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"O ÚLTIMO MITTERRAND"
Guédiguian discute o lugar do socialismo
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Último Mitterrand", do
politizado francês Robert
Guédiguian, é um filme sobre
idéias, sobre os contrastes que comandar a política e a vida pública
de um país -no caso, a França-
criam no interior de um homem,
sobre a importância da história e
da memória coletiva e sobre como as duas se interconectam.
O furor midiático e a desconfiança popular em torno do filme
na França ilustram a relação ambígua que sua sociedade, considerada democrática, tem com seus
governantes e com seus "grandes
personagens históricos" -ou,
expandindo o escopo do debate,
com seu passado recente.
Na França, como no Brasil, não
existe a tradição cinematográfica
de contar a história recente -seja
de modo engajado, seja com o
desprendimento do olhar artístico. A reação observada no país
antes do lançamento do filme, em
fevereiro, sobre François Mitterrand, presidente de 1981 a 1995, jamais seria vista nos EUA, onde o
lançamento de "Nixon", do polêmico Oliver Stone, um ano depois
da morte do também controverso
presidente, não aguçou paixões.
Antes de tudo, "O Último Mitterrand" conta com atuação sensível e extraordinária de Michel
Bouquet no papel do presidente
morto em 1995, pouco depois de
deixar o poder. Mas se trata de
uma obra que vai muito além dos
últimos 15 meses de sua vida.
Esse trabalho de Guédiguian,
autor dos excelentes "Marius e
Jeannette" e "A Cidade Está Tranquila", é um daqueles filmes ostensivamente sobre um tema específico, mas que, de fato, discutem vários temas ao mesmo tempo: política em geral, o lugar do
socialismo na sociedade, a história, a doença e a eternidade.
Na pele do jovem jornalista Antoine (o convincente Jalil Lespert), o diretor analisa a amplitude do legado de Mitterrand -real
e imaginário- para os franceses.
O personagem central, por sua
vez, debate a história recente francesa por meio de suas lembranças, não dos fatos tais quais ocorreram, segundo a história oficial.
É, sim, uma homenagem ao homem refinado que levou os socialistas à Presidência francesa pela
primeira vez. Assim, afloram
questões e mistérios que marcaram sua vida -desde a amizade
com o general Charles de Gaulle
até seu suposto elo com o regime
colaboracionista de Vichy na Segunda Guerra, passando por sua
agitada vida pessoal. Mesmo para
quem não conhece a história da
França, é um bom programa.
O Último Mitterrand
Direção: Robert Guédiguian
Quando: hoje, às 22h10, no Cine
Bombril; amanhã, às 21h40, no Reserva
Cultural; e dia 3, às 18h, na Sala UOL
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