São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COREÓGRAFO TRAZ AO BRASIL SUAS MAIS NOVAS CRIAÇÕES

Béjart

Divulgação
Coreografia que Béjart apresentará a partir do próximo dia 9 no Teatro Municipal de São Paulo



Quatro espetáculos estão na turnê, que começa em SP, no dia 9, com o mais recente deles, "A Rota da Seda"

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Maurice Béjart completa um ciclo em "A Rota da Seda", que inaugura no dia 9, no Teatro Municipal de São Paulo, mais uma turnê do Béjart Ballet Lausanne pelo Brasil. Incluindo fragmentos de criações anteriores, neste espetáculo o coreógrafo faz sua mais intensa apologia à cultura oriental, que sempre esteve presente em sua obra.
Da cidade suíça de Lausanne, onde instalou, em 1987, o seu elenco (antes denominado Ballet do Século 20), Béjart falou à Folha, por telefone. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - O cruzamento cultural de diferentes civilizações sempre esteve presente em sua obra. "A Rota da Seda" é mais um resultado dessa afinidade?
Maurice Béjart -
"A Rota da Seda" representa o trabalho de toda uma vida. Na verdade, é uma obra que se construiu ao longo dos quase 30 anos de meu percurso artístico e de minhas viagens à Índia, Irã, Japão.
Durante minha trajetória, estudei música e cultura de origem iraniana, muçulmana, japonesa. Percebi que todo esse conhecimento me permitiria interpretar a rota de difusão da seda, de Veneza até a China. Após essa constatação, decidi fazer um balé que é uma viagem ao mesmo tempo cultural, metafísica, coreográfica e musical por diferentes etnias.

Folha - Na coreografia há danças de várias origens?
Béjart -
Sim, mas nada que seja folclórico. Inspirei-me em danças e músicas diversas, mas sempre usando meu próprio estilo.

Folha - O senhor encontra um significado especial nas interseções entre diferentes personagens, ambientes e épocas?
Béjart -
Sim, porque apesar das guerras, dos problemas econômicos e políticos, o mundo está se tornando, cada vez mais, uma entidade única. É necessário que os seres humanos se juntem para construir coisas em comum.

Folha - Sua ligação com o Oriente foi estimulada por seu pai, que era um filósofo especializado no pensamento oriental?
Béjart -
De fato, meu pai falava e escrevia em chinês e essa familiaridade fez com que o Oriente, para mim, nunca fosse algo longínquo, mas muito próximo. Quando jovem estudante, fiz minha primeira viagem à Índia, para onde parti sozinho. Depois, me interessei pela dança clássica e contemporânea, mas esse fundo oriental permaneceu em mim. Em toda a minha vida, preservei a conduta de peregrino, sempre viajando por países orientais.

Folha - Em 1960, o senhor fundou o Ballet do Século 20 sob a perspectiva do futuro e com a disposição de popularizar a dança. Como estão suas convicções agora?
Béjart -
Continuo acreditando que a dança deva permanecer popular, moderna, aberta para todas as gerações, idades e culturas. A dança não é uma arte fechada para alguns iniciados, mas uma expressão acessível à juventude, ao povo.

Folha - E o que senhor acha dos coreógrafos contemporâneos, que preferem se apresentar em salas pequenas, para platéias reduzidas?
Béjart -
É importante fazer experiências. Mas depois é preciso sair do laboratório, porque se não procurarmos tocar o povo, o país e o público em sua generalidade, ficamos muito introvertidos e isso não é bom.

Folha - Durante sua carreira, a Bélgica e a Suíça foram os países que acolheram seus elencos. O senhor se sente um exilado com relação à França?
Béjart -
Nasci na França por acaso. Para mim, a França não é mais importante do que Lichtenstein ou Nicarágua. Acima de tudo, sou um cidadão do mundo.

Folha - O senhor gosta de citar uma frase de Picasso, que dizia: "É preciso muito tempo para que nos tornemos jovens". O senhor se sente no auge da juventude?
Béjart -
(risada) Ainda não. Tenho muitas coisas para aprender.


Espetáculo: Béjart Ballet Lausanne
Quando: dias 9 e 10, às 21h (A Rota da Seda); dias 11, às 21h, e 12, às 18h (Introduction et Fragments; Le Manteau; Sept Danses Grecques)
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nš; tel. 0/xx/ 11/223-3022)
Quanto: R$ 30 a R$ 180



Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.