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TELEVISÃO
Mesmo após sucesso, Zezé Motta diz ser difícil fugir de estereótipos; na nova novela das 8, será uma mãe-de-santo
"Já cheguei a recusar papel de empregada"
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo atores negros consagrados sentem dificuldade em trilhar
uma carreira de sucesso na TV.
Zezé Motta, por exemplo, tem 32
anos de carreira, já fez grandes interpretações em novelas e, mesmo assim, não consegue fugir de
papéis quase sempre oferecidos a
negros. Em "Segredos do Mar",
próxima novela das oito da Globo, ela será uma mãe-de-santo.
"Fiquei decepcionada no princípio e pensei em recusar, porque
já havia feito uma mãe-de-santo
em outra novela. Mas depois me
disseram que o papel seria interessante, que a personagem terá
vida própria e será cômica. Fiquei
mais animada e aceitei", disse.
Zezé fundou, há 15 anos, a ONG
Cidan (Centro de Informação e
Documentação do Artista Negro), que já tem catalogado o currículo de 380 atores (www.cidan.org.br). Sua própria história a levou a tomar essa decisão.
"Logo no começo da carreira,
percebi que a barra era pesada,
que eu teria de fazer de tudo."
Nos bastidores, Zezé diz que já
ouviu todo tipo de coisa. "Um diretor me disse que não estava autorizado a pôr negros na novela.
Lembro-me também de uma vez
em que passei um tempo nos
EUA com uma peça que fez muito
sucesso. Quando voltei, fui procurar emprego na Tupi. Uma "colega", branca, me disse: "Fique tranquila. Vão começar a gravar duas
novelas. Não é possível que não
tenha nenhuma empregada"."
No auge de sua carreira, chegou
a recusar o papel de empregada
doméstica. "O diretor tentou me
convencer, dizendo que se eu tivesse essa atitude nunca mais faria TV. Mas mantive a decisão."
Maria Ceiça, que hoje está em
"Uga Uga" e fez o papel de uma
artista plástica em "Por Amor",
quando Manoel Carlos abordou o
preconceito racial, diz que sonha
em ser protagonista. "Mas para
nós as coisas são difíceis. Não
conseguimos dar uma continuidade à carreira e só fazemos novela de dois em dois anos", diz.
Em "Laços de Família", da Globo, a atriz Talma de Freitas faz o
papel da empregada de Helena
(Vera Fischer), o que, para o autor
de "A Negação do Brasil", é uma
prova de que "nada mudou".
Luís Erlanger, diretor da Central
Globo de Comunicações, diz que
a questão do negro é uma das
preocupações da casa. "Mas a novela reflete a situação do país.
Quantos negros existem na redação da Folha? Quantos são empresários, médicos? Infelizmente
essa é a nossa realidade."
Recentemente, a Globo produziu gratuitamente um comercial
para a ONG Cidan e o exibiu algumas vezes em 20 de novembro,
Dia da Consciência Negra.
(LAURA MATTOS)
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