São Paulo, Terça-feira, 30 de Novembro de 1999


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TEATRO
Atriz adapta texto do cineasta espanhol e convida Marília Pêra para dirigir montagem, que estréia em abril
Tricerri assume Diphusa, de Almodóvar

Daniel Guimarães/Folha Imagem
A atriz Christiane Tricerri, que vai montar "Patty Diphusa"


VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha


Para quem já interpretou Mara Tara e a rainha Titânia, sempre de peito aberto e cheio de amor para dar, o encontro com a personagem Patty Diphusa será um prazer desmedido para a atriz paulista Christiane Tricerri.
A outrora "musa" do cartunista Angeli ("Erótica, Tudo pelo Sensual", 88) e do diretor Cacá "Ornitorrinco" Rosset ("Sonho de uma Noite de Verão", 92) vai emprestar carne, osso e espírito para uma das personagens mais complexas que Pedro Almodóvar já pôs no papel e citou apenas uma vez na tela ("Labirintos da Paixão", 82).
"Patty Diphusa - Uma Comédia Pop", a peça, tem estréia prevista para abril do ano que vem, sob direção de Marília Pêra. Uma prévia do desbunde que vem por aí pode ser conferido hoje à noite, no ciclo Leituras de Teatro, promovido pela Folha.
Almodóvar criou sua personagem no início dos anos 80, quando escrevia contos para a revista "La Luna", em Madri, reunidos depois no livro "Patty Diphusa e Outros Textos", lançado em 91 e traduzido no Brasil no ano seguinte (ed. Martins Fontes, R$ 19,50, 188 págs.).
Patty ("páti" na pronúncia castelhana, e não "péti", que dá margem à "patricinha", de quem está a anos-luz de distância) é uma estrela de filmes pornô.
Uma mulher que vive intensamente sob o signo do prazer -"ingênua, grotesca, invejosa, narcisista, amiga de todo mundo e de todos os prazeres, sempre disposta a ver o lado bom das coisas", como define o cineasta.
Tricerri, 38, recorre a uma frase da própria Patty para defini-la: "Apesar de ser uma "sexy symbol" internacional, eu sou uma terrível sentimental", recita, com a voluptuosidade de quem anseia pelo palco (ela não pisa em um há dois anos, período dedicado à gravidez e nascimento de Isadora).
A atriz desejava montar o texto desde 94. Capitulou por causa de projetos como "Comédia dos Erros", naquele mesmo ano - última montagem com o Ornitorrinco-, e "Quíntuplos" (96), texto do porto-riquenho Luis Rafael Sánchez, na qual foi dirigida por Maria Alice Vergueiro.
Responsável pela adaptação, Tricerri, que já escreveu poemas eróticos ("Figos-da-Índia", 93, ed. Arte Pau-Brasil, R$ 12, 62 págs.), vê atualidade em Patty Diphusa, a qual relaciona à cena clubber dos anos 90 no Brasil. "Se o Amodóvar diz que os anos 70 da Nova York de Andy Warhol chegaram nos 80 em Madri, então por aqui eles chegaram nos 90", acredita.
Na sua opinião, o público gay também vai simpatizar. "Patty é uma mulher ao extremo, aquela que só pode ser encontrada na figura do travesti", especula. "As mulheres ainda têm certas inibições em relação ao que elas realmente são."
E não faltará contundência. Na periferia do glamour, Patty também enfrenta estupros e outras formas de violência.
Inédita nos palcos brasileiros, a peça já foi montada no México.


O colunista José Simão está em férias


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