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ARTES CÊNICAS
TEATRO
Roberto Lage encena texto do escritor, filósofo e dramaturgo franco-argelino sobre ato de violência na Rússia de 1905
Ágora aborda terrorismo em Camus
PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A inquietação artística que o terrorismo acarreta não é exclusiva
do nosso tempo. Uma obra com
mais de 50 anos já abordava o tema que hoje tantas leituras rende.
Trata-se de "Os Justos", de Albert Camus (1913-60), sobre a
qual não há notícias de encenação
no Brasil. A peça, montada pela
primeira vez em 1949, na França,
inicia temporada hoje no teatro
Ágora, em São Paulo, com direção de Roberto Lage.
A iniciativa de trabalhar com o
texto do escritor, dramaturgo e filósofo franco-argelino surgiu há
mais ou menos um ano. Ensaios
abertos foram realizados na semana passada, logo após um seminário em torno do legado do
criador de "O Estrangeiro", "A
Peste" e "O Mito de Sísifo" ter sido promovido pela companhia.
"Os Justos" se baseia num episódio ocorrido na Rússia, em
1905. Mostra um grupo de jovens
terroristas que pretendem assassinar um grão-duque opressor
dos opositores do czar e faz "uma
meditação filosófica sobre a legitimidade da violência", nos dizeres
do professor francês Jean-Yves
Guérin, presente ao evento sobre
Camus. O artista completaria 90
anos de idade em novembro.
Para Lage, 56, a peça enfoca um
ato derradeiro de "terrorismo individual", que terminou suplantado pelo "terrorismo de Estado".
"Camus humaniza os terroristas, mas não faz um julgamento
crítico, deixa a discussão em aberto para o espectador. E discute a
atitude da França em relação à
Argélia, a coisa do colonialismo e
a resistência argelina", afirma.
Roberto Lage focalizou a sua encenação na direção dos atores e
no aproveitamento das idéias do
texto. Para ele, "Os Justos" apresenta um realismo "híbrido".
"Há componentes realistas, mas
não sob o ponto de vista da construção de personagem. É um texto de tese, não de psicologismo.
As personagens não são construídas a partir de um perfil psicológico, são quase arquetípicas, mas
dentro de um contexto realista."
O encenador decidiu deslocar a
ação da peça de 1905 para uma
época indeterminada. Os figurinos da montagem do Ágora, criados pelos atores, buscam espelhar
a neutralidade temporal. A cenografia, de Rodrigo Paz, intenta sugerir os diferentes locais da trama
- um apartamento, um beco,
uma cela de prisão- com poucos
aparatos cênicos.
Referências da trilha sonora,
por meio de trechos de discursos
e princípios de temas musicais,
mencionam Stálin, Hitler, o AI-5,
Bush. "Os Justos" foi traduzido
por Fernando Paz.
OS JUSTOS. Texto: Albert Camus.
Direção: Roberto Lage. Com: Ágora
-Centro de Desenvolvimento Teatral
(Isadora Ferrite, Paulo Barcellos,
Maurício Inafre, Mario Tommaso, Carlos
Baldim, Luciano Brandão, Tairone
Cardoso, César Figueiredo, Cissa
Carvalho Pinto). Onde: teatro Ágora (r.
Rui Barbosa, 672, SP, tel. 0/xx/11/3284-0290). Quando: estréia hoje para
convidados, às 21h, e amanhã para o
público, às 21h; de qui. a sáb., às 21h, e
dom., às 19h. 14 anos. Quanto: de R$ 10 a
R$ 20.
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