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TEATRO
Atriz adapta texto do cineasta espanhol e convida Marília Pêra para dirigir montagem, que estréia em abril
Tricerri assume Diphusa, de Almodóvar
Daniel Guimarães/Folha Imagem
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A atriz Christiane Tricerri, que vai montar "Patty Diphusa" |
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
Para quem já interpretou Mara
Tara e a rainha Titânia, sempre de
peito aberto e cheio de amor para
dar, o encontro com a personagem Patty Diphusa será um prazer desmedido para a atriz paulista Christiane Tricerri.
A outrora "musa" do cartunista
Angeli ("Erótica, Tudo pelo Sensual", 88) e do diretor Cacá "Ornitorrinco" Rosset ("Sonho de uma
Noite de Verão", 92) vai emprestar carne, osso e espírito para uma
das personagens mais complexas
que Pedro Almodóvar já pôs no
papel e citou apenas uma vez na
tela ("Labirintos da Paixão", 82).
"Patty Diphusa - Uma Comédia
Pop", a peça, tem estréia prevista
para abril do ano que vem, sob direção de Marília Pêra. Uma prévia
do desbunde que vem por aí pode
ser conferido hoje à noite, no ciclo
Leituras de Teatro, promovido
pela Folha.
Almodóvar criou sua personagem no início dos anos 80, quando escrevia contos para a revista
"La Luna", em Madri, reunidos
depois no livro "Patty Diphusa e
Outros Textos", lançado em 91 e
traduzido no Brasil no ano seguinte (ed. Martins Fontes, R$
19,50, 188 págs.).
Patty ("páti" na pronúncia castelhana, e não "péti", que dá margem à "patricinha", de quem está
a anos-luz de distância) é uma estrela de filmes pornô.
Uma mulher que vive intensamente sob o signo do prazer
-"ingênua, grotesca, invejosa,
narcisista, amiga de todo mundo
e de todos os prazeres, sempre
disposta a ver o lado bom das coisas", como define o cineasta.
Tricerri, 38, recorre a uma frase
da própria Patty para defini-la:
"Apesar de ser uma "sexy symbol"
internacional, eu sou uma terrível
sentimental", recita, com a voluptuosidade de quem anseia pelo
palco (ela não pisa em um há dois
anos, período dedicado à gravidez e nascimento de Isadora).
A atriz desejava montar o texto
desde 94. Capitulou por causa de
projetos como "Comédia dos Erros", naquele mesmo ano - última montagem com o Ornitorrinco-, e "Quíntuplos" (96), texto
do porto-riquenho Luis Rafael
Sánchez, na qual foi dirigida por
Maria Alice Vergueiro.
Responsável pela adaptação,
Tricerri, que já escreveu poemas
eróticos ("Figos-da-Índia", 93, ed.
Arte Pau-Brasil, R$ 12, 62 págs.),
vê atualidade em Patty Diphusa, a
qual relaciona à cena clubber dos
anos 90 no Brasil. "Se o Amodóvar diz que os anos 70 da Nova
York de Andy Warhol chegaram
nos 80 em Madri, então por aqui
eles chegaram nos 90", acredita.
Na sua opinião, o público gay
também vai simpatizar. "Patty é
uma mulher ao extremo, aquela
que só pode ser encontrada na figura do travesti", especula. "As
mulheres ainda têm certas inibições em relação ao que elas realmente são."
E não faltará contundência. Na
periferia do glamour, Patty também enfrenta estupros e outras
formas de violência.
Inédita nos palcos brasileiros, a
peça já foi montada no México.
O colunista José Simão está em férias
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