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Lucélia Santos mostra o luto do Timor Leste
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Uma cerimônia fúnebre marca
o começo do documentário "Timor Lorosae - O Massacre que o
Mundo Não Viu", dirigido por
Lucélia Santos. O ritual termina
com um "desluto" dos familiares,
seguido de uma grande festa. O
morto em questão era um seminarista assassinado num atentado
terrorista por milícias indonésias.
O fim de um luto e o começo de
uma nova era também estão retratados no título: "Timor Lorosae", no idioma nativo, significa
"lugar onde nasce o Sol". É esse o
nome que os timorenses defendem para a libertação de sua terra
natal do domínio da Indonésia,
desde 1975 presente na região.
Um terço da população -cerca
de 300 mil pessoas- foi morta na
disputa por independência. "A
crueldade dos indonésios pode
ser comparada ao que os nazistas
fizeram com os judeus", diz a diretora e atriz Lucélia Santos.
A cineasta acha que o mundo
não vê muitos massacres: "Os lutos e conflitos de diversos lugares
não chegam até nós. O Timor foi a
ponta de um iceberg naquele momento. Se não houvesse um "louco" -o documentarista Max
Stahl- para mostrar imagens do
massacre do cemitério de Santa
Cruz [em que 200 civis timorenses foram assassinados", em 1991,
acho que não existiria um timorense vivo". E compara à situação
atual: "É o que está acontecendo
no Afeganistão. Não mudou nada. Não se justifica o que os terroristas fizeram em 11 de setembro,
mas também é absurdo o que os
americanos estão fazendo".
Filmado em 40 dias e ao custo
de R$ 400 mil, Lucélia Santos dedica o documentário às mulheres
do Timor. "Logo percebi que o
longa era para elas. O filme é pontuado pela dor de todos, mas
principalmente pelo olhar das
mães. Todos sofrem, mas é a mulher que perde o marido, perde os
filhos e, com seu próprio corpo, é
condenada a passar por humilhações físicas e morais."
"É um filme sobre a morte, sobre perda. Segundo uma psicóloga da Unicef com quem conversei, o ser humano não suportaria
mais do que quatro perdas na vida. Não há um timorense que tenha menos de seis", diz.
Seu próximo projeto é rodar
uma minissérie de 25 episódios
sobre a relação das pessoas com a
terra. "Será uma co-produção. No
Brasil, enfocaremos a cultura do
café, na China, a do chá e, em Portugal, a do vinho."
TIMOR LOROSAE - O MASSACRE QUE O
MUNDO NÃO VIU - Direção: Lucélia
Santos. Produção: Brasil, 2001. Quando:
hoje, às 20h35, na Sala UOL; e dia 1º, às
14h20, no Cinearte.
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