casa, que fica grávida sem querer, que não tem como abortar."
É o humor agridoce que se deixa entrever nessas cenas de desolação que interessa a Bloch. "Nunca procuro a graça; quero ir onde está o sentimento, o drama. Sei que estou fazendo uma comédia, mas acho que é mais bonito e rico quando você mostra o outro lado, a dor, mesmo que a sua linguagem seja o humor. Essa é a comédia que me interessa."
Encerrada a trajetória desse que é seu primeiro monólogo, a atriz pretende se voltar para Shakespeare ou Beckett. Mas sem pressa. "Agora, não consigo pensar em nada. Tem de esvaziar para encher de novo." Incursões na direção ou na pena não estão descartadas. "Eu invejo quem escreve. O ator que escreve é um ser livre."
No cinema, ela faz par com o francês Vincent Cassel em "À Deriva", novo filme de Heitor Dhalia ("O Cheiro do Ralo"). Na TV, surgirá em breve na próxima novela das oito, "Caminho das Índias", como uma professora que fica viúva.


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