COLUNISTA DA FOLHA

Dois meses antes de a caixa do Nirvana aparecer -e no calor da eleição presidencial americana-, o baixista aposentado Krist Novoselic, 39, lançou o livro "Of Grunge and Government: Lets Fixs This Broken Democracy".
O livro é uma espécie de autobiografia de Novoselic, que mostra o comprometimento político que ele e a banda que ajudou a formar sempre demonstraram ter, muito além da música revolucionária que fizeram.
Por causa do ativismo de Novoselic e companheiros, o Nirvana foi uma das poucas bandas gigantes a tocar regularmente a favor de causas como aborto (Rock for Choice), sendo simpático aos direitos gays e para levantar fundos de ajuda às mulheres bálcãs, para citar alguns exemplos.
"Essas últimas eleições presidenciais mostraram o quanto as pessoas estão desconectadas de assuntos políticos, do governo. E, com todo o alcance que eu obtive com a música e com o próprio poder que a música tem para conectar pessoas, acredito que aqui existe uma analogia possível. Toda vez que a música está chata, previsível e desinteressante, vem uma "new wave" e devolve energia e entusiasmo à música. Existem claros sintomas de que nossa democracia está em crise, chata e desinteressante. Estou apenas, com meu livro, fazendo algumas proposições para as pessoas considerarem, para ver se isso ajuda essa "new wave" política chegar de uma vez e nos ajudar a ter um país mais justo", afirmou Novoselic em entrevista por e-mail, concedida depois de acertado que ele não teria de falar sobre Nirvana e a caixa lançada.
Novoselic, que anunciou sua retirada da música no ano passado, depois de duas tentativas malsucedidas de uma carreira pós-Nirvana (com as bandas Sweet 75 e Eyes Adrift), fundou em 1995 a Joint Artists and Music Promotions Political Action Comittee, acreditando poder fazer boa política com boas ações na música.
A Jampac é uma ativa organização preocupada em melhorar a situação política e social da comunidade musical do Estado de Washington, onde vive. Luta pela oxigenação das rádios, confrontando entidades que costumam banir do ar músicas e letras "proibidas", por mais apresentações beneficentes com grandes bandas e pela criação de shows para todas as idades (e não apenas para maiores de 18 anos), entre outras atividades. Novoselic tem planos de se candidatar a governador do Estado.
O músico defende em seu livro que os EUA precisam passar por profundas reformas eleitorais e dar ao povo americano mais opções de escolha em quem votar, não só os que indicam republicanos ou democratas.
"O que eu quero mesmo é que meu Estado e meu país olhem para o futuro, sigam para a frente. Vivemos hoje uma era política enfadonha, própria para que pessoas que não escolhemos venham dizer coisas estúpidas para fazermos. E a música, que tem o poder de unir as pessoas seja em torno de uma causa específica ou como mero passatempo, é um bom caminho para mudanças", defende o ex-baixista do Nirvana. "E uma hora dessas toda essa crescente mobilização da classe artística, principalmente a musical, vai resultar numa mudança política efetiva." (LR)