São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2010

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O sertão de Rachel

Cem anos após o nascimento da autora de "O Quinze", reportagem da Folha visita Não me Deixes , fazenda de Rachel de Queiroz no interior do Ceará

Adriano Vizoni/Folhapress
Estação de trem perto do sítio de Rachel

MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A QUIXADÁ (CE)

"E nem chove, heim, Mãe Nácia? Já chegou o fim do mês... Nem por você fazer tanta novena..."
Foi assim, com a personagem Conceição queixando-se da seca, que Rachel de Queiroz iniciou o romance "O Quinze", há 80 anos.
É difícil não lembrar da frase quando se chega a Não me Deixes, fazenda de Rachel (1910-2003) próxima à cidade de Quixadá, no interior do Ceará.
A Folha visitou o lugar neste mês. Além dos 80 anos de publicação de "O Quinze", em 2010 também se celebra o centenário da escritora (nasceu em 17/11).
Lá, a queixa, desta vez real, era que há seis meses não chovia na região.
Como Conceição, a primeira das fortes figuras femininas que criaria ao longo da obra, Rachel também nasceu em Fortaleza, mas passou grande parte da vida no sertão cearense.
Tinha apenas 19 anos quando publicou "O Quinze", livro inspirado na seca histórica que abateu as fazendas de Quixadá em 1915. A prosa sóbria do romance tornou-se um marco do regionalismo dos anos de 1930.
Oitenta anos depois, ainda vem das páginas de "O Quinze" a melhor descrição que se pode fazer do sertão cearense para o visitante que pisa ali pela primeira vez.
"Verde, na monotonia cinzenta da paisagem, só algum juazeiro ainda escapo à devastação da rama; mas em geral as pobres árvores apareciam lamentáveis, mostrando os cotos dos galhos como membros amputados e a casca toda raspada em grandes zonas brancas."
Ainda criança, a autora ganhou do pai, Daniel, o pedaço de terra chamado de Não me Deixes.
A casa só seria construída em 1955. Está lá até hoje como a autora a deixou.
Parece até que o tempo, contrariando o poético nome do lugar, esqueceu-se daquele pedaço de terra e deixou-o isolado no meio do sertão.
Nas redondezas de Não me Deixes vivem hoje cerca de 20 pessoas. Quase todos são idosos, antigos trabalhadores da fazenda.
Na terra da escritora centenária, muitos são analfabetos ou apenas sabem ler e escrever o próprio nome.
Ali, um dos principais nomes da literatura brasileira é apenas a "mãe" Rachel.


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