São Paulo, quinta, 30 de outubro de 1997.




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TEATRO
Produtora afirma que o espetáculo teria sido censurado por motivos políticos
Santos cancela peça de Plínio Marcos

LEONARDO CRUZ
free-lance para a Folha

A peça "O Assassinato do Anão do Caralho Grande", escrita por Plínio Marcos, teve suas três apresentações canceladas no Teatro Municipal Brás Cubas, em Santos. A montagem, dirigida por Marco Antonio Rodrigues, seria apresentada na cidade nos dias 7, 8 e 9 de novembro.
Segundo o próprio Marco Antonio Rodrigues, a secretária municipal de Cultura de Santos, Vilma Terezinha, teria cancelado a apresentação do grupo após ter se comprometido verbalmente a reservar as datas do teatro para a encenação de "O Assassinato do Anão do Caralho Grande".
"Tínhamos tudo acertado, mas quando fomos buscar a documentação, vimos que o pedido havia sido negado", afirma Nani de Oliveira, produtora do espetáculo.
"Eu até já tinha deixado um cheque caução, que foi devolvido, no valor de R$ 650, para garantir que o espaço seria nosso", diz Marco Antonio Rodrigues.
Para a produtora, o motivo principal do cancelamento é político. Rodrigues foi secretário de Cultura em Santos durante a gestão de David Capistrano Filho, do PT, na prefeitura (entre 92 e 96). O atual prefeito de Santos é Beto Mansur, do PPB."Eles não queriam que o teatro fosse utilizado por alguém da oposição, ligado ao PT", afirma Nani de Oliveira.
Para Marco Antonio Rodrigues, outro motivo para o veto à peça seria moral. "O texto do Plínio Marcos é forte e só o título já assusta muita gente", afirma.
A secretária municipal de Cultura de Santos, Vilma Terezinha, nega que tenha feito o acordo, dizendo que as datas citadas por Rodrigues já haviam sido prometidas à Federação Santista de Teatro Amador. "Em agosto deste ano, eu assumi um compromisso público para ceder o espaço para a apresentação das peças vencedoras de um festival de teatro amador da cidade", afirma Terezinha.
Segundo ela, o pedido de Rodrigues foi feito depois de o compromisso com a Federação Santista ter sido assumido.
Ela também nega que tenha havido qualquer tipo de censura política. "Isso é absurdo. Muitos dos organizadores da Federação Santista de Teatro Amador são ligados à administração anterior", diz Terezinha. "Não houve censura. Nós simplesmente não tínhamos mais espaço na agenda", completa.
Originalmente, os dias 7, 8 e 9 de novembro seriam utilizados para a realização de um festival organizado pela Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo, mas o festival foi cancelado e a Secretaria Municipal de Cultura de Santos teria aproveitado o cancelamento para saldar seu compromisso com a Federação de Teatro Amador da cidade.
Para o dramaturgo Plínio Marcos, autor de "O Assassinato do Anão do Caralho Grande", o que aconteceu em Santos foi "uma mistura de intriga política e censura ao texto". "O povo de Santos me adora, mas as autoridades me perseguem", diz o dramaturgo, que nasceu na cidade.



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